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Educação em realidade virtual ainda tem muitos desafios pela frente

Em debates durante a Oculus Connect, feira do Facebook dedicada ao assunto, professores e desenvolvedores compartilharam obstáculos e exemplos de sucesso da tecnologia na sala de aula

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Levar os alunos para uma excursão de história no Egito Antigo. Fazê-los entrar em uma célula e conhecê-la com detalhes, indo até o código genético. Ver grupos de alunos de arquitetura, engenharia e design colaborando para resolver problemas de construção. As aplicações de realidade virtual na educação podem ser inúmeras, mas a tecnologia ainda tem muitos desafios pela frente até conseguir ser adotada de forma ampla por instituições de ensino ao redor do mundo. Essas foram as conclusões de diversos debates realizados na Oculus Connect, feira dedicada à realidade virtual (VR) realizada pelo Facebook nesta semana em San José, nos Estados Unidos. 

Em uma das principais mesas, professores de instituições como a Universidade Stanford, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e o departamento de escolas públicas de Seattle discutiram como aplicam a tecnologia dentro da sala de aula. O primeiro desafio, na visão da professora de ciências Laura McGinty, que “suja os sapatos dando aula em Seattle há 16 anos”, é conseguir trazer experiências que sejam acessíveis a todos os alunos. “Realidade virtual é sobre imersão e empatia, se sentir em outro lugar. Quando vou dar uma aula com essa tecnologia, preciso ter certeza de que a classe inteira é capaz de chegar aonde imagino”, disse. 

Entender que cada aluno é diferente é um dos principais desafios, dizem os professores Foto: Pixabay

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É algo mais complexo do que parece: “é preciso levar em consideração as diferentes histórias e capacidades de cada aluno, e isso inclui trajetórias pessoais, crenças, gênero, uma série de questões”, avaliou Hassan Karaouni, responsável pelo desenvolvimento de tecnologias de educação para VR dentro do Facebook. Segundo o especialista, não é só por ter algum tipo de tecnologia que o conteúdo será atrativo para os estudantes. “Experiências interativas são muito mais interessantes que as visuais, porque geram conhecimento. Aquilo que é passivo acaba cansando”, afirmou. 

Responsável pelo laboratório de ensino do MIT, o professor Dan Roy foi na mesma linha: “uma boa experiência é aquela que gera curiosidade no aluno, algo especialmente vital no Ensino Médio, quando a pergunta básica sobre cada aula é: ‘por que eu tenho que aprender isso?”. Segundo ele, porém, há benefícios óbvios que só a imersão traz: ao inserir os estudantes dentro de um jogo no qual é preciso entender porque uma célula está doente, ele consegue tornar o elemento básico do corpo humano mais palpável para os estudantes. “Num livro, uma célula é bastante limitada. Com realidade virtual, podemos mostrar quão grandes são, quantas coisas estão lá, a posição relativa entre elas, vamos muito além da simplificação didática.” 

Outro desafio, na visão dos educadores, está em formar os responsáveis por escoar a experiência para os alunos: os professores. “O segredo é deixá-los testar a tecnologia e permitir que eles decidam se podem ensinar ou não com aquilo. Foi o que aconteceu comigo”, diz McGinty, que começou a usar realidade virtual em suas aulas há pouco mais de um ano. Segundo ela, não será algo tão difícil quanto parece. “O processo de transformação será parecido quando os computadores e os iPads chegaram às escolas. Insistam em quatro pontos: colaborem, ouçam, aprendam e persistam. É isso que vai fazer a diferença.” 

Não é preciso ter um par de óculos por aluno, dizem professores

Entre os anos 1990 e 2000, quando os computadores pessoais começaram a se popularizar no Brasil, virou moda entre as escolas particulares dizerem que tinham “um PC por aluno” disponível nas aulas de informática. E será que o mesmo é necessário na realidade virtual? Para os professores presentes na discussão na Oculus Connect, não é verdade. “Eu não preciso de uma sala com todo mundo usando óculos ao mesmo tempo. Isso seria desenvolver uma habilidade antiga, focada na tecnologia”, disse McGinty. 

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Para a professora de Seattle, a realidade virtual pode ajudar a desenvolver conhecimentos mais interessantes para os profissionais do século XXI, como a capacidade de comunicação e colaboração. A fim de gerar esse tipo de interação, ela costuma dividir os alunos em pequenas equipes: um deles utiliza os óculos de realidade virtual, enquanto os outros buscam “facilitar” a experiência, cooperando com ele em tarefas. “É algo que gera no aluno a vontade de falar sobre o que está acontecendo ali, e isso muda o conhecimento.” 

Já quando se trata de experiências no nível superior, a relação é diferente, como contou a professora Renate Fruchter, de Stanford: ela é responsável por uma aula que une arquitetos, engenheiros e profissionais de design em um time multidisciplinar, espalhado por 12 universidades e com alunos de 15 países. 

A meta? Fazê-los colaborar juntos, no mesmo ambiente, para resolver problemas complexos de construções em universidades, como prédios que resistam a enchentes e furacões. Segundo ela, a realidade virtual é vital não só para testar condições que seriam muito caras de se fazer na vida real, mas também para diminuir barreiras entre as áreas. “Com a tecnologia de imersão, geramos empatia e fazemos um engenheiro perceber o que é o desafio do arquiteto – e vice-versa.” 

*O jornalista viajou a San José (EUA) a convite do Facebook

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