‘Empresas trabalham em carros voadores’, diz 'pai' do carro sem motorista

Criador dos carros sem motorista,Sebastian Thrun faz previsões sobre próximas grandes inovações

PUBLICIDADE

Aceleração.'Temos de continuar aprendendo', diz Thrun, ao afirmar que só 1% das tecnologias foram inventadas até agora 

Aos 49 anos, Sebastian Thrun é um homem irrequieto. Alto e calvo, um quê tímido, apesar dos muitos anos no Vale do Silício ainda não perdeu o sotaque de sua Alemanha natal. É uma lenda. O pai do carro autônomo. Um dos maiores especialistas em robótica.

PUBLICIDADE

Fundador do Google X, laboratório responsável pelos projetos mais arrojados da empresa. Professor de ciência da computação da Universidade de Stanford. E, agora, criador da Udacity, recém-chegada ao Brasil. Confira a seguir trechos da entrevista:

Quando poderemos comprar um carro autônomo?

De certa forma, já se pode comprar um hoje, o modelo de luxo da Tesla. Eu tenho um. Já houve momentos, na estrada, em que o piloto automático me tirou de acidentes. Os indícios são de que o carro é mais seguro. Apesar disso, já houve uma batida com vítima fatal. Será interessante ver como o governo americano lidará com isso. Carros mais baratos devem chegar ao mercado em cinco anos. Até o da Apple.

Você confirma que a Apple está trabalhando em um carro?

Publicidade

Sim. Ninguém diz oficialmente, mas é claro que está. Os carros, hoje, são como aquele celular antigo da Motorola, o Razr. Era um ótimo aparelho. Mas não tinha mapas, navegador ou câmera. Imagine o salto que existe entre um Razr e um iPhone. Seu carro, então, terá telas de toque, vai falar com você. Enquanto o carro anda, você dita seus e-mails. Além de esse carro torná-lo mais eficiente, ainda por cima é bonito. Você não quer um carro assim? Eu quero.

A Apple vai criar esse carro?

Essa é uma pergunta em aberto. No momento, do ponto de vista da inovação, o melhor carro que existe à venda é o Tesla. É um carro criado no Vale do Silício. É metade computador, metade automóvel. O que fazia a diferença entre carros eram suspensão e motor. O futuro é um carro integrado com o telefone. E as empresas tradicionais, em Detroit, ficaram para trás.

Como essa inovação mudará o mundo?

A verdadeira revolução é que você não terá mais um carro. Imagine a ida ao trabalho. Você sai de casa, chama um veículo pelo celular. Ele vem, você entra, salta no destino final e dá adeus. Os carros estão parados 97% do tempo. Temos carros demais.

Publicidade

Como as cidades vão mudar?

A maioria dos estacionamentos deixarão de ser necessários. As ruas ganharão espaço. Se transporte se tornar um serviço, precisaremos de apenas 20% do número de carros que temos rodando hoje no mundo. Então talvez a grande empresa do setor se torne o Uber.

A Udacity, sua nova empresa, ensina programação de computadores em cursos ou gratuitos ou baratos pela internet. Seu plano em longo prazo é ambicioso: dobrar o PIB do mundo. Como?

Dois terços da população mundial não têm acesso a uma grande universidade. Essas pessoas não são menos inteligentes ou menos ambiciosas. A ideia da Udacity é levar educação para todos. Educação é a chave para a prosperidade.

Mas muitas dessas pessoas não têm acesso sequer à educação básica.

Publicidade

O que vai dobrar o PIB do mundo é a democratização do ensino. Nosso foco é capacitar pessoas, de todos os países, para que consigam bons empregos nas novas indústrias. Mas muitas outras empresas estão surgindo com foco em educação básica. A educação vai mudar desde o ensino infantil.

Estamos vivendo um período de aceleração das mudanças?

De todas as tecnologias interessantes que temos para inventar, só 1% já surgiu. Há 300 anos, a maioria das pessoas vivia no campo. Não havia muitos intelectuais. Livros eram raros e o trabalho era braçal. Mas aí vieram as máquinas a vapor, que assumiram a labuta pesada. Inventamos profissões novas. Hoje, a maioria de nós trabalha com a mente em escritórios. Mas muito de nosso cotidiano é repetitivo. Computadores poderão assumir essa parte. Isso vai nos libertar para fazer outras coisas.

Que outros avanços tecnológicos em curso o sr. destaca?

Tem muita gente trabalhando com a cura do câncer. Um dos caminhos já investigados é a detecção bastante cedo de certos tipos de tumor. Em Stanford, estão usando as simples câmeras de iPhones para detectar cânceres de pele precocemente. Tecnicamente poderemos erradicar a maioria dos cânceres letais em 20 anos.

Publicidade

O que mais?

Há empresas trabalhando em carros voadores. Não há motivo para só termos carros autônomos no chão.

Parece divertido.

E você está rindo, não é? Mas quando falei em veículos autônomos pela primeira vez, há dez anos, até gente que conhecia a tecnologia automobilística ria. Achavam que eu era esse cara maluco da Alemanha com ideias mirabolantes. Hoje todo mundo leva a sério porque a tecnologia já está pronta. Teremos carros voadores. Também acredito que teremos implantes em nossos cérebros. Resolvendo problemas da velhice, poderemos viver o dobro do tempo. Resolvendo o problema da fusão, teremos energia infinita sem encostar em combustíveis fósseis. Isso não está longe.

*O jornalista viajou a Mountain View a convite da Udacity

Publicidade