Falência do Silicon Valley Bank seca o dinheiro para startups

Sem linha de crédito, empresas temem baixa avaliação e falta de cheques ainda maior

PUBLICIDADE

Por Erin Griffith

NEW YORK TIMES - Ao longo das últimas duas semanas, enquanto reguladores americanos se esforçavam para encontrar um comprador para o Silicon Valey Bank (SVB), as empresas que dependiam da instituição para linhas de crédito tentaram garantir uma nova fonte para suprir a vez do considerado “banco das startups”. Os investidores, receosos com o risco, têm optado cada vez mais por ficar de fora dos cheques. Algumas empresas jovens estão fazendo tudo o que podem para evitar a angariação de novos fundos e assim não precisar encarar avaliações menores. O resultado é que um ambiente hostil para as startups de tecnologia ficou rapidamente ainda pior.

PUBLICIDADE

“As pessoas estão percebendo que provavelmente as coisas não vão melhorar”, disse Mathias Schilling, investidor da empresa de capital de risco Headline. “Foi um grande choque para o sistema.”

Segundo ele, a corrida aos bancos que levou à falência do SVB, divulgada em 17 de março, comprovou o quanto o medo já estava presente no mercado. Os investidores não teriam desencadeado tal pânico se já não estivessem no limite, afirmou.

A falência do SVB não foi causada diretamente pela retração econômica no setor de tecnologia, e as startups com dinheiro na instituição não vão perder seus depósitos, pois o Departamento do Tesouro e o Federal Reserve acabaram assegurando todos os depósitos do SVB. Mas a implosão da instituição aconteceu após uma queda de 61% no financiamento de risco nos últimos três meses de 2022 em relação ao ano anterior, de acordo com o PitchBook, que acompanha o mercado das startups. Kyle Stanford, analista do PitchBook, disse esperar que a falência do SVB pudesse “precipitar” a desaceleração do mercado que já estava acontecendo.

Publicidade

“Estamos em uma desaceleração de risco há um ano”, disse ele. “Isso é apenas o tipo de problema extra que o mercado não precisava.”

Em uma pesquisa com 870 fundadores realizada este mês pela empresa de capital de risco NFX, 59% disseram que a falência do SVB tornaria um mercado de captação de recursos já difícil ainda mais desafiador. No mesmo estudo, 22% afirmaram estar preocupados com a possibilidade de não conseguirem levantar fundos este ano.

A Techstars, uma empresa de investimento para startups em estágios iniciais que já apoiou 3,5 mil empresas, aconselhou as companhias a conversarem com seus acionistas e conseguir mais capital antes de lançarem ofertas a novos investidores, disse a CEO Maëlle Gavet. A Techstars também tentou diminuir as expectativas dos empresários quanto ao valor de suas empresas, encorajando-os a não pensar nas avaliações mais baixas como um fracasso, mas como um sinal positivo de que alguém está disposto a investir. Maëlle disse esperar que muitas conversas sobre a venda ou fechamento de portas de startups aconteçam em breve. “Toda essa coisa do SVB criou uma sensação de perigo maior”, disse ela.

Falta de grana

Bijan Salehizadeh, investidor com participações em uma dúzia de fundos de capital de risco, disse que de um quarto a um terço das empresas apoiadas por seus fundos ficarão sem dinheiro nos próximos seis meses. Ele chamou este de “o pior momento na memória recente para arrecadar novos fundos de risco” e disse ter visto muitos investidores “ficarem de braços cruzados” recentemente porque estavam apreensivos.

Publicidade

Ayham Ereksousi estava planejando levantar US$ 4 milhões para sua startup, a Stomio, que oferece softwares para ajudar as empresas a testar novos produtos com seus clientes. Mas ele diminuiu suas expectativas. Entrou em contato com mais ou menos oito investidores que manifestaram interesse em investir na empresa no final do ano passado. No entanto, nas últimas semanas, enquanto tentava captar fundos, muitos não responderam ou disseram ter mudado suas estratégias de investimento.

SVB declarou falência em 17 de março deste ano Foto: Jeff Chiu/AP Photo

Agora, Ereksousi está considerando angariar menos dinheiro de seus atuais investidores e tentar uma nova rodada de arrecadação de fundos maior no próximo ano. Este ano provavelmente será um “fracasso”, disse ele, e a preocupação com a saúde dos bancos está “sendo um balde de água fria em todo o ecossistema de financiamento”.

Se as startups não puderem levantar fundos de risco, restarão poucas tábuas de salvação disponíveis. A volatilidade do mercado de ações tornou as ofertas públicas iniciais de ações (IPO) praticamente impossíveis, enquanto as gigantes da tecnologia estão sob escrutínio antitruste e enfrentam suas próprias pressões financeiras.

Lacuna

O SVB oferecia a muitas startups uma forma de crédito que outros bancos consideravam arriscada demais, pois as empresas jovens costumam não ser lucrativas. O crédito, normalmente assegurado pelo capital de risco de uma startup, ajudava as empresas a fazer o dinheiro render até a próxima rodada de financiamento.

Publicidade

PUBLICIDADE

“É outra fonte de capital que está recuando”, disse Zane Carmean, analista do PitchBook, em uma conferência online recente para investidores intitulado “A música parou?”.

Jonathan Nelson, fundador da HF.Capital, antes era um capitalista de risco e tem uma carteira com 75 investimentos. Antes da derrocada do SVB, ele disse a essas empresas que o financiamento poderia voltar a fluir outra vez a partir do fim de março. Agora ele recomenda que elas esperem até setembro para captar fundos. Aquelas com uma necessidade urgente de capital talvez tenham que descobrir uma maneira de se tornar lucrativas, disse ele.

Esse é o seu plano para a HF.Capital. Nelson queria usar US$ 2,5 milhões para garantir licenças regulatórias para um software que permitiria a negociação internacional de ações. Mas com os investidores ficando de fora, ele agora planeja “alavancar” a empresa, ou fazê-la crescer usando os lucros em vez do financiamento externo.

“É apenas um obstáculo bastante difícil no meio do caminho”, disse ele. “Ninguém está assinando cheques neste momento.”/TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.