Conhecida por um serviço de assinatura de academias e atividades físicas, a startup brasileira Gympass recebeu um apoio de peso: nesta quarta-feira, 12, a empresa anuncia uma rodada de aportes avaliada em US$ 300 milhões. O investimento é liderado pelo grupo japonês SoftBank – que tem colocado uma enxurrada de dinheiro no mercado latino-americano, com cheques milionários para as startups de entrega Loggi e Rappi. “Receber uma rodada de fundos de fora com esse tamanho é a validação de que nosso esforço está dando certo”, diz Cesar Carvalho, presidente executivo global da Gympass ao Estado.
Com o investimento, a Gympass confirma seu status de unicórnio, esperado pelo mercado desde o início do ano – o jargão é usado no ramo para empresas avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão. Com os novos recursos, a Gympass pretende avançar seus esforços em inteligência artificial e continuar sua expansão internacional – hoje, está em 14 países. “Estamos de olho na Ásia. Queremos ter escala global”, diz Carvalho. “Mas ainda é cedo: abrir um novo mercado sempre custa mais caro do que parece.”
Além do Brasil, a empresa está nos EUA, na América Latina e na Europa, com uma rede de 47 mil academias conveniadas. Só no mercado brasileiro, a Gympass tem parceria com 21 mil estabelecimentos, em 1.459 cidades – ao todo, o País possui cerca de 36 mil academias. A startup não revela o número de usuários totais, mas tem mil funcionários – metade deles no Brasil, onde concentra o desenvolvimento de tecnologia.
Empresa nasceu atendendo usuário final, mas mudou modelo
Fundada em 2012, a Gympass nasceu de um incômodo de Carvalho: consultor, ele viajava bastante pela empresa, o que atrapalhava sua rotina de exercícios. Nem todos os destinos tinham academias que ofereciam uso avulso. Por outro lado, ele se acostumou a ver esteiras e pesos sem uso – e ociosidade, no vocabulário das startups, é sinônimo de oportunidade. Junto a outros dois sócios, e por meio de uma rede de academias conveniadas, criou um app no qual o usuário poderia escolher um local para treinar e só pagar pelo uso diário.
A empreitada, porém, só ganhou corpo no ano seguinte, quando a empresa mudou seu modelo de negócios: passou a vender seus serviços em formato de assinatura para outras companhias, que poderiam oferecer um passe da Gympass como benefício aos funcionários. “Uma companhia nos procurou para uma parceria: eles já ofereciam atividade física aos empregados e muitos usavam o Gympass”, diz Leandro Caldeira, presidente executivo da startup no Brasil. “Naquela venda, acabamos faturando mais do que no ano todo com os clientes pessoa física.”
Da musculação à hot ioga: mais de 890 modalidades
Hoje, o modelo da Gympass funciona em três pontas: após fechar contrato com a startup, uma empresa coloca o plano de assinatura de atividades físicas à disposição de seus funcionários.
Os empregados, por sua vez, podem optar por diversas faixas de preço, em regime de coparticipação – o plano mais barato custa R$ 30 por pessoa, mas opções mais caras permitem o uso de academias de alto padrão. Com um plano ativo, é possível fazer aulas em qualquer academia da rede no mundo – de musculação e esteira a balé, tênis e hot ioga, incluindo também lutas e danças.
A promessa da Gympass é de que, no fim das contas, o preço pago pelo usuário oferece desconto de até 75% sobre a mensalidade de uma academia.
Para oferecer seus serviços, a Gympass pede que os clientes tenham ao menos cem funcionários e o benefício esteja disponível para todos. “Nosso argumento é de que, ao praticar atividade física, os gastos com plano de saúde diminuem e as faltas dos funcionários também”, diz Caldeira.
Já as academias recebem por um valor médio de utilização a cada sessão de exercícios feita por um usuário da Gympass – o modelo de remuneração que flutua, organizado por um algoritmo da própria empresa. “Trouxemos um novo público para as academias: 80% dos usuários da Gympass não praticavam atividade física anteriormente”, afirma Caldeira. Mais de 2 mil companhias já usam os serviços da startup brasileira, como a empresa de telemarketing Atento, os varejistas Pão de Açúcar e Tesco, a montadora Volkswagen e o banco Itaú.
Desafios para expansão internacional
Na visão do empreendedor Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups, o aporte anunciado nesta quarta-feira faz jus às ambições da Gympass, dona de um modelo bastante original no mundo. “É um caso raro de empresa brasileira que soube exportar inovação para outros países, mas ainda tem bastante espaço para crescimento”, diz. “O aporte da SoftBank tem como intenção viabilizar essa expansão o mais rápido possível.”
Para breve, o plano da empresa é inserir mais inteligência artificial em seu aplicativo – aprimorando, por exemplo, as sugestões de atividades e academias mais afeitas ao perfil do usuário. Além disso, a empresa olha atenta para os mercados chinês e indiano, nos quais há cerca de 1,3 bilhão de trabalhadores, segundo dados do Banco Mundial referentes a 2018.
Será um desafio, afirma Matos. “Os mercados asiáticos têm desafios culturais e regulatórios enormes para os padrões ocidentais – ainda mais para uma empresa que depende de convencer muitos agentes locais, como funcionários de RH e donos de academias”, afirma o empreendedor. Para Rafael Ribeiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), há dúvidas sobre como o modelo da empresa vai se estabelecer no regime trabalhista chinês, por exemplo. “Vai ser preciso muito dinheiro para dominar o mercado asiático.”
Questionado se a empresa pretende abrir capital, Carvalho desconversa: “É algo que não está nos planos nos próximos três anos.” Por enquanto, ele prefere seguir em movimento – e incentivar outras pessoas a fazer o mesmo.
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