Hambúrguer de carne ‘vegetal’: saiba o que achamos dos produtos no mercado

Editor ‘carnívoro’ e repórter vegetariana do Link experimentaram os alimentos sensação nos EUA e que começam a chegar ao mercado brasileiro

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Em tecnologia, não basta só inovar: é preciso também cuidar para que a inovação faça sentido com a experiência do usuário. No caso dos hambúrgueres “vegetais”, isso significa falar de aroma, textura, tempero, sabor, aparência – e uma inevitável comparação: afinal, eles são iguais à carne? É mais gostoso? Mais saudável? As perguntas surgiam sempre que uma nova matéria sobre o assunto era publicada – desde que o Estado passou a acompanhar o assunto ativamente, desde o início deste ano, com o lançamento da segunda versão do Impossible Burger, pioneiro no setor. 

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Para responder a essas questões, a reportagem do Link decidiu por as mãos... nos lanches: vegetariana há dois anos, a repórter Mariana Lima – responsável pela matéria dos hambúrgueres que estão chegando às lanchonetes e mercados do País – provou os modelos nacionais. 

Já o “carnívoro” editor do Link, Bruno Capelas, aproveitou viagens e coberturas internacionais recentes para experimentar os produtos que estão virando sensação nos EUA e inspiraram os exemplos brasileiros – o Beyond Burger e o Impossible Burger. A seguir, eles contam como comeram e o que acharam da carne que não é carne, mas tem gosto de carne, cheiro de carne e até sangra como carne. 

Fazenda Futuro

Na Lanchonete da Cidade, hambúrguer'vegetal' está no cardápio como LC Futuro 1.0 e sai por R$ 29 Foto: Gabriela Biló/Estadão

O primeiro hambúrguer que comi foi a versão 1.0 do Futuro Burger, da startup carioca Fazenda Futuro. Em São Paulo, a startup vende o produto em um sanduíche na Lanchonete da Cidade, chamado de LC Futuro. O lanche custa R$ 29 e tem como proposta ser todo vegano: além da carne da startup, outras duas empresas fornecem a maionese e o queijo contidos no sanduíche e sem qualquer traço de origem animal. 

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Deixei de comer carne há quase dois anos e, desde então, não tinha achado nada no mercado que se assemelhasse a um bife, mas fosse de origem vegetal. Ao chegar na mesa, o hambúrguer me surpreendeu: era a coisa mais parecida com carne que entra no meu prato em anos. O aroma também lembrava muito carne feita na chapa, o que ajudou a “compor o momento”. 

A primeira mordida foi impressionante. Depois, percebi que muito do gosto que eu sentia ali vinha do tempero – algo que não era necessariamente ruim, mas uma combinação que já não era mais familiar para mim. No fim das contas, achei o hambúrguer gostoso e salgado, e a experiência, curiosa. Dentre as carnes “vegetais” que provei, foi a que mais tentava imitar a suculência de um hambúrguer bovino, com textura e a cor próxima a um vermelho mais alaranjado. / M.L. 

Behind The Foods

O lanche da Behind Burger: disponível a partir de junho, em uma rede de lanchonetes parceiras Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão

Os hambúrgueres vegetais da Behind The Foods ainda não estão à venda. Por isso, a startup me levou a uma lanchonete parceira e pediu que escolhesse qualquer lanche presente no cardápio para que eles colocassem o hambúrguer vegetal no lugar do tradicional. Para uma comparação justa e coerente, procurei o modelo mais próximo o possível do Futuro Burger: um x-burguer com a carne da Behind. 

O que mais me impressionou na carne da Behind foi a imitação não só da carne, mas também de pequenos pedaços de gordura que existem nos hambúrgueres bovinos. A carne era menos suculenta que a do Futuro Burger, mas estava longe do tom alaranjado da concorrente: era marrom, como se fosse um hambúrguer ao ponto e sem sangue. 

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O Behind Burger também é menos temperado que o rival: o aroma de carne era igualmente forte, mas a carne era bem menos salgada. Uma experiência legal, que talvez fique ainda melhor em um sanduíche pensado exatamente para esse tipo de carne, e não em uma simples adaptação. /M.L.

Seara Gourmet

O Incrível Burger, da linha Seara Gourmet, foi a última carne vegetal que provei antes de escrever as reportagens. O produto também não está à venda, mas a fabricante me enviou uma caixa com duas unidades do hambúrguer congelado.

Incrível Burger, da Seara: bandeja com dois discos chegará ao mercado por R$ 17 Foto: Seara

Obedeci ao modo de preparo prescrito: a quantidade exata de minutos para virar de um lado para o outro, e a temperatura ideal para prepara a carne numa frigideira antiaderente. Para completar o sanduíche acrescentei queijo e pão de hambúrguer.

Foi a minha primeira versão “feita em casa” desse tipo de carne vegetal. O produto não tentava imitar a consistência do hambúrguer gourmet, mas sim do de caixinha– e me pareceu quase idêntico ao normal. Os temperos também foram colocados na medida certa: não é uma carne salgada, nem sem gosto. / M.L.

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Impossible Burger

Criado por professor de bioquímica, Impossible Burger já é vendido nos EUA em redes como Burger King Foto: Impossible Foods

Tive a oportunidade de experimentar o Impossible Burger quase sem querer: estava em Las Vegas (EUA) para a cobertura da CES 2019 e me deparei com a coletiva de imprensa da Impossible Foods dando uma última olhada na agenda do evento. Foi uma experiência sui generis: além de minihambúrgueres, pude também experimentar tacos, empanadas e até mesmo um corajoso steak tartare feito com a carne da startup americana, fundada pelo professor de bioquímica Patrick Brown. 

Vale dizer que o que a Impossible Foods está fazendo é bem diferente das demais: a empresa estudou a composição molecular da carne e de diversas plantas. Com isso, conseguiu isolar heme, uma molécula de hemoglobina, responsável pelo gosto e pelo sangue da carne, quando exposta ao fogo. Sintetizou a substância e a inseriu, em grandes quantidades, na soja. É geneticamente modificado? Sim. Mas foi aprovado pelo governo americano e já está no mercado em redes gourmet como o Umami Burger e fast-food como o Burger King. 

O resultado é bem interessante: tem gosto de carne, cheiro de carne, sangra como carne e até um bocado da textura da carne em si. Na época, lembro que achei que parte da mordida ainda lembrava o da proteína texturizada de soja – algo que me dava pesadelos na época do bandejão na USP. Por outro lado, me consolei com a grande frase que o professor Brown disse na coletiva de lançamento: “ao contrário da vaca, que está aí há milhares de anos, nós podemos evoluir”. Hoje, depois de experimentar outros “hambúrgueres vegetais”, até chego a salivar com a lembrança do Impossible Burger. / B.C.

Beyond Burger

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O Western Bacon Cheeseburger, mas com carne da Beyond Meat: combo com batata e Coca-Cola sai por US$ 15,50 na rede Carl's Jr, nos EUA Foto: Bruno Capelas/Estadão

Em meio ao hype causado pela abertura de capital da Beyond Meat – a melhor de Wall Street para uma empresa avaliada acima de US$ 200 milhões desde 2000 –, pude provar o hambúrguer da startup californiana. A experiência não podia ter sido mais americana: foi na rede de fast food Carl’s Jr, com direito a combo com batata frita e Coca-Cola no refil e indefectíveis bancos vermelhos, naquele mesmo design que outras redes espalharam pelo mundo. 

Ao contrário do que sugeria o menu, que oferecia o Beyond Burger dentro do carro-chefe da rede, o Famous Star With Cheese (um X-Salada bombado), pedi o meu dentro do Western Bacon Cheeseburger, que vem com anéis de cebola, queijo e claro, bacon – já bastava a carne ser “vegetal”, né? A primeira diferença que senti foi no preço: o combo com carne bovina custa US$ 12; já o que vem com o hambúrguer vegetal saiu por US$ 15,5. É uma soma que muda radicalmente a experiência, ao menos no fast food. 

A consistência e o aroma lembra bastante o hambúrguer de outras redes de fast food, como o do McDonald’s, ou ainda o hambúrguer congelado de caixinha. Foi uma surpresa: esperava que ela “amassasse” como soja ou ervilha, e não que se desmanchasse como carne. Ao contrário do Impossible, ele não sangra. O tempero também é bastante simples, sem nenhum gosto marcante – ainda bem que havia o bacon, né? Também me chamou a atenção o quanto ele me satisfez. Passei a tarde toda perambulando e não senti fome, tendo só jantado seis ou sete horas depois – em uma experiência parecida à que a Patrícia Ferraz, editora do Paladar, teve com o Futuro Burger. / B.C.

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