De olho nas ineficiências do segmento jurídico do Brasil, a legaltech brasileira Lexter está chegando oficialmente ao mercado com seu sistema de inteligência artificial que agiliza a revisão de contratos. Fundada no segundo semestre de 2020, a empresa passou os últimos meses em fase de testes com clientes como Gerdau, Loft e Votorantim Cimentos e já recebeu um aporte liderado pelo fundo Canary — o valor não foi revelado.
A ideia da Lexter é ajudar a reduzir a burocracia nos setores jurídicos de empresas: o algoritmo consegue ler, grifar e sugerir alterações em contratos, sejam eles antigos ou ainda em negociação. “Trabalhamos como se fôssemos mais um advogado na equipe do cliente. O sistema analisa, grifa e comenta o texto”, explica ao Estadão Pedro Jahara, presidente executivo e cofundador da startup, que já é veterano no mercado de startups — ele ajudou a fundar a RevMob, uma rede de anúncios mobile, e a Beluga.db, uma consultoria de aprendizado de máquina para grandes empresas.
O sistema da Lexter funciona com a técnica de processamento de linguagem natural (NLP), que faz com que a máquina identifique e compreenda o texto — é uma das áreas mais avançadas em IA nos tempos atuais. Os algoritmos têm um treinamento especial para cada cliente: a Lexter traduz a estratégia de revisão de contrato de cada empresa em instruções personalizadas para a máquina. O sistema é próprio da startup, mas usa também algumas bibliotecas de código aberto.
Todo o trabalho da máquina é acompanhado por uma equipe de advogados humanos, que faz uma revisão da inteligência artificial e auxilia também no treinamento recorrente do algoritmo. Segundo Jahara, nos serviços já realizados pela ferramenta, houve uma redução de 70% a 90% no tempo que seria usado para a revisão do contrato em vias tradicionais. “Com a ajuda do algoritmo, o advogado, quando recebe a minuta, não precisa ler com tanta calma. É só observar os comentários da máquina”, afirma o executivo.
Para usar o serviço, as empresas deverão pagar assinaturas a partir de R$ 1,5 mil por mês.
Tração
A Lexter tem hoje cinco clientes e espera chegar em julho atendendo 30 empresas. O plano para os próximos meses é provar o serviço com os clientes e, no final do ano, há a expectativa de levantar uma nova rodada de investimentos.
A estreia da startup coincide com bons ventos no setor de legaltech. Desde o início da pandemia, com os escritórios fechados e o impulso das atividades remotas, as startups do setor jurídico ganharam maior aceitação da área do Direito, que até então resistia ao uso de tecnologias. O cenário foi um incentivo para o surgimento da Lexter: “Quando vimos audiências acontecendo pelo Zoom e os processos digitalizados, foi um impulso para seguir em frente com a ideia da Lexter”, diz Jahara.
Para ganhar tração e crescer, porém, a Lexter terá alguns desafios pela frente. O primeiro deles é provar para o mercado que um software é mesmo capaz de ler e interpretar um contrato de uma forma similar ao advogado. Um outro desafio é inerente às empresas que trabalham com inteligência artificial: crescer o banco de dados para que a tecnologia de aprendizado de máquina fique cada vez melhor.
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