Maior startup da América Latina, Kavak, de compra e venda de automóveis seminovos, anunciou nesta terça, 20, que levantou US$ 810 milhões por meio de linhas de crédito em três bancos: HSBC, Goldman Sachs e Santander. O dinheiro chega três meses após a empresa mexicana promover demissões em massa na operação brasileira - segundo apurou o Estadão, cerca de 300 profissionais foram cortados na época.
De acordo com comunicado da companhia, as linhas de crédito serão destinadas para a operação de compra e venda de veículos seminovos. A maior parte da quantia - US$ 675 milhões obtidos juntos ao HSBC - foi levantada por contrato de venda de recebíveis futuros. Na operação, o banco obtém os direitos sobre recebíveis originados pelos financiamentos concedidos pela Kavak.
A outra fatia do dinheiro (US$ 100 milhões do Goldman Sachs e US$ 35 milhões do Santander) será reservada para desenvolvimento do negócio, consolidação de infraestrutura e aumento de estoque. “Isso tem como objetivo fortalecer a nossa oferta de carros certificados no mercado. Também estamos investindo no desenvolvimento de um modelo operacional que nos permitiu oferecer soluções de financiamento para mais de 50% dos nossos clientes”, diz em nota Moises Flores, diretor financeiro da startup.
“A linha de crédito é um bom sinal em um momento apertado de liquidez de mercado. Para o tipo de operação da Kavak este tipo de linha faria sentido independente de novas rodadas de financiamento”, diz ao Estadão Gilberto Sarfati, professor da Fundação Getúlio Vargas. Ele explica que, nesse modelo, o dinheiro de capital de risco é usado para sustentar o crescimento da empresa com expansão digital e contratações. Já as linhas de crédito são destinadas às operações de vendas, que se desenrolam de forma mais rápida.
A opção se torna importante quando considerado o atual cenário para as grandes startups. Com o aumento global da inflação e da subida dos juros, a torneira do dinheiro de investidores de risco secou, o que afetou principalmente os “unicórnios” (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão) - esse foi o principal motivo das demissões em massa no primeiro semestre. Até aqui, a Kavak levantou US$ 1,6 bilhão junto a nomes como SoftBank, General Atlantic e Greenoaks.
Sarfati, porém, faz uma ressalva sobre a nova operação. “O quanto ela é boa depende de alguns fatores, como a taxa de juros da linha de crédito e condições de garantia”, afirma. “A isso se soma a questão da operacionalização da linha de crédito em diferentes países. Teoricamente há o risco de o dinheiro não chegar em alguns lugares, como no Brasil”, completa.
Para os bancos, a parceria com a Kavak pode ser frutífera. “A Kavak permite a eles chegar num público que eles, talvez, tivessem mais dificuldade de conseguir se conectar. Além disso, a Kavak fica com grande parte do trabalho de análise de crédito dos clientes”, explica Guilherme Fowler, professor de inovação do Insper.
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