A internet poderá transmitir dados na velocidade da luz. Tudo por causa de um inventor escocês que pensou em transformar as lâmpadas em dispositivos capazes de irradiar a conexão de web. A nova tecnologia, chamada Li-Fi – ‘light fidelity’, na sigla em inglês – começou a ganhar forma depois da metade deste ano, quando a primeira fabricante começou a testar as lâmpadas compatíveis em casas, praças, universidades e indústrias na Europa.
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Embora a tecnologia tenha sido apresentada publicamente há quatro anos pelo professor da Universidade de Edimburgo, o escocês Harald Haas, o Li-Fi ganhou notoriedade na última semana, quando os primeiros resultados dos testes em condições reais foram divulgados. A empresa estoniana Velmenni comprovou que é possível transmitir a conexão de internet pela luz de maneira estável e com maior segurança do que a conexão Wi-Fi, largamente utilizada em todo o mundo.
O Li-Fi surgiu antes mesmo de o Wi-Fi deixar de ser coisa de ficção científica. Em 2003, Haas tentava encontrar uma forma de democratizar o acesso à internet e reparou na quantidade de lâmpadas que estão ao nosso redor. “O Wi-Fi e a conexão móvel dependem de antenas para serem replicados, já que utilizam a frequência de rádio”, disse Haas, em entrevista ao Estado. “Para não prejudicar o alcance da conexão, pensei em usar uma outra frequência: a de luz visível.”
A ideia só se concretizou oito anos depois, quando Haas apresentou o Li-Fi durante a conferência TED, nos Estados Unidos. Haas acendeu uma luminária e disse, com forte sotaque, que dados estavam sendo transmitidos do computador para o projetor por meio da conexão de internet sem fio oferecida, não por um roteador, mas pela lâmpada. Embora ele tenha sido aplaudido, ninguém na plateia entendeu direito o que ele queria dizer: afinal, como uma lâmpada poderia criar uma rede sem fio?
Ao explicar a tecnologia, Haas faz uma comparação simples: quando um controle é acionado, um pequeno fluxo de dados de baixa velocidade é enviado pelo LED infravermelho e captado por um outro aparelho, como a TV. No Li-Fi, a lâmpada é equipada com um chip que se conecta à rede móvel da operadora e irradia o sinal para dispositivos eletrônicos sem conexão móvel, como computadores ou TVs. “A lâmpada pisca numa velocidade alta. Os aparelhos interpretam o sinal emitido e estabelecem a conexão.”
Engana-se quem acha que o Li-Fi só funciona quando a luz está acesa. O pesquisador ajustou a tecnologia para emitir o sinal de internet em uma frequência alta, invisível aos olhos humanos. Segundo especialistas, o Li-Fi é mais seguro do que as redes Wi-Fi. “Ele torna a rede mais segura e permite utilizar a internet sem medo de interferências, como em um avião ou em uma sala de cirurgia”, diz o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis, da Universidade de São Paulo, Renato Franzin. Além de aviões, o Li-Fi pode ser oferecido sem riscos embaixo d’água e em plataformas petroquímicas.
Como a luz não atravessa paredes, a conexão de internet Li-Fi não pode ser acessada de outros cômodos. “Se você não quer que o sinal seja interceptado, basta fechar a porta”, diz Hass. A nova tecnologia também pode acabar com o problema de ter conexão Wi-Fi na sala, mas sinal fraco no quarto. Apesar de já existirem tecnologias que levam o sinal de internet para outros cômodos, como a PowerLine (veja quadro ao lado), basta instalar uma lâmpada compatível com Li-Fi em cada local para distribuir o sinal de maneira uniforme. A velocidade, porém, é similar à oferecida pelas redes Wi-Fi – ao contrário do que foi divulgado pela Velmenni. Segundo a empresa, as redes Li-Fi poderiam oferecer conexão de internet com velocidade 100 vezes mais rápida. “Isso não existe”, diz Hass.
No escuro. Apesar dos benefícios do Li-Fi, a tecnologia ainda precisa seguir um longo caminho antes de se tornar um padrão, como o Wi-Fi. O primeiro desafio é a necessidade de comprar lâmpadas especiais. Poucas startups oferecem produtos compatíveis, como a francesa Oledcomm. A empresa vende um kit que inclui um tablet equipado com fotorreceptor e um conjunto de lâmpadas por € 400 (o equivalente a R$ 1,6 mil).
Outro problema é a adaptação de eletrônicos, como computadores, TVs e tablets. Eles precisam sair de fábrica com fotorreceptores. Para permitir o avanço da tecnologia, todos os grandes fabricantes teriam de se adaptar. Apesar dos entraves, a consultoria Markets and Markets prevê que o mercado de Li-Fi deve movimentar US$ 6 bilhões até 2018.
Para Hass, o Li-Fi não foi feito para substituir o Wi-Fi. “Ele é complementar ao Wi-Fi, que é ineficiente quando muitas pessoas estão conectadas. Com o Li-Fi, menos pessoas competirão pelo sinal e a internet ficará mais bem distribuída.”
Tecnologias usam rede elétrica para transmitir internet
Além do Li-Fi, uma outra tecnologia usa a eletricidade para distribuir a conexão de internet pela casa. Chamada de PowerLine, ela está presente em dispositivos que parecem replicadores de sinal Wi-Fi. Contudo, em vez de apenas amplificar o sinal sem fio, eles transmitem o sinal por meio da rede elétrica. O usuário liga a “central” do dispositivo em uma tomada perto do roteador e conecta um cabo de rede entre os dois aparelhos. Depois, basta colocar receptores de sinal nas tomadas de outros cômodos da casa, que captam a conexão de dados e ‘espalham’ a conexão pela residência.
Se o roteador estiver na sala e o quarto não recebe sinal, o morador liga a central na sala e coloca um receptor na tomada do quarto. “Esta tecnologia permite estender o sinal de Wi-Fi pela casa toda independente de onde o roteador está”, explica o gerente de produtos da fabricante de equipamentos de rede D-Link, Rodrigo Paiva.
Já é possível encontrar dispositivos compatíveis com a tecnologia PowerLine no Brasil de diversas marcas com preços que variam entre R$ 150 e R$ 500, dependendo dos recursos.
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