Conhecida pela compra, reforma e venda de imóveis, a startup Loft quer ser também a principal plataforma das quase 50 mil imobiliárias do País. Para avançar nesta estratégia, a companhia anuncia nesta sexta, 18, a aquisição da Vista, empresa especializada em software de gestão para imobiliárias. O valor do negócio não foi divulgado.
Fundada em 2005 em Florianópolis, a Vista atende 2 mil imobiliárias e 20 mil clientes, incluindo corretores autônomos, em 300 cidades do País. Entre os produtos da empresa estão uma plataforma de gestão e atendimento de clientes (conhecido no jargão como CRM imobiliário), uma plataforma de gestão financeira e gestão de contratos (conhecido como ERP) e uma plataforma de construção de sites e aplicativos.
Além disso, a companhia tem um sistema de publicação de anúncios imobiliários em portais - atualmente, ela administra mais de 1,7 milhão de anúncios. Os 100 funcionários da companhia serão integrados à Loft.
“Queremos ser o maior ecossistema do mercado imobiliário. Não queremos mexer na estrutura de existir um intermediador com total competência e capacidade para realizar as transações”, conta ao Estadão Jardel Cardoso, vice-presidente de relações institucionais da Loft.
É uma visão diferente do QuintoAndar, que, em sua trajetória, vem se consolidando como uma grande imobiliária tecnológica, disputando espaço com os nomes tradicionais do setor. A estratégia da Loft é ampliar sua presença no mercado por meio das imobiliárias tradicionais.
Essa estratégia começou em fevereiro de 2020, quando a companhia abriu um marketplace onde vendedores e compradores podem negociar imóveis diretamente. O movimento, porém, ganhou força no segundo semestre do ano passado.
Em julho, a empresa anunciou a compra da fintech CredPago, que substitui a figura do fiador na locação de imóveis. Um mês depois, a companhia anunciou a aquisição da startup de crédito imobiliário CrediHome. Em dezembro, foi a vez de arrematar o portal de listagem de imóveis 123i e de parcerias com as imobiliárias Mirantte e Zimmerman. Todos os negócios foram realizados após o aporte de US$ 525 milhões levantado pela empresa no primeiro semestre de 2021.
Atalho
A parceria com as imobiliárias permite a Loft a alcançar mercados onde a startup não opera oficialmente com a sua plataforma de compra e venda de imóveis - atualmente, ela está apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Guarulhos. A CredPago, por exemplo, está em 7 mil imobiliárias de cerca de 760 cidades do País e funciona como um canal por onde a Loft distribui seus produtos, como o seguro residencial - o contato entre imobiliárias e empresas conta com equipes de venda online e offline.
“O Brasil é feito dos seus interiores. As realidades de São Paulo e Rio de Janeiro é completamente diferente da realidade nacional. A maior imobiliária do Brasil em termos de locação está no interior, e não na capital”, explica Cardoso. “É mais fácil fecharmos uma parceria que tem 40 mil imóveis do que encontrarmos 40 mil vendedores individuais”, diz ele.
O atalho via imobiliárias permite driblar os obstáculos de implementar a plataforma de imóveis próprios, o que consome grandes volumes de capital. “O movimento permite a Loft aumentar sua capilaridade e ganhar novos nichos de mercados e novos tipos de consumidores. O custo de aquisição por cliente também cai por meio das parcerias”, diz Eduardo Dotta, professor de inovação do Insper.
Além de cortar caminho para a expansão, a compra da Vista leva para dentro da Loft uma empresa que não apenas traz receita estável - os serviços da Vista são vendidos separadamente por taxas entre R$ 150 a R$ 1,6 mil por mês. A Loft deverá usar as soluções da empresa para ofertar novos produtos a quem negocia imóveis, como financiamento e seguro. Quanto mais produtos da Loft a imobiliária adotar, maior será a sua comissão na realização do negócio - até 80% da comissão pode ser retida.
Dotta também vê benefícios para os dois lados da parceria. “É uma via dupla de benefícios. As imobiliárias ganham uma rede de conexão e oportunidades, além de maior visibilidade. Para muitas imobiliárias, essas possibilidades acabam tornando a parceria quase obrigatória”, diz ele.
Era algo arquitetado desde o início da startup. “Esse parece ser um movimento recente, mas o Mate Pencz e o Florian Hagenbuch (fundadores da Loft) sempre deixaram nas entrelinhas os objetivos: ter capilaridade, ser o player mais relevante tanto offline quanto online, oferecer atendimento humanizado e não dispensar intermediários”, diz Cardoso. “Estamos apenas executando o plano de forma acelerada. Talvez, a gente esteja dois anos adiantados”.
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