A startup Loft, especializada em compra e venda de imóveis, anunciou nesta terça-feira, 5, a demissão de 384 pessoas, ou 12% do quadro de 3,2 mil pessoas, segundo comunicado enviado à imprensa. O corte acontece após uma rodada de demissões feita em abril, quando a companhia cortou 159 trabalhadores da área de crédito.
Segundo a companhia, os funcionários demitidos receberão a extensão do plano de saúde por mais 2 meses, apoio para recolocação profissional e facilitação da participação no plano de stock options para pessoas elegíveis. “A Loft agradece a dedicação dos colaboradores desligados, está empenhada em ajudar no que for possível para a sua recolocação no mercado e lamenta a perda destes profissionais”, afirma a empresa no comunicado.
Avaliada em US$ 2,9 bilhões, a Loft levantou US$ 525 milhões no primeiro semestre de 2021 e se tornou um dos principais “unicórnios” (startup avaliada em US$ 1 bilhão) do País. Desde os investimentos, a companhia partiu para um movimento agressivo de expansão para se tornar um dos principais nomes do setor imobiliário do Brasil.
Em julho de 2021, a empresa anunciou a compra da fintech CredPago, que substitui a figura do fiador na locação de imóveis. Um mês depois, a companhia anunciou a aquisição da startup de crédito imobiliário CrediHome. Em dezembro, foi a vez de arrematar o portal de listagem de imóveis 123i e de parcerias com as imobiliárias Mirantte e Zimmerman. Em março deste ano, a companhia comprou a Vista, empresa especializada em software de gestão para imobiliárias.
Em abril, porém, os ventos mudaram. A companhia demitiu 159 funcionários e remanejou outras 52 pessoas como parte de um plano de consolidação da área de crédito da empresa. As mudanças afetaram trabalhadores das áreas de operação, comercial, produto e tecnologia.
Os cortes acontecem oito meses após a companhia comprar a CrediHome, startup de crédito imobiliário — antes disso, em setembro de 2020, a Loft já havia comprado a startup InvestMais, que também trabalha com produtos de crédito. Para a companhia, a chegada das duas startups, além do desenvolvimento da Loft Cred (braço de crédito nascido dentro da empresa), exigiu reorganização.
Crise nos unicórnios
As demissões na Loft aprofunda a crise dos unicórnios no Brasil, que, desde o início deste ano, têm realizado cortes para continuar a expansão em meio ao cenário de escassez de capital. O rival QuintoAndar demitiu 4% do corpo de funcionários em março, seguido por Facily, Vtex, Ebanx, Olist e Mercado Bitcoin. A mexicana Kavak, startup mais valiosa da América Latina, enxugou cerca de 300 trabalhadores de suas operações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre as startups menores, nomes como Zenklub, Sanar, Sami, Zak e LivUp também já realizaram cortes.
Entre as demissões noticiadas, os unicórnios demitiram mais de mil pessoas afetadas, dos quais 543 são da Loft. Atuando na área de compra e venda de imóveis, a startup é especialmente afetada pela alta global dos juros, um dos maiores freios na aquisição de apartamentos e casas.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando a fonte do capital parecia infinita.
Fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador. O investidor Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano devido aos maus resultados das empresas nas quais investe — as informações são do jornal Financial Times.
Além do SoftBank, a aceleradora Y Combinator, uma das mais conhecidas no Vale do Silício, recomendou que as startups reavaliassem suas finanças e que ficassem prontos para cortar gastos. A medida, de acordo com a aceleradora, é uma forma de prever até 24 meses sem investimentos. “Crises econômicas geralmente se tornam grandes oportunidades para os fundadores que mudam rapidamente sua mentalidade, planejam com antecedência e garantem que sua empresa sobreviva”, afirmou a gestora na carta.
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