Maior aceleradora do mundo, Y Combinator quer ensinar startups brasileiras a serem globais

Os bons ventos do setor de inovação fazem a Y Combinator olhar mais de perto para o País

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Fundada em 2005 no Vale do Silício (EUA), a Y Combinator (YC) é considerada a maior aceleradora do mundo: já passaram pelo programa mais de 3 mil startups, incluindo nomes como Airbnb, Twitch e Dropbox. Nos últimos anos, porém, startups brasileiras também estão entrando no “clubinho”, impulsionadas pelos bons ventos do setor de inovação no País e pela facilidade trazida por atividades remotas na pandemia. 

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A YC começou a investir no País em 2019 e, desde então, 37 startups nacionais fazem parte do seu portfólio. Só no último programa, que inclui mentoria e investimento, participaram 12 empresas brasileiras – durante a pandemia, 31 nomes passaram a integrar o time. Passaram pela YC empresas como a locadora de carros para motoristas de app Kovi, a fintech para adolescentes Z1 e a plataforma para influenciadores ChatPay.

Com um pé no Vale do Silício e outro no Brasil, a engenheira Stephanie Simon, que está na YC desde 2016, é a diretora responsável por selecionar as startups na aceleradora. Ao Estadão, a brasileira diz estar empolgada com o momento das nossas empresas de tecnologia – e lembra que isso tem pesado nas escolhas da YC. 

Ela, porém, afirma que não é só com boas ideias e investimentos que se constrói um cenário tecnológico vigoroso. Na visão de Stephanie, para a engrenagem girar, o País precisará de um cenário político favorável e de investimentos em computação e engenharia. Abaixo, os melhores momentos. 

Stephanie: 'Cenário político estável ajuda progresso de statups' Foto: Y Combinator

Por que a Y Combinator começou a olhar para o Brasil?

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Decidimos ir para o Brasil não só porque sou brasileira. Há cerca de 4 anos, identificamos um grupo interessante de fundadores brasileiros se inscrevendo em nossos programas. Acho que isso aconteceu por alguns motivos. Primeiro, por inspiração: a Rappi (startup colombiana) participou de um programa da YC em 2016 e a Brex (fintech fundada por brasileiros no Vale do Silício) em 2017. Esses exemplos tendem a inspirar outras pessoas a começarem novas startups – é um efeito em cadeia. Outra coisa que tem impulsionado o crescimento do País é o surgimento de um novo ecossistema de investidores-anjo e fundos. Costuma ser difícil começar uma empresa onde não há atores sofisticados. Acredito que haja uma nova geração de investidores no Brasil que entende como funciona o ecossistema. 

Por que startups brasileiras devem manter contato com o Vale do Silício?

O Vale do Silício ainda é o melhor lugar para levantar capital – o que não significa que será sempre assim. Participando de programas da YC, empresas brasileiras conseguem acessar uma rede de investidores americanos e internacionais de uma vez só. Além disso, os fundadores têm contato entre si no Vale, fortalecendo os laços até mesmo com as startups de suas regiões – ao todo, investimos em 92 empresas da América do Sul, e essas empresas acabam criando redes de contato entre elas. 

As startups brasileiras têm potencial de serem globais e se tornaram grandes nomes no Vale do Silício?

É absolutamente possível. A Brex é um bom exemplo de empresa criada por brasileiros que alcançou nível internacional. O Brasil é um país multicultural e esse ambiente gera fundadores versáteis, com diferentes visões sobre o mundo – na inovação, é preciso trazer diferentes perspectivas para o jogo.

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O que falta para o Brasil ter mais startups globais?

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O cenário político deve ser favorável. Ter um sistema político estável é importante para a operação das startups, já que políticas governamentais costumam impactar a capacidade das empresas crescerem. Alguns países têm criado políticas para encorajar empreendedores a criarem startups, como a Estônia, por exemplo. Além disso, é preciso priorizar o ensino de computação em escolas – e começar cedo. Como engenheira, posso dizer que a engenharia te dá as principais ferramentas para criar uma startup. A maioria das startups em que investimos tem fundadores com experiência técnica. 

Como você avalia o ecossistema brasileiro de startups na comparação com outros países emergentes, como a Índia?

A Índia tem um ecossistema de investimentos bastante desenvolvido. Há muitos fundos indianos e também internacionais apostando no país. Um ambiente de investimentos saudável ajuda o mercado de inovação como um todo. Quando uma startup indiana é selecionada para a YC, eles costumam levantar uma rodada inicial no programa e depois voltam para a Índia para captar investimentos ainda maiores – eles são capazes de crescer sozinhos, sem precisar voltar para os Estados Unidos. O ensino indiano também prioriza a ciência da computação e engenharias.

E como você vê o ecossistema de investimentos aqui no Brasil?

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Está melhorando. Conheço bons fundos que investem no início da vida da startup, como a Maya Capital. É assim que o processo começa até surgirem fundos nacionais maiores. Imagino que nos próximos anos aconteça no Brasil o mesmo que ocorreu com a YC: começamos a investir no começo da vida das startups, mas quando essas empresas se tornaram maiores, adicionamos um programa voltado a um ritmo maior de crescimento. 

Com os programas remotos, a YC quer ser uma fábrica global de unicórnios?

Não usaria o termo “fábrica”. Eu li milhares de inscrições de fundadores nos últimos 5 anos e entrevistei milhares de empresas. Não é uma linha de produção. Como a maioria de nós da YC já fomos fundadores um dia, não pensamos desse jeito. Mas, sim, queremos trabalhar com fundadores que têm o potencial e a paixão para criar os próximos unicórnios. Inicialmente, a abertura das fronteiras foi uma resposta à covid-19, mas vimos benefícios nesse modelo. Porém, não temos o compromisso de investir em regiões específicas ou determinados setores. Avaliamos as equipes das startups: queremos bons fundadores, independentemente de onde eles venham e do que eles estejam fazendo. 

Quando a pandemia passar, a YC pretende retomar os programas presenciais?

Ainda não sabemos. Estamos avaliando a pandemia, mas acho difícil imaginar uma volta total ao formato presencial. Acho que não seria inteligente. No remoto, passamos a documentar melhor nossos programas e conversar com mais calma com os fundadores, já que não estávamos viajando a todo momento. Aprendemos que os investidores ficaram mais confortáveis em investir em empresas que eles não conhecem pessoalmente. É tudo pelo Zoom: você conhece a pessoa em 30 minutos e já manda o dinheiro. Estamos repensando agora quais são as partes do modelo presencial que realmente são importantes e quais nos limitam a ajudar todos os fundadores que queremos. 

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