New Glenn: Jeff Bezos cancela lançamento do foguete que deveria incomodar a SpaceX

Decolagem foi cancelada após seis alterações na sua contagem regressiva e quase três horas de espera para o lançamento; empresa diz que tenta “solucionar um problema de subsistema do veículo”

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Foto do author Mariana Cury
Atualização:

Não foi dessa vez que a Blue Origin entrou de vez na corrida espacial. A companhia espacial de Jeff Bezos, fundador da Amazon, cancelou o lançamento de seu novo foguete depois de não conseguir “solucionar um problema de subsistema do veículo”. O foguete, que tinha a decolagem inicialmente programada para as 3h30 (Horário de Brasília), partindo da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), após seis alterações na sua contagem regressiva e quase três horas de espera, teve seu lançamento cancelado às 5h10.

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A missão foi adiada duas vezes ao longo da última semana devido às condições climáticas no Oceano Atlântico. O lançamento programado para a sexta-feira, 10, foi remarcado para o domingo, 12, e, posteriormente para a segunda-feira, 13.

A empresa não informou a nova previsão de lançamento.

A missão NG-1 levará o Blue Ring Pathfinder, uma carga útil responsável por testar tecnologias para o veículo de transferência orbital Blue Ring. A carga é um tipo de “rebocador espacial”, que possui um conjunto de comunicação, sistemas de energia e computadores de voo instalados. Essas ferramentas permitem que os satélites sejam posicionados em diferentes órbitas.

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Foguete tem 98 metros de altura Foto: Handout/HANDOUT

Para comportar a carga e o lançador, o New Glenn tem 98 metros de altura - o que é equivalente a um prédio de 30 andares - e sete metros de diâmetro, o que permite duas vezes o volume dos sistemas de lançamento comercial padrão.

A viagem deve durar cerca de seis horas e será objeto de diversos testes, como a telemetria do foguete no espaço, a qualidade dos equipamentos de rastreamento, de comando e de comunicação.

Segundo a empresa, o primeiro estágio do New Glenn foi projetado para um mínimo de 25 voos. A Blue Origin diz que a nave opera com combustível mais limpo que o padrão, o que resultará em redução de poluentes e de custos. Além disso, a espaçonave foi projetada para ser reutilizável desde essa primeira fase. O New Glenn lançará cargas úteis em órbitas de alta energia e pode transportar mais de 13 toneladas métricas para a órbita de transferência geoestacionária (GTO) e 45 toneladas métricas para a órbita terrestre baixa (LEO).

O foguete foi batizado em homenagem a John Glenn, o primeiro americano a orbitar a Terra. A Blue Origin vai tentar recuperar o primeiro estágio do foguete logo no primeiro voo. Assim como a SpaceX, uma plataforma marítima - nomeada de Jacklyn, uma homenagem à mãe de Bezos - estará no meio do Oceano Atlântico caso o foguete consiga passar a entrada na atmosfera e se alinhar para o pouso.

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Blue Origin x SpaceX

Os avanços da Blue Origin significam uma ameaça à hegemonia da SpaceX no setor. O Falcon 9, principal foguete de Musk, consegue carregar 22,8 toneladas, enquanto o New Glenn suporta até o dobro de peso. No entanto, o Falcon 9 já realizou 433 missões (apenas 3 com falhas), enquanto o projeto do New Glenn está cinco anos atrasado. O lançamento com sucesso do New Glenn pode representar uma mudança nessa dinâmica - entre os clientes da SpaceX está governos e clientes privados. O sucesso do voo desta sexta pode representar perdas de clientes para a empresa de Musk.

O mascote da empresa é uma tartaruga, em referência a fabula infantil “A lebre e a tartaruga”, que deu vida ao lema “devagar e sempre”, postura que Bezos procura seguir dentro da empresa, diferentemente da SpaceX, que não mede esforços em seus testes de foguetes.

Um dos motivos do bilionário ter deixado o cargo de CEO da Amazon, em 2021, foi para focar na Blue Origin, época em que a empresa fez seu primeiro voo de turismo espacial.

Atualmente, a empresa de Elon Musk e a de Jeff Bezos disputam contratos bilionários com a Nasa. Em 2021, Musk venceu Bezos quando assinou um contrato de US$ 2,9 bilhões para realizar uma missão lunar com o seu foguete Starship. Em junho de 2024, além da SpaceX, o Pentágono também selecionou a Blue Origin e a United Launch Alliance (ULA) para um contrato de US$ 5,6 bilhões com a Nasa. As três empresas espaciais devem disputar contratos entre si para lançar, pelo menos, 30 missões até 2029. Agora, a Blue Origin entra de vez na disputa pelo transporte de cargas.

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Apesar da SpaceX estar na frente nesse mercado, a Blue Origin se destaca no meio do turismo espacial, que leva cidadãos comuns e celebridades para voos suborbitais no seu foguete New Shepard. Em mais de20 viagens, a nave só apresentou falha uma vez, em uma missão não tripulada.

*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani

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