Novos ‘unicórnios’ explodem em 2021, mas status ainda mantém ‘magia’

Cenário pós-pandemia facilita o nascimento de startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão

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Foto do author Guilherme Guerra

Unicórnios não existem para além da imaginação humana. Mas eles são bem reais no mundo das startups. Para uma empresa de tecnologia, tornar-se unicórnio significa superar a poderosa marca de US$ 1 bilhão de avaliação de mercado. Por ser algo raro, é que a distinção é tão honrosa para investidores e empreendedores. Porém, em 2021, isso parece estar mudando com a expansão do clube de vitoriosas e, diante desse estouro global, surgem questionamentos se o status ainda serve para marcar as mais notáveis do mundo.

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De acordo com a consultoria CB Insights, em 2021 há um número recorde de startups que se tornaram unicórnio: foram 209 até 22 de junho. O número supera com folga as turmas de 2020 (120), de 2019 (123) e de 2018 (122). No mundo todo, já são 725. Os motivos, dizem especialistas, vão além daquilo que essas empresas oferecem.

Um deles é a alta adoção de tecnologia durante a pandemia de covid-19, que alavancou não só as gigantes do setor (Apple, Amazon, Microsoft e Google tiveram no ano passado desempenho financeiro recorde), mas também as startups, que aproveitaram a onda para surfar com os grandes tubarões do mercado. Setores como finanças, comércio eletrônico e logística atingiram novo patamar durante o ano passado.

Além disso, a queda global dos juros básicos, outra consequência da pandemia, aumentou o apetite por risco, fazendo crescer a demanda por investimentos no único setor em alta na renda variável, o de tecnologia. 

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“Com tanta liquidez no mercado e menos empresas disponíveis para investir, a avaliação dessas startups sobe mais rapidamente e é por isso que vemos cada vez mais unicórnios”, explica Gustavo Araújo, presidente e fundador da empresa de inovação Distrito. “Inclusive, pode existir empresa por aí que talvez nem fosse unicórnio em um momento de taxa de juros mais equilibrada.”

Unicórnio é o nome dado às raras startups que ultrapassaram a marca de US$ 1 bilhão de avaliação de mercado Foto: Marcos Müller/Estadão

Revisão da marca

Apesar do cenário composto por fatores externos a aquilo que as startups fazem, o mercado não vê motivo para rever o status ou criar novas distinções — ao menos por enquanto. Ser um unicórnio, afinal, parece ainda guardar certa magia.  

“Esse é um marco para ser revisado só daqui a 20 ou 30 anos, quando completarmos a transição de uma economia analógica para uma totalmente digital. Todo mundo já vai ter virado unicórnio até lá”, afirma Araújo.

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Cristiano Freitas, diretor financeiro da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), acredita que haverá a popularização de novos termos, como os ainda mais raros “decacórnios”, as startups avaliadas em mais de US$ 10 bilhões (são cerca de 33 em todo o mundo, segundo a CB Insights). “Seria como subir a régua”, explica.

Para Diego Pérez, da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), ainda é importante ter maneiras de identificar um grupo seleto das empresas. Ele explica que  a diferença do momento atual para anos anteriores é que se tornar unicórnio virou o início de uma jornada global: “Até pouco tempo atrás, esse seria o último estágio antes de abrir capital na bolsa, mas hoje é o primeiro nível para se tornar uma empresa mundial. Continua sendo um marco, mas mudou o momento da jornada,” diz. 

DNA 

Segundo os especialistas, carregar o status indica que a empresa conseguiu “provar” o seu modelo de negócio. Isto é, existe uma base de clientes que pode crescer porque o produto é viável.

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A distinção é ainda mais importante no mercado brasileiro, pois, apesar da explosão global, o clube de unicórnios nacionais é seleto. De 2016 até hoje, segundo a ABStartups, o Brasil gerou apenas 16 companhias avaliadas em mais de US$ 1 bilhão - elas totalizam apenas 0,11% de todo o ecossistema nacional.

Dentro desse pequeno grupo, apenas um nome é um gigante mundial: o Nubank, com valor superior a US$ 30 bilhões, o que faz da empresa a sétima maior startup do mundo e nosso único decacórnio, de acordo com o ranking da CB Insights. No levantamento nacional, o QuintoAndar aparece em segundo, com avaliação de US$ 4 bilhões.

O nome mais novo a se juntar publicamente ao grupo é a Hotmart, dedicada a ajudar na criação de conteúdo de influenciadores digitais para a internet. Discreta, a startup mineira demorou 13 meses para anunciar que superou a marca de US$ 1 bi, em fevereiro de 2020 — o movimento é diferente do que faz o mercado, que costuma fazer barulho. 

“Tornar-se unicórnio nunca foi nosso objetivo, mas é óbvio que isso é bom porque temos mais capital e a chance de investir no próprio produto e também no mercado de startups”, explica o diretor global de negócios estratégicos da Hotmart, Alexandre Abramo. Desde então, a companhia diz ter como principal compromisso ajudar o ecossistema a inovar, realizando aportes individuais e até aquisições — o objetivo é ajudar a formar eventuais companhias parceiras e a fortalecer o setor como um todo.

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Pérez, da ABFintechs, aponta que existe um efeito cadeia ao se atingir o marco. Segundo ele, realizar aquisições são essenciais para que o unicórnio continue se expandindo de forma acelerada. Como efeito, isso permite ao criador da startup comprada ter um retorno antecipado do próprio investimento e esse dinheiro acaba sendo usado para criar novas startups, aquecendo o mercado. 

“Um unicórnio é uma entidade importante para o ecossistema. Ele é uma peça-chave para que os empreendedores continuem investindo”, explica Pérez.

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