A fintech brasileira Nubank, conhecida por seu cartão de crédito roxo, está reforçando seu time de executivos. Nesta terça-feira, 28, a empresa anuncia ao mercado a contratação de três novos nomes para os postos de direção. Ex-diretor executivo de cartões e de relações com investidores do Itaú, Marcelo Kopel vai ocupar o cargo de diretor financeiro da startup. Ex-diretor de gerenciamento de produtos do Facebook, Jag Duggal será o novo diretor de produto da empresa, enquanto Youssef Lahrech, que passou 20 anos na área de tecnologia do banco americano CapitalOne, será o novo líder global de análises e tecnologia.
“Ser uma empresa que cresce muito é difícil. Por isso precisamos trazer pessoas que têm experiências diferentes, que já tenham passado por desafios mais complexos, para nos ajudar”, explicou David Vélez, presidente executivo e cofundador do Nubank, em entrevista exclusiva ao Estado.
A startup tem registrado crescimento acelerado: na última semana, chegou à marca de 20 milhões de clientes, divididos entre o cartão de crédito roxo e a conta de pagamentos NuConta – no início de 2019, eram cerca de 6 milhões de consumidores. Além disso, a startup saltou de 1,7 mil para 2,5 mil funcionários no intervalo entre julho e dezembro de 2019.
Os executivos recém-chegados ao Nubank não são os primeiros estrangeiros a entrar no time de lideranças da empresa. Em 2019, a startup contratou Renee Mauldin, ex-diretora de recursos humanos do Twitter, para liderar sua área de gestão de pessoas, e Krishna Venkatraman, ex-vice presidente de ciência de dados da IBM, para dirigir a divisão de dados da empresa.
Segundo Vélez, a atração de talentos tem sido o maior gargalo da empresa nos últimos tempos e pode ser o maior entrave para o crescimento do ecossistema de startups no Brasil. “Já temos bastante capital e o País tem muitas oportunidades, mas precisamos formar mais desenvolvedores”, afirmou o cofundador do Nubank. Vale lembrar que, no início do mês, o Nubank realizou sua primeira compra no mercado, ao adquirir a consultoria Plataformatec, em busca de seu time de engenheiros. A prática é conhecida no mercado como acqui-hiring (aquisição por contratação, em inglês).
De acordo com o executivo, a empresa tem lançado mão de diversas táticas para resolver esse problema – seja recrutando e treinando profissionais aqui no Brasil, abrindo centros de engenharia fora do País (são três, em Buenos Aires, Berlim e na Cidade do México) e também buscando talentos no exterior. “Gastei 20% do meu tempo em 2019 recrutando pessoas. É difícil, mas vale a pena. Não podemos pensar só em ter o melhor time no Brasil ou na América Latina, estamos competindo em nível global”, disse Vélez ao Estado.
Bolsa e lucro
Em muitas startups, a contratação de um novo diretor financeiro, com experiência no mercado, é um sinal de preparação para a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês). Não é o caso do Nubank, segundo Vélez. “Em algum momento vamos fazer IPO, mas é algo que não chegou nem a ser discutido no conselho. A função do Marcelo será de levar nossa área financeira para outro patamar”, explicou o executivo. Em 2019, o Nubank levantou uma rodada de US$ 400 milhões com o fundo americano TCV, do Vale do Silício. O aporte avaliou a empresa em cerca de US$ 10 bi.
Ele também diz que não há planos de fazer o Nubank operar no azul por enquanto. “Queremos continuar crescendo aceleradamente. Focar em dar lucro agora seria um erro de planejamento, porque ainda há muitas oportunidades para crescer”, disse. No primeiro semestre de 2019 – último resultado divulgado pela empresa –, o Nubank teve receita bruta de R$ 1 bilhão, mas demonstrou prejuízo de R$ 139 milhões. Segundo Vélez, já há operações lucrativas dentro da empresa. “Nosso primeiro produto, que é o cartão de crédito no Brasil, deu lucro em 2019. Mas estamos pegando o lucro e reinvestindo em novos produtos que queremos lançar”, afirmou.
Segundo ele, sua empresa é diferente de WeWork e Uber, que assustaram o mercado no ano passado e fizeram startups rever o conceito de crescimento acelerado, sem pensar diretamente na rentabilidade. “São duas empresas que têm modelos de negócios novos e há dúvidas se eles param em pé. Para o bem ou para o mal, o nosso modelo – que é o de ser um banco – tem milhares de anos”, afirmou. “A novidade é que não cobramos tarifas, o que compensamos quando não temos o custo de ter uma rede de agências físicas.”
Entre as metas da empresa para 2020, estão a de lançar o serviço de empréstimos pessoais para toda a base de usuários, bem como ampliar a base de usuários da conta para pessoas jurídicas. Outra meta é colocar o cartão de crédito roxo à disposição dos usuários mexicanos – por enquanto, apenas testes estão sendo feitos no país.
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