Por que as startups fazem demissões?

Fenômeno é global e é uma correção de valor em relação à euforia da pandemia de covid-19, quando essas empresas de tecnologia foram impulsionadas pela digitalização

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Foto do author Felipe Matos

Nas últimas semanas, acompanhamos anúncios de diversas startups, inclusive grandes unicórnios, como Loft, QuintoAndar, Ebanx, dentre outros, anunciando demissões em massa no País. O que tudo isso significa? Estaríamos assistindo ao estouro de uma nova bolha, como nos anos 2000? Até onde essa onda vai?

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Primeiro, é preciso entender que esse é um fenômeno global, e não brasileiro. Empresas de tecnologia do mundo todo estão demitindo. A causa é, basicamente, uma mudança brusca na macroeconomia global pós-covid, agravada pela guerra da Ucrânia, que aumentou as taxas de juros globalmente e reduziu o apetite por risco dos investidores, atingindo fortemente a atratividade da indústria de venture capital.

Com menos capital disponível e cenário econômico incerto, levantar novas rodadas de capital fica mais difícil. Isso derruba o próprio valor das empresas, especialmente ruim para aquelas que acabaram de captar muito dinheiro com avaliação muito alta: voltar a captar pode significar diminuir de valor. As startups, acostumadas com um paradigma que priorizava crescimento ao lucro, alavancado por muito capital disponível, precisam revisar seus planos e ajustar as contas. Daí vêm as demissões.

Ainda assim, não acredito que estamos diante do estouro de uma bolha. A realidade do mercado de capitais e de tecnologia hoje é bastante diferente. Não vejo avaliações milionárias em cima de apenas ideias nem uma nova corrida do ouro pontocom, pagando valores cada vez mais altos por ativos quase inexistentes. O dinheiro também não secou completamente: está mais seletivo. O que entendo que estamos vendo é uma correção de valor que chega após muita euforia durante a pandemia, quando essa categoria de investimento cresceu muito no mundo todo e mais que triplicou no Brasil. Mesmo considerando a queda de investimentos em relação a 2021, ainda estamos em patamares melhores do que estávamos antes da pandemia.

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Startups unicórnios têm sido as mais afetadas pelo cenário global desafiador Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Enquanto muitas empresas demitem, há também muitas outras contratando. As oportunidades que existiam no País para geração de valor com inovações tecnológicas, melhorando muitos dos nossos diversos problemas com ineficiências e baixa produtividade continuam aqui. Talvez elas estivessem sendo vistas de maneira excessivamente otimista antes, mas provavelmente estão sendo vistas com pessimismo excessivo agora.

Finalmente, a pergunta mais difícil de responder é até onde essa onda vai durar. Ninguém tem bola de cristal e há muitos cenários possíveis.

No mais pessimista, o cenário macroeconômico detona uma nova megacrise mundial, e aí não são só as startups que devem se preocupar. No outro extremo, boas notícias fazem a economia global se recuperar rapidamente e voltamos aos trilhos de crescimento.

O futuro real deve estar em algum lugar no meio do caminho. Enquanto isso, vale a máxima de buscar oportunidades na crise. Investir nessa área pode ser um bom negócio nesse momento para os mais corajosos.

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