Nas ruas de Austin, cidade americana que recebe até o próximo domingo, 18, o South by Southwest (SXSW), principal festival de música e tecnologia do mundo, é impossível não prestar atenção quando o engenheiro baiano Felipe Junquilho, de 32 anos, passa. As pessoas olham para os pés do rapaz, tentando entender o que ele está usando para se locomover. É a MovPak, misto de mochila com skate elétrico criada por sua startup, que já levantou mais de US$ 260 mil via financiamento coletivo.
Apaixonados pela cultura maker (faça-você-mesmo, em inglês), Junquilho e seu sócio buscavam uma saída para quem usa transporte público e precisa andar do ponto de ônibus até sua casa. Eles embutiram um skate retrátil a uma mochila, que ganhou bateria, conexão USB e até um alto-falante. A empresa promete que é possível andar até 10 quilômetros com a MovPak, sem parar para carregar.
As primeiras 350 unidades do produto saíram de fábrica no fim de 2017. Agora, Junquilho se prepara para levar a mochila às lojas pelo mundo – EUA, Europa e Japão estão no alvo. “Estamos mudando a sede de Salvador para Los Angeles e viemos aqui buscar parceiros”, diz.
A MovPak é uma das 77 empresas que representam o Brasil no SXSW, selecionadas pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Desde 2014, a entidade seleciona empresas com potencial para exibir produtos e serviços em Austin. Em 2018, a agência investiu R$ 5,3 milhões em ações durante o evento, alta de 82% em relação a 2017.
Os esforços coincidem com o aumento da participação de brasileiros no SXSW. Segundo a organização, o número de inscritos do País superou 1,3 mil em 2018, consolidando o Brasil como um dos países com maior presença no evento. “Os brasileiros têm potencial de criar negócios globais”, diz Márcia Nejaim, diretora de negócios da Apex. “Aqui, podem mostrar isso.”
Slack brasileiro. Das empresas brasileiras que vieram a Austin em 2018, quase um terço é do setor de tecnologia. O grupo inclui a startup gaúcha Rocket Chat, que desenvolveu uma espécie de ‘WhatsApp corporativo’, mirando um mercado já disputado por Microsoft, Google e a startup americana Slack. “Nossa plataforma é diferente porque é de código aberto”, explica Gabriel Engel, fundador da startup. “As empresas podem instalar o programa em seus servidores e manter conversas em sigilo.”
Criado em 2015, o app tem 2,5 milhões de usuários ativos, incluindo o Banco do Brasil. A empresa já recebeu um aporte de US$ 5 milhões do fundo New Enterprise Associates, que já apostou em Coursera e Duolingo. “Viemos fazer contato com desenvolvedores”, diz Engel.
Volta. Se a participação gera resultados, as startups podem ser selecionadas pela Apex para voltar ao Texas. A startup Beer or Coffee (Cerveja ou café, em inglês), por exemplo, veio ao SXSW em 2016 e exibiu seu app para conectar empreendedores. A visibilidade no Texas fez a empresa, de volta ao Brasil, ser selecionada para um programa de aceleração do Google, onde percebeu que devia mudar seu modelo de negócios.
Hoje, a empresa cobra mensalidades entre R$ 100 e R$ 420 para que o usuário use qualquer espaço de trabalho compartilhado (coworking) de sua rede. “Com a mudança, conseguimos 80 mil assinantes e uma rede de 500 espaços”, diz o cofundador Pedro de Vasconcellos.
Em 2018, Vasconcellos resolveu voltar ao SXSW. Agora, a missão é fazer contatos para iniciar a expansão da startup para fora do País. “Fiz reuniões com executivos de empresas americanas de coworking”, diz. “Seria mais difícil conseguir isso sozinho.”
* A repórter viajou a convite da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)
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