Saiba o que é Web 3.0 e conheça startups que querem faturar com o segmento

“Nova internet” ainda tem conceito incerto, mas já conquista investidores por novidade em tecnologia

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Foto do author Bruna Arimathea
Atualização:

Faz cerca de 15 anos que a internet foi moldada pela ideia de Web 2.0: um modelo no qual as redes sociais são o centro da existência e cada usuário contribui ativamente para a circulação de conteúdo. Agora, porém, um novo paradigma surge no horizonte, a Web 3.0, - e uma geração de startups e investidores nacionais esfrega as mãos para tentar aproveitar as oportunidades que começam a despontar.

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Para entender o que o mercado de inovação enxerga, é necessário relembrar como a web evoluiu. Quando Tim Berners-Lee desenvolveu, no começo dos anos 1990, a World Wide Web, que nos permite acessar a internet por meio de navegadores, ele também inaugurou a era da Web 1.0, focada em conteúdo escrito e conectado por meio de hyperlinks.

O modelo persistiu até o começo dos anos 2000, quando teve início a Web 2.0: os usuários deixaram de ser consumidores e se tornaram ativos na criação de conteúdo. É um modelo no qual a mediação do conteúdo é centralizado por grandes empresas, proprietárias dos serviços e das redes sociais.

Agora, a Web 3.0 aposta que não apenas os usuários são parte ativa da internet, como a mediação desse conteúdo deixará de ser centralizada por empresas - a conexão passa a ser direta, de usuário para usuário - um modelo que lembra vagamente os serviços P2P de compartilhamento de arquivos, como o Napster.

“A promessa da Web 3.0 é justamente descentralizar o poder hoje concentrado nas mãos de grandes empresas e dividir entre todos os seus usuários. Ao ter uma quantidade de usuários poderosos, as empresas vão precisar redesenhar a forma com que se relacionam com seus consumidores, possivelmente apostando em uma relação de confiança”, explica Rafael Ennes, gerente de ciência de dados da DP6, empresa de inteligência.

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Entre as tecnologias vitais para a ideia de Web 3.0 está o blockchain. É uma espécie de conexão de informações em cadeia que é certificada pelos próprios usuários — e não depende de uma grande empresa para atestar que aquela informação é real. Esse é um tipo de artifício que pode ser utilizado no transporte de dados bancários ou pessoais, por exemplo.

Casos

A Parfin, startup criada por Marcos Viriato, é uma das empresas que quer fornecer esse tipo de solução. A startup é uma espécie de pavimentadora dos sistemas que usam blockchain. “É como uma ferrovia: para o trem passar, é preciso que haja o trilho. Nós fazemos esse trilho que as empresas não conseguem ou sabem desenvolver. A tecnologia por trás é complexa, então queremos fazer uma solução para ajudar bancos e empresas a entrarem na Web 3.0. No começo, era muito focado em criptomoeda, agora não é mais”, aponta Viriato.

De fato, o vocabulário não é simples. Entre os produtos, a startup trabalha com a transformação de tokens (uma forma de digitalizar informações físicas para a utilização digital) e com plataformas de NFT (que funcionam como certificados de autenticidade de bens digitais, na sigla em inglês). A companhia promete anunciar um aporte nas próximas semanas, o que reforça o crescimento do tema entre investidores.

Alex Buelau (E), Marcos Viriato e Cristian Bohn (D) são os fundadores da Parfin Foto: Parfin

Já a Galaxies, plataforma de recrutamento de profissionais do mundo gamer, recebeu R$ 4 milhões na última semana, para desenvolver uma plataforma baseada em tokenização para atrair candidatos: conforme o usuário vai cumprindo tarefas no site, moedas (tokens) são acumulados para trocar por cursos e brindes. O acesso básico é gratuito, mas uma versão mais completa é oferecida mediante a assinatura.

Outra startup é a Credix, que trabalha com fornecimento de crédito para fintechs a partir de criptomoedas lastreadas em dólar. Assim, investidores depositam ativos na startup, que os repassa em criptomoeda para que seus clientes. Uma vez oferecido, o crédito “digital” é convertido em reais e entra como crédito para as fintechs.

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Em setembro, a startup belga recebeu um aporte de R$ 60 milhões para focar no crescimento de marketing e produtos para o mercado brasileiro e da América Latina.

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“Começamos a olhar para o Brasil e, falando com fintechs, a dor era sempre em conseguir captar mais financiamento externo de uma forma digital, rápida e eficiente, então construímos uma plataforma de crédito global, conectando investidores com fintechs de crédito na América Latina”, diz Chaim Finizola, fundador da Credix, em entrevista ao Estadão.

Parece ser uma boa aposta. Segundo especialistas, as fintechs podem ser as maiores beneficiadas de um sistema descentralizado para a troca de bens e ativos digitais. “O setor financeiro é o primeiro que deve ser impactado, inclusive com agenda do Banco Central para criar um ambiente regulatório”, explica Renato Valente, sócio do fundo Iporanga. “A gente acha que, uma vez que esse conceito se tornar um pouco mais claro, as fintechs poderão utilizar bastante isso. O blockchain vai permitir que as transações financeiras sejam mais rápidas e mais baratas”.

Futuro

Mesmo com um horizonte cheio de desafios e uma série de conceitos ainda confusos, investidores mantém os olhos bem abertos para o segmento no Brasil. Para Lars Janér, chefe do Fundo Lupa Web3 da KPTL, o País é um cenário certeiro para o desenvolvimento de produtos com a tecnologia.

Segundo o especialista, ainda que os movimentos no mercado estejam apenas no começo, as startups já estão aproveitando a oportunidade para desenvolver tecnologia, e guardar um lugar na fila para abocanhar grandes cheques.

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“A Web 3.0 promete trazer maior controle sobre os dados pessoais e sobre a propriedade de ativos digitais. Assim, caso tenham sucesso, esses projetos podem reduzir a intermediação e o poder das plataformas digitais — que tornam difícil para criadores de conteúdo, por exemplo, monetizarem seu trabalho. Existe também potencial para redução de custos no mundo dos games, da filantropia, dos serviços financeiros e serviços públicos”, diz.

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