Startup Facily, de mercado digital, levanta mais US$ 135 mi e vira novo ‘unicórnio’ brasileiro

Com compras coletivas, empresa quer expandir pelo Brasil e América Latina após quase ter aplicativo suspenso pelo Procon-SP por problemas de atendimento ao consumidor

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Foto do author Guilherme Guerra
Atualização:

A startup Facily, que atua como um hipermercado digital de compras coletivas, anuncia nesta quinta-feira, 23, a extensão de mais US$ 135 milhões em uma rodada de investimento levantada originalmente em novembro de 2021, quando já havia recebido US$ 250 milhões. Com o “chorinho”, a startup supera a avaliação de mercado de US$ 1,1 bilhão, colocando-a como o novo “unicórnio” brasileiro — atualmente, são 22 dessas “criaturas mágicas” no País, com 9 nascidas somente neste ano, recorde para o setor de inovação do Brasil.

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O novo cheque foi assinado pelos fundos Goodwater e Prosus, com a participação da Rise Capital, Emerging Variant e Tru Arrow. É o quarto investimento formal (série D, no jargão do setor) recebido pela Facily, etapa em que a companhia já está com o modelo de negócio testado e começa a acelerar a expansão para outras cidades e países.

O presidente executivo da Facily, Diego Dzodan, conta que os novos recursos financeiros irão permitir a expansão da operação, mas não revela qual a projeção de cidades estimadas para receberem o serviço. Até o fim do ano que vem, a startup deve testar a operação no México e Colômbia, de modo a ver se o negócio pode ser escalado rapidamente. “Essa rodada deixa a nossa estratégia ainda mais forte para 2022”, conta ao Estadão o CEO, que fundou a companhia junto com Luciano Freitas e Vitor Zaninotto em 2018.

O desafio, porém, é crescer em um cenário em que a renda das famílias é pressionada pela alta da inflação, que já passa dos 10% nos últimos 12 meses, e pelo desemprego, que atinge 13 milhões de brasileiros. Para a Facily, a aposta é manter um modelo de negócio de baixo custo final para o consumidor.

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Diego Dzodan é cofundador da Facily, startup de hipermercado digital com compras coletivas Foto: Facily

Como funciona

Atuando como um hipermercado digital, a startup vende alimentos e produtos de limpeza e deve expandir para as categorias de moda, decoração e eletrônicos nos próximos meses. Mas, ao contrário de rivais do comércio eletrônico que deixam as encomendas na porta de casa, é o cliente quem vai buscar as compras em pontos de retirada escolhidos pela startup, o que faz diminuir custos de toda a operação ao tirar das ruas centenas de entregadores e frotas de veículos. Atualmente, existem 12 mil desses centros de distribuição em 9 cidades do Brasil, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro.

Além disso, a Facily é também um “social commerce”, modelo em que plataformas de comércio eletrônico se inspiram em redes sociais para oferecer interação com os clientes a partir de engajamento. No caso da startup, usuários com interesses comuns em compras juntam-se em grupos para ganhar descontos, similar a sites como Groupon. Por fim, ainda buscando reduzir preços, a companhia negocia os itens diretamente com os produtores, pulando intermediários e fornecedores da cadeia de suprimentos.

“Nosso modelo é mais apelativo para quem é mais sensível a preços baixos”, explica Dzodan. Segundo ele, o objetivo é fisgar clientes das camadas mais baixas da pirâmide social, como as classes C, D e E. Outro diferencial é adotar na plataforma o Pix, meio de pagamentos instantâneos em vigor desde novembro de 2020, facilitando que a população sem acesso a crédito faça compras no serviço.

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“No atual contexto econômico do Brasil, vemos que o nosso modelo de negócio ajuda ainda mais os consumidores e, por isso, a pressão para crescermos é ainda maior”, observa o presidente executivo.

Reclamações

Em novembro passado, pouco antes de levantar US$ 250 milhões, a Facily firmou um acordo com o Procon-SP para diminuir em até 80% das queixas de clientes registradas contra a startup — até outubro de 2021, mais de 151 mil reclamações foram feitas no site do órgão de defesa do consumidor, com usuários queixando-se de atraso em entregas, pedidos errados, ausência de reembolsos e produtos vencidos e estragados. Em comparação, o ano anterior somou apenas 25 objeções.

Segundo Dzodan, o rápido crescimento da startup em 2021 desorganizou as operações da companhia, que registrou recorde de 7,1 milhões de pedidos feitos em outubro passado.

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“Crescemos muito mais rápido do que esperávamos, e isso tomou nossa capacidade de entregas. O aumento no volume de pedidos requer mais parcerias e mais treinamento de pessoas, o que toma tempo para desenvolver”, explica. “A plataforma não estava tão pronta.”

Como parte do acordo com o Procon, que cogitou suspender as operações da empresa, a Facily irá indenizar os consumidores lesados e criar um fundo de R$ 250 milhões para melhorar o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da startup. Para cada reclamação não resolvida, a companhia será obrigada a pagar R$ 1 mil a um fundo de defesa do consumidor mantido pelo governo de São Paulo.

“A Facily deverá cumprir todos os pontos estabelecidos no acordo. Caso contrário, iremos aplicar a multa prevista pelo Código de Defesa do Consumidor, que chega a mais de R$ 10 milhões”, afirma em nota Fernando Capez, diretor executivo do Procon-SP.

Agora, a Facily afirma que, com os dois aportes em 2021, o foco está em também aumentar a capacidade logística e melhorar o atendimento aos clientes para otimizar a experiência ao usuário.

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Ex-Facebook cria unicórnio

Nascido na Argentina, Diego Dzodan não é um “startupeiro” sem experiência que conseguiu dar à luz um unicórnio: na verdade, o executivo tem duas décadas de experiência no setor de tecnologia, tendo passado pelo Facebook entre 2015 e 2018, quando foi vice-presidente da companhia na América Latina.

Em 2016, Dzodan ficou conhecido por ter sido preso preventivamente por se negar a fornecer à Justiça brasileira informações privadas de conversas de usuários no WhatsApp, aplicativo do grupo Facebook (hoje rebatizado de Meta). À época, o argentino foi detido por uma noite no Centro de Detenção de Pinheiros, em São Paulo, e acabou liberado pelo Tribunal de Justiça de Sergipe.

“O Facebook me ensinou a compreender a potência das redes sociais para o mercado. A oportunidade de conhecer países que já possuem o social commerce como modelo estabelecido de negócio me deu essa ideia de trazer um serviço similar para o Brasil”, lembra Dzodan, para quem entrar no mercado de inovação foi o passo lógico seguinte na carreira. “O que motivou a minha saída em julho de 2018 foi a missão de vida que me chamava.”

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