Mesmo em um ano de investimentos reduzidos, startups conseguiram aumentar o número de contratos fechados com empresas tradicionais no Brasil. É o que diz o levantamento da 100 Open Startups de 2022, que mapeou a atividade de pequenos negócios e premiou, nesta terça-feira, 8, as startups com mais contratos fechados com grandes companhias no ano.
Com foco na inovação aberta, as startups com soluções voltadas para recursos humanos (as HRTechs) foram os destaques em um ano de demissões e reestruturação de equipes, e ocupam os primeiros lugares entre as empresas de maior sucesso no setor. “Inovação aberta” é o movimento de crescimento de pequenas startups por meio de parcerias com grupos tradicionais e, no Brasil, esse tipo de parceria tem aumentado a cada ano, segundo Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups.
“Estamos em um momento de cultura de inovação. A gente vai ter, cada vez mais, que desenvolver habilidades de lidar com a inovação e ser capaz de absorver essas mudanças. Por isso as HRTechs estão se destacando”, afirma Rondani.
Para figurar na lista, é preciso atender a critérios de atuação em inovação aberta – são consideradas empresas de tecnologia pequenas, aquelas que faturam até US$ 2,5 milhões no ano fiscal e tenham recebido menos de US$ 2,5 milhões em investimentos. Além disso, o número de contratos fechados no ano é essencial para entender como essas pequenas startups estão se saindo no mercado.
Em 2022, as melhores startups do ranking repetiram o resultado do ano passado: das 100 empresas premiadas, 95 já faziam parte da seleta lista em 2021. Ao todo, 25 mil startups e 7 mil corporações formam o cenário de inovação aberta no Brasil, sendo que 3.821 startups e 4.449 empresas se relacionaram no ano passado.
Topo da lista
Nas primeiras colocações, as HRTechs ocupam dois dos três primeiros lugares. O sucesso do setor passa por alguns pontos importantes, todos centrados na experiência da empresa em voltar a atenção para o “material humano” sob o seu comando.
Em primeiro lugar, ficou a Pulses, empresa de gestão de clima dos funcionários, criada em Itajaí, Santa Catarina, em 2018. Com um software que cuida do monitoramento do ambiente de trabalho, a empresa consegue enviar pesquisas e questionários semanalmente para entender as demandas e o que pode ser melhorado no dia a dia dos trabalhadores.
A empresa também oferece, além da assinatura, suporte para que os clientes possam entender os dados gerados no sistema — mas deixa claro que quem faz a “mágica” é o RH das empresas.
“O software permite que uma a empresa mais tradicional saia do mundo de uma escuta antiga do colaborador, que era apenas uma vez ao ano, e passa a ouvi-lo toda semana. Isso é uma prática nova e um grande elemento na cultura das empresas”, explica Cesar Nanci, CEO da Pulses. “A gente ajuda os nossos clientes nisso, mas é o RH que põe a mão na massa e lidera essa mudança de cultura”.
A Aevo, startup que gere uma plataforma onde funcionários podem sugerir produtos de inovação, também aparece no topo, com a terceira colocação na lista. A empresa criada em Vitória, no Espírito Santo, nasceu com o propósito de trazer as ideias dos colaboradores para mais perto dos gestores.
A startup é mais uma que desenvolve software para ajudar em algum tipo de gestão no local de trabalho. No caso da companhia, a intenção é fazer com que médias e grandes empresas criem desafios para que o trabalhador possa sugerir novos jeitos de fazer um produto ou mesmo de melhor funcionamento de áreas internas.
“Os últimos anos colocaram as pessoas nos holofotes das empresas. Mais do que nunca, em períodos de desafios, as pessoas fazem muita diferença. A tecnologia a gente compra e traz para dentro, mas precisamos alavancar as pessoas”, afirma Luis Felipe Carvalho, CEO da companhia.
Com 103 funcionários, a startup fez sua última rodada de captação em outubro deste ano — o cheque foi de R$ 13,65 milhões.
Serviços para governos começam a aparecer
O segundo lugar do ranking deu espaço para a govtech Fonte de Preço, empresa que fornece serviços apenas para órgãos públicos e que tem como objetivo ajudar na comparação de preços de produtos e serviços durante um processo de licitação.
“A gente identificou uma oferta de mercado relacionada à parte de cotações de preços para licitações em um outro trabalho que fazíamos. A gente conseguiu desenvolver esse produto e trabalhar com os órgãos públicos, e isso deu uma perspectiva de crescimento muito grande”, aponta Raffael Escarpini, CEO da Fonte de Preços.
A startup trabalha com uma base de dados em que os clientes podem consultar preços de outras compras públicas e encontrar um valor de referência para o seu próprio processo. Segundo a empresa, isso ajuda tanto a monitorar licitações quanto planejar o próprio processo, evitando superfaturamento de valores em ambos os casos. Atualmente a base já conta com 250 milhões de valores de referência.
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