Startups ‘pequenas’ levantam rodadas, evitam demissões e escapam da crise no 1.º semestre

Ao contrário da queda em investimentos nos ‘unicórnios’, empresas de inovação em etapa inicial viram aportes crescerem em relação a 2021

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Foto do author Guilherme Guerra

Em meio às centenas de demissões realizadas nos últimos meses pelos “unicórnios” (empresas avaliadas acima de  US$ 1 bilhão), as startups pequenas estão resistindo à crise, mantendo a rodada de investimentos e escapando de demissões — ao menos, por enquanto. 

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Os números mostram a força das pequenas. No primeiro semestre de 2022, as startups em estágio inicial (quando o modelo de negócio ainda está em testes ou ganhando escala) levantaram US$ 1,7 bilhão em investimento, alta de 22% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da plataforma Distrito. O relatório indica que os investimentos continuam em expansão desde 2019, mesmo com pandemia, alta nos juros e guerra na Ucrânia. 

Entre as que receberam cheques em 2022 estão nomes como Vittude (saúde mental), Theia (saúde da mulher), Diferente (alimentação), Raízs (alimentação) e Galena (educação)  — é uma indicação de apetite de investidores por novos segmentos.

“Foi uma surpresa”, diz Gustavo Araújo, fundador da Distrito, acrescentando que a empresa esperava alguma correção. “Isso significa que o mercado continua investindo nas pequenas startups, onde existe foco muito maior em equipes e validação de produto, e não em métricas financeiras.”

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O tombo em investimentos veio para os unicórnios, empresas conhecidas pela “fome” de cheques maiores para bancar a expansão em velocidade. Depois do recorde em 2021, quando o setor somou quase US$ 10 bilhões no ano no Brasil, essas companhias de estágio final (etapa que antecede a abertura de capital na Bolsa) viram queda de 68% nos investimentos na comparação semestral, caindo para US$ 1,2 bilhão, aponta a Distrito.

Isso significa que as startups gigantes precisaram se adaptar ao novo momento de menos dinheiro disponível no mercado, o que resultou em demissões. Por outro lado, as pequenas têm capital para continuar seus projetos e são atrativas para investidores, que enxergam essas empresas como apostas de longo prazo.

Navegar na crise 

Embora o setor inicial ainda se mostre atrativo para os fundos, as startups pequenas também se preparam para suportar o mau humor dos mercados. A startup de cuidados de saúde mental Vittude, que levantou US$ 7 milhões em março, desacelerou o ritmo de contratações e teve de rever metas para o ano. 

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Segundo a companhia, o objetivo era contratar até 100 pessoas neste ano, mas hoje o número caiu para 75; e a perspectiva de crescimento deve ser de 3 vezes em relação a 2021, e não 4.

“Com a mudança de cenário, decidimos que não precisamos contratar de forma desenfreada e alongamos mais o espaçamento das contratações”, explica Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude. Segundo a empresária, ao apostar em uma gestão mais tranquila, as admissões de novos colaboradores tornam-se mais assertivas. “Em um ritmo insano de crescimento, você vai sendo atropelado”, completa ela. 

Sem o barulho causado pela euforia das startups gigantes, o modo mais “lento” agrada os pequenos. “Não existe mais o bafo quente em nosso pescoço de que precisa crescer rápido para evitar ficar para trás”, comenta Guilherme Luz, fundador e CEO da Galena, startup de educação que levantou US$ 16 milhões para preparar estudantes para o mundo corporativo. 

Assim como a Vittude, a empresa também alongou o processo de contratações. “Existe uma oportunidade de fazer um crescimento mais consciente, menos abrupto e com menos desperdício, ” diz. 

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Tatiana Pimenta éfundadora da Vittude, startup dedicada à saúde mental Foto: Divulgação

Futuro  

A dúvida agora é se as startups em etapa inicial continuarão invictas ao reajuste já feito no topo da pirâmide. Para Araújo, é possível que algumas startups que levantaram cheques no primeiro semestre tenham começado a negociar rodadas em 2021, quando o mercado de investimento não havia recuado. A real dimensão sobre o segmento deve vir nos próximos meses.

“No segundo semestre de 2022, não vai dar para falar que existe resquício de negociações do ano passado. Já vamos ter rodadas fechadas dentro desse novo ambiente econômico”, aponta Araújo. “Algum tipo de correção deve começar nos próximos meses. Mas essas companhias não devem sofrer tanto quanto as mais maduras.”

A Anjos do Brasil, organização que reúne investidores de startups iniciantes, acredita que 2022 deve continuar em alta. Segundo pesquisa levantada com os membros da associação, deve haver alta de 10% no volume de aportes nessa etapa inicial, mantendo o crescimento de 2021, quando o setor registrou mais de R$ 1 bilhão no País.

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Uma indicação dessa movimentação é que algumas gestoras já levantaram fundos dedicados para os próximos anos. Uma delas a Maya Capital, que irá desembolsar US$ 100 milhões para investir no early stage da América Latina.

É nisso que tem em mente a startup Octa, de reciclagem de peças automotivas. O fundador, Arthur Rufino, confia na janela de mercado: enquanto em 2022 a empresa continua a expansão (o número de funcionários quadruplicou desde o aporte de R$ 8 milhões, em abril), a empresa já flerta com mais investidores. “Provavelmente, a nossa maturação vai coincidir com a reabertura de mercado de capitais”, conta.

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