Startups sofreram em 2022 e miram cautela para o próximo ano

Investidores e empreendedores de tecnologia apostam que 2023 deve trazer consolidações no setor

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Foto do author Guilherme Guerra

Para as startups, parece ter passado uma década entre o fim do ano passado e o fim de 2022. Com a alta global dos juros básicos, o mercado de inovação viu os ventos rumarem para uma direção oposta ao que se observou durante a pandemia: o capital ficou mais caro e as startups observaram diminuir o fluxo de dinheiro vindo de fundos especializados. Como consequência, congelamento de vagas e demissões em massa viraram o “novo normal” e cautela virou palavra-chave para o próximo ano.

O tombo pegou de surpresa um mercado que passou os últimos anos acostumado com crescimento veloz, cheques “gordos” e novas rodadas de investimento quase diárias. Para agravar a situação, a retomada da vida pós-covid diminuiu a necessidade de serviços digitais e a guerra na Ucrânia causou aumento geral dos preços em todo o mundo.

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Nos meses seguintes ao conflito na Europa, fundos de investimento alertaram as startups sobre a chegada de novos tempos. A aceleradora americana Y Combinator afirmou em maio que era para os fundadores se prepararem “para o pior”. Já o fundo Sequoia, uma das maiores gestoras do mundo especializadas em tecnologia, incentivou os empresários a se prepararem para cortes de despesas, o que inclui projetos pouco eficientes e equipes. Lentamente, o mercado começou a se ajustar ao prognóstico mais pessimista que vinha sendo dado pelos “chefões”.

“É difícil resumir o que foi 2022 para quem trabalha com startups”, diz Carolina Strobel, sócia da aceleradora Antler e parceira da gestora Redpoint eventures. “Foi um ano de ajustes,” completa.

No Brasil, as demissões em massa somaram quase 4 mil pessoas entre os “unicórnios”, nome dado às startups com avaliação de mercado superior a US$ 1 bilhão. Segundo levantamento do Estadão, das 24 startups que compõem o grupo, 16 realizaram cortes de dezenas ou centenas de pessoas com fins de enxugamento de custos.

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Reajustes de valor

Renato Ramalho, presidente executivo da gestora KPTL, prefere não considerar o ano de 2022 como uma “crise” – mas tampouco classifica a época como o melhor período para as startups. “Foi estranho, mas houve um aprendizado enorme para não se fazer coisas erradas”, diz.

Segundo ele, a expectativa é que aconteçam também ajustes na avaliação do valor dessas companhias - os números devem ser puxados para baixo (fenômeno batizado de down rounds). “Houve um abuso de empresas em relação à avaliação, ao uso do dinheiro e à consistência que muitas diziam ter”, argumenta.

Carolina concorda que os down rounds devem ser tendência e que houve exageros dos mercados, mas a investidora relembra que isso não é motivo para pânico nem que há uma “bolha estourando”. “Mesmo com a empolgação da pandemia, não há nada parecido com a crise das Pontocom no início do milênio”, diz. “A indústria de tecnologia não vai parar com essa crise.”

Carolina Strobel é sócia da aceleradora Antler e parceira da gestora Redpoint eventures. Foto: Divulgação/Antler

Apostas

Enquanto a palavra de 2022 foi “ajuste”, a máxima do próximo ano deverá ser “cautela”: empreendedores e investidores começam o ano com o pé no freio. Para Pedro Carneiro, sócio da aceleradora ACE Startups, esse cenário muda a forma de fazer negócios das startups.

“As startups precisam agir menos como elas mesmas”, afirma Carneiro. “Não há caixa para tantas tentativas, porque trata-se de um negócio muito propenso ao erro. Elas precisam ser mais inteligentes e aprender mais rápido. Do contrário, pode ser necessário fechar as portas ou diminuir custos da empresa”.

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Especialistas apostam que uma da formas de buscar recursos será por meio dos fundos corporativos de investimento – ou corporate venture capital (CVC). Segundo pesquisa da consultoria de inovação ACE Cortex em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), divulgada em novembro, foram destinados US$ 4,1 bilhões em investimento em CVC no ano passado, enquanto a cifra foi de US$ 635 milhões em 2020. No mundo, o mercado global saltou de US$ 70,1 bilhões em 2020 para US$ 169,3 bilhões em 2021.

Além dos CVCs, há também a aposta em fusões e aquisições (ou M&A). Com o mercado de tecnologia menos aquecido e com avaliações menores, movimentos de compra de outras empresas devem ganhar força.

“O M&A é uma estratégia muito importante de inovação para as grandes empresas e startups”, explica Carolina. Para ela, os próximos dois anos devem apresentar recordes de negócios de aquisições e fusões. “Neste momento do mercado, é mais importante comprar uma empresa do que criar uma companhia do zero para inovar.”

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