Unicórnio, Ebanx vai lançar conta digital e cartão com retorno de 5%

Conhecida por prestar serviços para empresas, principal startup do Sul do País agora olha para o consumidor; produto está em fase de testes e deve chegar ao público geral no segundo semestre

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Durante anos, o curitibano se acostumou a olhar para cima e ver, no topo do Shopping Itália, um dos edifícios mais altos da cidade, a marca do Banco Itaú. Exibido ao lado de um relógio, o letreiro da instituição perdurou no terraço do edifício até 2012. Desde julho de 2019, porém, o espaço voltou a ser ocupado por uma placa de 3,5 metros de altura com o símbolo da Ebanx. Fundada em 2012, a startup paranaense processa pagamentos para empresas estrangeiras como Uber, Airbnb e Aliexpress em moeda local. Em outubro de 2019, se tornou o primeiro unicórnio da região Sul, avaliada em US$ 1 bilhão. Agora, se prepara para entrar num novo tipo de negócio: atender diretamente o consumidor final, com contas digitais e cartão pré-pago. 

Disputa. Número de rivais não assusta Ruiz, da Ebanx Foto: Denis Ferreira Netto/Estadão

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Chamado de Ebanx Go, o projeto tem sido gestado dentro da startup há cerca de um ano, envolvendo o trabalho diário de um time de 30 pessoas. Na última semana, os produtos começaram a ser testados por uma base de 10 mil usuários convidados – uma pequena fração dos 55 milhões de pessoas na América Latina que pagam compras pela internet com ajuda da paranaense. A meta, conta o diretor financeiro e cofundador Wagner Ruiz com exclusividade ao Estado, é colocar a conta digital e o cartão da empresa na mão dos brasileiros no início do segundo semestre. 

Mas a meta da empresa não é fazer o consumidor trocar sua conta corrente de um banco tradicional de imediato – da mesma forma que a empresa não tirou o Itaú do “topo de Curitiba” de uma hora para outra. “O mercado de contas digitais e cartões no Brasil é um oceano vermelho, cheio de concorrência. Eu não entraria nesse negócio se fosse para começar do zero”, diz Ruiz. “Mas com a experiência da Ebanx, nós vemos oportunidades: apesar da disputa, ainda tem muita gente desbancarizada ou sub-bancarizada, só com conta poupança ou sem usar o cartão de crédito. Acredito que temos funcionalidades que podem ser diferenciais”. 

Cartão terá retorno de 5% do valor de compras em parceiros

A principal delas é o cashback: quando o consumidor fizer compras com o cartão da Ebanx em parceiros da startup, receberá 5% do valor da operação de volta em sua conta digital, num prazo máximo de 15 dias úteis. Por enquanto, 18 acordos já foram fechados, incluindo Spotify, AliExpress e a startup de educação online Udacity. “Os sistemas de fidelidade com pontos têm uma lógica confusa e hoje só funcionam para quem gasta muito. Nós queríamos fazer algo simples e para todo mundo”, afirma André Boaventura, diretor de marketing da startup. 

Outro trunfo na mão da empresa é dar acesso a compras pela internet a um público que não tem cartão de crédito, num momento em que ainda são raras as transações virtuais via débito. Assim, a Ebanx criou um cartão pré-pago virtual que pode ser usado como crédito na internet, desde que o consumidor tenha saldo o suficiente em sua conta. A vantagem para o boleto bancário tradicional, afirma a empresa, é que a transação é realizada quase que instantaneamente – e se for feita num parceiro da empresa, ainda pode render retorno. 

Na mão. Conta pode ser ativada por app no Android ou iOS Foto: Ebanx

O consumidor que desejar também poderá solicitar uma versão física do cartão, com bandeira Visa e emitida pela empresa paulistana Dock – a firma, do grupo Conductor, é também o parceiro bancário da Ebanx. Um cartão de crédito convencional e um serviço de crédito pessoal também estão nos planos da startup, mas sem previsão definida. Já a conta digital gratuita tem ainda funcionalidades que se tornaram padrão no mercado de fintechs, como rendimento automático (em torno de 100% do CDI) e transferências gratuitas para outros bancos. 

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“Ainda estamos estudando caminhos. Os 100 mil primeiros usuários é que vão determinar o futuro do produto”, explica Boaventura. Na visão da empresa, se os planos forem bem executados, a meta é chegar a 1 milhão de clientes no País até o final de 2021. Se isso acontecer, a área responsável pelo Ebanx Go deverá quadruplicar de tamanho, chegando a um time de 120 pessoas. Uma expansão latina, como a que começou a ser engendrada pelo Nubank recentemente, também está nos planos – hoje, a Ebanx já atende a região com sua solução de pagamentos entre fronteiras. 

Na visão do empreendedor Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups, o Ebanx Go é um projeto interessante, mas ousado. “É uma tática que vai exigir outra lógica de operação dentro da empresa”, diz o especialista. Para ele, além de bancos tradicionais e digitais, a Ebanx tem ainda um terceiro tipo de rivais: empresas tradicionais que estão se tornando fintechs, como varejistas físicos. “Mas o plano pode dar certo: boa parte do custo de operação da empresa está no pagamento de taxas cobradas pelos bancos emissores de cartão ou na compensação de boletos. Se ela tem um cartão próprio, avança um elo na cadeia e fica mais eficiente.” 

Maquininha de cartão também é passo em estratégia

Pular etapas na cadeia é algo que interessa bastante à Ebanx: além do Ebanx Go, a empresa também já dá seus primeiros passos com sua própria maquininha de cartão, em uma divisão chamada de Ebanx Pay. Por enquanto, o sistema ainda está em fase de testes, em algumas cidades do interior do Paraná, como Cascavel, a 491 km de Curitiba. “Muita gente diz que é um mercado saturado, mas isso acontece nos grandes centros. No interior do País, ainda tem muita oportunidade”, afirma Ruiz. E a integração entre os produtos já está prevista: quem fizer compras com um cartão Ebanx Go numa máquina da empresa também receberá 5% de cashback. 

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Para Edson Santos, consultor e especialista em meios de pagamento, o sucesso do Ebanx Go está atrelado ao futuro do Ebanx Pay. “Hoje, a penetração do cartão como forma de pagamento na região Sul está em 15%, contra 60% na região Sudeste. Há espaço para crescer sim no interior, com os não-bancarizados”, afirma. 

Mas a startup precisará de “execução primordial” para ser vencedora nesse mercado, diz o especialista, uma vez que a concorrência é gigantesca. “Qualquer pessoa hoje tem inúmeras carteiras e é difícil se destacar. Além disso, a forma de depósito de dinheiro na carteira é um problema, porque é trabalhoso, envolve pagar boleto num caixa”, afirma Santos. “Vai vencer aquele que conseguir adicionar a maior quantidade de valor ao seu produto. O cashback é uma boa ferramenta, mas o custo disso é pago mais pelo estabelecimento do que pela Ebanx. É uma tarefa árdua de disposição”. 

Trabalho duro, porém, é algo que a startup paranaense sabe que tem pela frente. “Só fazemos algo novo aqui dentro se tiver o potencial de dobrar o tamanho da empresa. Então é hora de ir em frente”, diz Ariel Patschiki, sócio e diretor da empresa responsável pelo Ebanx Go. 

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