A onda de demissões em fintechs e empresas de tecnologia chegou à Neon, que oferece produtos como conta digital, cartão de crédito, empréstimos e tem mais de 22 milhões de clientes. Relatos de pessoas demitidas foram publicados nas redes sociais ao longo desta quarta-feira, 15, e o número informal é que em torno de 200 funcionários deixaram a fintech hoje.
A startup confirma os desligamentos, mas não o número. “A Neon fez ajustes necessários ao seu quadro de colaboradores como forma de fazer frente aos desafios macroeconômicos deste ano”, afirma comunicado do banco envido ao Estadão/Broadcast. “Com base nos ciclos de avaliação de performance recorrentes e despriorização de algumas iniciativas, o movimento foi difícil, mas fundamental para preservar o que nossa eficiência operacional exige: manter a sustentabilidade do negócio sem onerar o cliente final.”
Na rede social LinkedIn, vários funcionários falaram de seus desligamentos nesta quarta-feira e a reportagem conversou com alguns deles. Lucas Alinson Gonçalves, que estava na Neon há 9 meses, escreveu: “Hoje não está sendo um dia fácil para mim e para outros que trabalharam na Neon, que fez um desligamento em massa”.
Vinicius Belotti, há mais de anos na fintech, postou que hoje pela manhã recebeu a notícia de seu desligamento. “É algo difícil de receber, acho que nunca estamos preparados para isso, mas aconteceu.”
Os agora ex-funcionários estão tentando organizar uma lista de pessoas demitidas e, até às 16h30 da tarde de hoje, havia 50 nomes.
Fintechs abaladas
Um estudo da agência de classificação de risco Moody’s divulgado nesta quarta-feira ressalta que o ambiente mais desfavorável levou a mudanças importantes nas fintechs, que agora oferecem uma menor ameaça competitiva aos grandes bancos. O ambiente de juros altos, maior dificuldade de captação de recursos e economias com menor crescimento dificultaram os modelos de negócios que prometiam crescimento acelerado, mas ainda não eram lucrativos.
O Nubank está entre as poucas exceções de fintechs que continuaram crescendo, segundo a Moody’s, mas lá também houve relatos de demissões. Ao mesmo tempo, bancos digitais, como os europeus N26 e o Monzo acabaram tendo que sair dos Estados Unidos.
Já nomes com a Affirm, fintech de “compre agora e pague depois”, tiveram que fazer demissões pesadas, enquanto outras, com a Xinja, na Austrália, simplesmente deixaram de existir, ressalta o relatório.
Demissões nas startups
Ao contrário do período visto até 2021, as empresas de tecnologia vêm sofrendo pressão com a alta dos juros e o cenário inflacionário, que forçam os negócios de startups a se tornar mais eficientes e rentáveis diante de investidores avessos ao risco. Por isso, com objetivo de enxugar custos, demissões tornaram-se comuns em um mercado conhecido por contratar milhares de pessoas para manter o alto ritmo de crescimento.
Segundo levantamento do Estadão, somente no Brasil, cerca de 4 mil demissões em massa foram realizadas entre startups “unicórnios”, clube de elite do mercado que diz respeito a pequenas empresas de tecnologia de capital fechado com avaliação superior a US$ 1 bilhão. Entre as 24 startups nacionais, 20 realizaram grandes cortes com fins de enxugamento de custos.
O quadro, porém, também atinge o mercado de startups de modo geral, sem incluir os unicórnios. A healthtech Alice cortou mais de 170 pessoas até dezembro de 2022, enquanto a Buser enxugou em 30% o pessoal, cerca de 165 funcionários, e a Pier dispensou 111 pessoas. Esses números, no entanto, não compõem o levantamento do Estadão.
Entre as grandes empresas de tecnologia, as demissões somam mais de 85 mil pessoas. Entre as Big Techs, realizaram cortes de milhares de pessoas a Microsoft, Google, Amazon e Meta. / COM GUILHERME GUERRA
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