A plataforma de e-commerce Vtex, que integra o rol dos "unicórnios" brasileiros (startups avaliadas em US$ 1 bilhão), realizou demissões em massa de funcionários da companhia nesta quinta-feira, 26.
A Vtex informa que 193 pessoas tenham sido demitidas, em comunicado enviado ao Estadão. A startup possui ao menos 1,7 mil funcionários, de acordo com a página da companhia no LinkedIn. Entre as áreas afetadas, estão profissionais de produto, experiência do usuário, design, engenharia e growth.
Os cortes na empresa ocorrem semanas após uma sequência de desligamentos nos “unicórnios” (startups avaliadas em US$ 1 bilhão) nacionais, incluindo Olist, QuintoAndar, Loft e Facily. Outras startups brasileiras, como LivUp e Zak, também realizaram desligamentos neste ano.
Para ajudar na recolocação dessas pessoas no mercado, uma planilha com os nomes e contatos dos demitidos da Vtex começou a circular em redes sociais logo após o comunicado. Apesar de a Vtex afirmar que iria ajudar os funcionários com a transição, os demitidos não sabem se terão benefícios de requalificação no mercado de trabalho, como fizeram outras startups. Até o momento, dizem os demitidos, fala-se apenas em garantir o plano de saúde até agosto.
"A decisão de reduzir nossa força de trabalho foi tomada como um julgamento estratégico sobre qual estrutura organizacional pode entregar nossas prioridades ajustadas e alinhadas a esse ciclo orientado a crescimento com eficiência", afirmou a Vtex no comunicado.
O corte acontece após a empresa realizar o Vtex Day, evento de dois dias que, entre outros nomes do mercado de inovação, contou com a presença do piloto heptacampeão mundial de Fórmula 1 Lewis Hamilton. Os ingressos para o evento tinham ingressos entre R$ 690 e R$ 3 mil.
A Vtex abriu capital na Bolsa dos Estados Unidos no segundo semestre de 2021 e chegou a levantar US$ 360 milhões no IPO, considerado um sucesso por investidores. No entanto, desde o derretimento do mercado de ações, em especial em 2022, a companhia encolheu 44% em valor de mercado, sendo avaliada em US$ 815 milhões — valor menor que um unicórnio.
De acordo com um dos demitidos, que pediu para não ser identificado, uma dos pontos críticos nos últimos meses foi o crescimento desordenado, principalmente após o IPO da empresa. Para o profissional, as contratações teriam sido feitas em números acima do suportado pela companhia, afirmou. A fonte diz ainda que alguns dos demitidos haviam ganhado reajuste de salário antes do corte.
Um outro ex-funcionário afirmou que participou de uma reunião com o comando da companhia há duas semanas, na qual foi comunicado que a empresa iria entrar no modo de "alta eficiência" por conta da crise no mercado.
Mau tempo
A virada no ambiente de startups foi sinalizado ainda em abril. Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano devido aos maus resultados das empresas nas quais investe — as informações são do jornal Financial Times.
Embora as startups brasileiras tenham sido impulsionadas na pandemia, o cenário internacional atual tem novos elementos. A alta global nos juros básicos e a guerra na Ucrânia assustam os mercados internacionais, que buscam ativos seguros e têm menos apetite por risco. Em outras palavras, os fundos de investimento, que enchem o tanque das nossas startups, deixam de ser tão atrativos. Assim, há menos capital para que elas possam manter o crescimento dos anos anteriores.
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