A startup Wildlife, especializada na criação de games, reduziu entre 150 e 200 pessoas do quadro da empresa, apurou o Estadão com ex-funcionários da firma. À reportagem, a companhia confirmou a “redução no time”, mas não quis confirmar o número.
Os cortes aconteceram na última segunda-feira, 28, e afetaram todas as áreas da empresa, segundo as pessoas demitidas. Em mensagens públicas na rede social LinkedIn, especula-se que o número seja de 20% da startup — a página oficial do estúdio na rede social diz que possui 1.123 pessoas contratadas, enquanto o site oficial diz que há 800 funcionários.
Após as demissões, uma planilha circulou pela internet com os nomes dos demitidos, chegando a pelo menos 100 pessoas listadas até a publicação desta reportagem. Os demitidos são pessoas das áreas de backend, software, análise de dados, artistas 3D, design, trilha sonora e animação, entre outros, incluindo funcionários da Argentina.
Ex-funcionários foram ao LinkedIn pedir ajuda para encontrar novas vagas, caracterizando o corte como “massivo” e “grande”.
Demissões em startups
A WildLife afirma, em nota à reportagem, que está interrompendo o desenvolvimento de atividades não relacionadas a games para dispositivos móveis para “aumentar o foco no que nos fez bem-sucedidos, o desenvolvimento de jogos”. O estúdio é conhecido pelos jogos Tennis Clash e Sky Warriors.
Em 2019, o estúdio foi avaliado em US$ 1 bilhão, tornando-se o 10º “unicórnio” do Brasil — nome dado às raras startups que atingem o marco bilionário de avaliação de mercado. À época, ao Estadão, a companhia havia dito que pretendia ser “a Nintendo dos games para celulares”, em referência à companhia japonesa dona de títulos conhecidos do público, como Super Mario.
Em 2020, a Wildlife levantou US$ 120 milhões junto a investidores internacionais. No ano seguinte, a firma, fundada em 2011 pelos irmãos Arthur e Victor Lazarte, recebeu denúncias de mau ambiente de trabalho, de acordo com reportagem de dezembro de 2021 do site Rest of World — a companhia nega as acusações.
“Somos gratos pelos membros de cada equipe que nos ajudaram a chegar até aqui e estamos trabalhando para ajudá-los a encontrar novas oportunidades”, conclui a nota.
Crise é grande entre ‘unicórnios’
Conhecidas por contratar centenas de funcionários ao mês, as startups têm realizado centenas de demissões pelo mundo — o fenômeno não é exclusivo do Brasil. O período tem sido batizado de “inverno das startups”, após a onda positiva causada pela digitalização da pandemia nos últimos dois anos.
Segundo especialistas consultados pelo Estadão nos últimos meses, as demissões ocorrem como reajuste de rota em meio à alta global nos preços e à guerra da Ucrânia, que desorganiza a cadeia produtiva mundial. Nesse cenário, investidores viram as costas para investimentos de risco, como startups. Com isso, levantar rodadas tem sido mais difícil do que durante a pandemia, quando o apetite dos investidores por risco era maior.
O processo tem sido especialmente duro com as startups maiores, que estão no momento conhecido como “late stage”. Nesse estágio de maturidade, as empresas queimam dinheiro velozmente na tentativa de crescer e ganhar mercado - sem o dinheiro, elas precisam preservar caixa para sobreviver.
Entre os unicórnios nacionais que já fizeram demissões em massa em 2022 estão Loggi, QuintoAndar, Loft, Facily, Vtex, Ebanx, Mercado Bitcoin, Olist, Unico, Hotmart e Dock. A mexicana Kavak, maior unicórnio da América Latina, também fez cortes severos na operação brasileira.
Fundos de investimento alertaram as startups sobre o cenário desafiador nos primeiros meses do ano. O investidor Masayoshi Son, presidente do SoftBank, um dos maiores investidores de startups no Brasil, disse em abril que o conglomerado japonês deve reduzir os investimentos em empresas de tecnologia neste ano.
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