Renato Cruz ESPECIAL PARA O ESTADO
Com o auxílio de máquinas, uma pessoa consegue fazer o trabalho de várias, aumentando a eficiência. Mas não é só isso. A tecnologia permite reduzir erros e encurtar prazos, além de fazer coisas que não seriam capazes de ser feitas a mão.
A robotização das fábricas já vem do século passado. Mais recentemente, empresas têm adotado sistemas especialistas, que conseguem tomar decisões a partir de um volume de dados que um profissional humano dificilmente conseguiria abarcar.
Estudo da consultoria BCC Research apontou que o mercado de “máquinas inteligentes” somou US$ 5,3 bilhões em 2013, e deve chegar a US$ 15,2 bilhões em 2019, o que representa um crescimento médio anual próximo de 20%. Apesar de usar a palavra máquinas, o estudo também inclui software, abarcando sistemas especialistas, robôs autônomos, assistentes digitais, sistemas embarcados e neurocomputadores.
Segundo o relatório, essas máquinas são definidas, entre outras características, pela capacidade de se adaptar e aprender a partir de mudanças em tempo real, de operar autonomamente (sem supervisão humana), e de serem capazes de se comunicar com outras máquinas.
A ficção é cheia de seres dotados de inteligência artificial, como o androide tenente-comandante Data, da série Star Trek; o computador de bordo HAL 9000, do filme 2001; e os ciborgues assassinos dos filmes Exterminador do Futuro. Mas, na prática, o que chegou ao mercado até agora foram sistemas muito mais simples e especializados.
No ano passado, o Bradesco fechou um acordo com a IBM para ser o primeiro usuário no Brasil do Watson. O sistema de inteligência artificial ficou famoso em 2011 ao vencer humanos no programa de perguntas e repostas Jeopardy, mesmo sem estar conectado à internet. O Watson fala e entende o que as pessoas falam.
“Estamos começando agora”, disse Marcelo Ribeiro Câmara, gerente do Departamento de Pesquisa e Inovação Tecnológica do Bradesco. “O Watson ainda nem fala português.” As primeiras aplicações devem começar a rodar em meados deste ano. Desenvolvido em inglês, o Watson está aprendendo a língua portuguesa.
O Bradesco vê potencial, a princípio, em aplicar o Watson a três áreas: atendimento a clientes, treinamento de funcionários e gestão de fortunas. Nos dois primeiros casos, a principal vantagem seria o entendimento da linguagem natural. No terceiro, a capacidade de o computador analisar um volume muito grande de dados não estruturados, como relatórios e notícias financeiras.
A IBM negocia atualmente outros seis acordos de uso do Watson no Brasil. Segundo Fábio Scopeta, líder do Centro de Competência Watson para a IBM América Latina, esses clientes estão nas áreas bancária, de varejo, industrial e de saúde. “O campo de saúde tem chamado muito a atenção”, disse. O Watson pode ser usado para dar assistência ao médico, já que é capaz de analisar milhares de publicações médicas antes de sugerir um diagnóstico. “Imagine que a especialidade é oncologia: o sistema tem acesso a um volume maior de informações do que o melhor profissional da área consegue ter”, explicou Scopeta.
Depois de aprender o idioma português, o Watson precisa ser treinado na área de conhecimento em que vai atuar. “Uma vez que esteja treinado, ele vai aprender de forma infinita”, disse. O Watson é um exemplo do que vem sendo chamado de aprendizado de máquina, em que um sistema aprende com a própria experiência.
Máquinas autônomas
Já existem robôs industriais que não precisam ser programados, como o Baxter, da Rethink Robotics. Ele tem dois braços mecânicos e um monitor onde seria o rosto. No lugar de programá-lo, alguém movimenta seus braços uma primeira vez para ensiná-lo como trabalhar. Ao contrário da maioria dos robôs industriais, o Baxter consegue trabalhar lado a lado de humanos, pois possui sensores para evitar que ele machuque alguém.
Segundo o estudo da BCC Research, o mercado de máquinas inteligentes ainda é dominado por sistemas especialistas, que responderam por 57% das vendas em 2013. Em 2014, no entanto, a expectativa era de que fossem ultrapassados por robôs autônomos, com US$ 13,9 bilhões em vendas mundiais, comparados a US$ 12,4 bilhões dos sistemas especialistas. Os carros que não precisam de motorista, como o que está sendo desenvolvido pelo Google, são considerados robôs autônomos.
Atualmente, muitos dos chamados sistemas especialistas são aplicações de outras tendências quentes do setor de tecnologia, como análise de dados, big data e internet das coisas.
Algumas operadoras de telecomunicações, por exemplo, já têm sistemas de análise de infraestrutura que permitem prever falhas e melhorar o trabalho das equipes de campo. Bancos de investimento usam algoritmos para negociar papéis financeiros em alta velocidade, tirando vantagem de diferenças de cotações em milésimos de segundo. De acordo com reportagem da revista Wired, a Hyundai Motors conseguiu reduzir o tempo de produção de seus carros em 20%, ao adotar sistemas de inteligência artificial.
Uma área importante mapeada no estudo da BCC Research é a dos assistentes pessoais digitais, como a Siri, da Apple; o Google Now; e a Cortana, da Microsoft. Há uma década pareceriam coisa de ficção científica, mas foram incorporados naturalmente à vida de milhões de pessoas.
(Clique na imagem para ampliar)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.