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Os desafios que todo o empreendedor enfrenta – mas ninguém fala

O impacto da inovação e da tecnologia num mundo pós COVID-19

Quero compartilhar algo que ocorreu comigo. Tive um sonho bem doido, que acontecia após a pandemia da COVID-19. Sonhei que estávamos unindo nosso senso de humanidade com inovação e a tecnologia. E juntos estávamos começando a desenhar um futuro melhor.

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Por Vinícius Machado
Atualização:

Um sonho com várias facetas

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Sonhei que logo que o pior efeito passou, a sociedade civil se organizava rapidamente para atender as diferentes necessidades dos seus países. Comecei reparando as atividades que estavam rolando no Brasil. Não consegui perceber quanto tempo era após a crise. Mas estava claro que era pouco depois de terem anunciado a cura definitiva e já tendo casos positivos por todo o mundo.

Estava sendo fortalecido um senso coletivo de ajuda e que todos começariam a pressionar seus governantes a criar programas estruturados para que todos estejam sempre preparados. Pois, agora todos entendiam que a COVID-19 era apenas uma das possíveis catástrofes que a humanidade passaria no futuro.

As coisas pareciam que iam mudar mais do que nunca. Existia no ar uma sensação de que precisávamos ser mais próximos. Todo o distanciamento social só nos fez perceber que precisamos mais uns dos outros. E que não podemos só apenas dar desculpas ou xingar nas redes sociais, que precisamos fazer algo. E algumas coisas me chamaram atenção:

Empresas usando marketing positivo e voluntariado para se diferenciarem

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As empresas começaram a levar mais a sério programas de voluntariado e doações. Usando isto até como benefício de marca, para atrair mais talentos e para se manter relevante para seus clientes. Os empresários estavam começando a pressionar por um programa de benefícios fiscais baseado num novo índice de voluntariado que estavam conseguindo. Algumas até olhavam isso como metas. Nunca teve tanta gente aplicando para o Sistema B. E tudo isto era coordenado em conjunto com o Sebrae, Sistema S e o Ministério da Família e da Mulher.

Um futuro mais conectado. Imagem de Robynne Hu - Unsplash.  

O empreendedor de pequeno porte no centro das atenções

Começamos a dar mais valor para o pequeno. E não apenas para o mercado ou banca da esquina, mas para o informal também. Várias startups começaram a criar serviços para educar e dar introdução de gestão e marketing digital. As empresas de telefonia estavam apoiando programas de inovação aberta e aceleração focados em fintechs, ed techs e várias 'techs que já começariam a vir pré-instaladas em aparelhos. Eu lembro de ouvir alguém batizando isso de Celular do Empreendedor ou SmartEmpreendedorismo.

Nos lugares físicos como restaurantes, as pessoas passaram a usar mais pagamento sem contato (contactless payment). E quase todo restaurante estava em uma das centenas de startups de doação de centavos para causas ligadas a dar recursos para os mais pobres. Em alguns países se falava que a nova etiqueta era doação de pelo menos 5 centavos junto com a gorjeta. Quem não doava começava a ser mal visto na sociedade. E vídeos virais de doação e trabalho voluntário explodiam nas redes sociais.

O futuro deixava de ser algo distante ou idealizado.

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As pessoas começaram a se preocupar mais com o futuro. Isso se refletiu em como o consumo estava sendo pensado. Muitas pessoas que puderam ficar em casa, perceberam que podiam consumir menos supérfluos. O foco em imunidade, corpo são e mente sã nunca fora tão grande. Vi vários amigos falando dos aplicativos de mindfullness e também um maior interesse em alimentação saudável.

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Alguns começaram a ver um interesse maior em agricultura familiar e esta era uma parte da economia que estava cada dia mais forte. A Embrapa já mostrava os números de pesquisa e também estava para lançar um desafio de inovação nacional.

As pessoas formadas em design thinking, facilitação de grupos e métodos ágeis começaram a ser mais procuradas. E o que me surpreendeu é que foi o governo que deu início a este movimento. Algumas prefeituras do interior perceberam que deveriam ser mais econômicas e inteligentes com suas verbas. Elas percebiam que poderiam ser mais tecnológicas, mais ágeis e por isso estavam interessadas neste movimento.

E os resultados se mostravam em squads dentro das secretarias locais e nas câmaras. Além de rolar um movimento de formação de conselhos ágeis nos lugares: grupos de pessoas que se juntavam a ONGs e ao poder público para ajudar em pequenos projetos temporários. Aos poucos isto estava sendo noticiado e as capitais começaram a perceber que isso poderia ser algo importante a adotar. Mesmo por uma questão de ganho de imagem política.

Repensando os espaços públicos e compartilhados

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Os lugares públicos começaram a adotar um esquema maior de rodízio e uso compartilhado. As pessoas estavam ainda com certo receio de aglomerações. Eu via uma galera de máscaras tomando sol nas praças, aproveitando os novos mobiliários urbanos feitos em oficinas makers para a galera usar o wi-fi público. Além de rolar mais aulas de ioga. Alguns diziam que alguns moradores estavam contratando treinadores coletivos. Assim mais pessoas ficavam mais fitness de manhã cedo e nos finais de semana. E já tinha um movimento de oficializar barraquinhas temporárias de comida, café e sucos nas praças. Primeira vez que eu via uma baiana servindo acarajé com uma máscara toda enfeitada, linda! Era sinal de um novo respeito por saúde.

Vi alguns defendendo um movimento de criar treinamentos nas escolas para crianças aprenderem a agir em situações de incêndio. Outros falando que eram apenas os jovens a partir de determinada idade. Mas no geral entendia-se que precisávamos nos preocupar mais em estar prontos. Além do que vinha um movimento forte que acho que se chamava Aumentando sua Mesada. Que ensinava noções de empreendedorismo e gestão para os jovens, que aprendiam a como controlar mais seus gastos. Assim não passariam os mesmos apertos que os pais passaram na época da COVID-19. E movimentos imitando o projeto Limonada apareciam aos montes.

A saúde e a telemedicina

A Telemedicina não retrocedeu. Foram criados novos protocolos e as pessoas já podiam usar kits para facilitar o diagnóstico em casa ou imprimir em FAB Labs. Já tinha todo um movimento de Open Maker Tele Medicine. Eu estava de olho nos equipamentos que davam suporte para fazer alguns exames em casa.

Alguns especialistas acreditavam que o movimento de wearables só ia explodir mais, ao passo que a preocupação com a segurança dos dados aumentava. Agora se falava mais ainda em organização aberta e via blockchain dos dados médicos das pessoas. Eu acho que alguém estava falando de Health Wallets. Algo do tipo.

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Eu via também que as farmácias começaram a implementar umas cabines cheias de sensores. A ideia era ajudar em exames que as pessoas não podiam fazer em casa.

Os planos de saúde estavam trabalhando com as startups para criar uma rede de apoio. Quem tinha exames mais simples não pisava mais em clínicas. A preocupação era grande de não continuar superlotando os hospitais. E os planos intensificaram um trabalho de educação em noções básicas de saúde e de higiene. Programa que foi elogiado pelo Ministério da Saúde. A ministra chegou até a dizer que eles deveriam ter pensado nisto antes.

O impacto na relação com o trabalho

O trabalho em escritórios mudou muito também. As empresas que podiam, estavam adotando em massa treinamentos para trabalho em home office. Isso deu um boom nos treinamentos online e na compra de webcams, microfones e laptops mais leves e potentes. O escritório era utilizado, mas com flexibilidade. Os RHs estavam começando a inserir nos onboardings as instruções sobre segurança da informação e também sobre os novos benefícios contratados, como consultas sobre saúde mental.

Era mais normal a adoção de robôs para tarefas simples. As pessoas que podiam, não queriam mais se arriscar em coisas desnecessárias. E a inteligência artificial estava bombando como nunca se imaginou. Todo mundo queria baixar vozes com seus sotaques para suas assistentes pessoais inteligentes. Que além dos celulares, estavam nas casas e também em totens em shoppings e grandes centros comerciais.

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Ainda estávamos lutando com a falta de "cérebro de obra" especializada. Mas muitas pessoas estavam buscando se recolocar através de cursos online. O mais curioso era perceber que vários mecânicos estavam entrando nos cursos de adaptação para consertar as novas máquinas. Eles estavam se saindo muito bem.

Chegando perto do fim do sonho e começando uma realidade possível

Eu no meio de tudo, fiquei com algumas sensações: - Parecia que a inovação era uma palavra menos estranha. - Parecia que as empresas estavam liderando vários projetos contratando mais profissionais de inovação, design e até psicólogos. - Parecia que as pessoas que torciam contra o avanço positivo iam ficando cada vez mais com vergonha de serem negativas. Era quase um bullying reverso, para tentar explicar de forma simples. As pessoas falavam de projetos bacanas quando alguém citava algo ruim. Eu acho que tinha uma campanha chamada #ContraPontoPositivo, se me lembro bem... - No final as pessoas estavam mais atentas ao outro e mais preocupadas com o futuro. - O digital foi mais aceito e até mais procurado pelos que eram céticos. Tanto que as empresas de telefonia começaram a fazer planos diferenciados para empresas, com pacotes de home office ao lado dos pacotes família.

Eu acabei acordando sem conseguir ver todos os efeitos desse novo mundo. Eu estava sonhando acordado. Perdido em meus pensamentos e viagens sobre um futuro melhor. E fiquei querendo muito que tudo isto se torne real.

Acredito que tem coisas que podem ser até melhores do que eu sonhei. Agora, falta mais engajamento conjunto e menos FLA X FLU político. Precisamos refletir mais e usar o que temos de positivo e inovador para isso. Eu despertei querendo que o mundo despertasse também. Minha intenção é trazer inspiração para um mundo melhor.

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E você, tem se permitido pensar no futuro? Com que mundo inovador você sonha após essa pandemia? Conta pra mim.

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