Até pouco tempo atrás, texto no celular era sinônimo de mensagens SMS. Com o crescimento das vendas de smartphones, no entanto, o telefone foi adaptado para um fim inesperado: a leitura de livros. Só o Stanza, um programa de leitura específico para o iPhone, foi baixado por 2 milhões de usuários em 2009 e registrou o download de 12 milhões de livros. Já popularizada no Japão e na Coréia do Sul, a prática começa a ganhar adeptos no Brasil, que já tem até uma editora especializada na publicação de obras para o aparelho. Inaugurada em novembro de 2008, a editora gaúcha Plus (www.editoraplus.org) é a primeira a disponibilizar o seu catálogo, formado por livros eletrônicos inéditos, para o dispositivo. Sem fins lucrativos, a Plus é uma organização que tem como objetivo a popularização dos e-books no País. Capistas, revisores, diagramadores, críticos e autores: todos os envolvidos são voluntários. Registrados em Creative Commons (licença alternativa ao copyright), todos os títulos são gratuitos tanto para os leitores quanto para os autores, que arcam apenas com o registro de R$ 49 exigido pela Biblioteca Nacional. "Não queremos tomar o dinheiro de ninguém, apenas fazer que as pessoas não tenham mais desculpas para deixar de ler", explica Eduardo Melo, diretor da editora que, desde janeiro, disponibilizou dezessete lançamentos. O editor vê nos dispositivos portáteis (celulares e e-readers) o futuro da publicação, mas acredita que o mercado literário brasileiro ainda não consegue ver além do papel. "É um caminho totalmente inexplorado por aqui. Muito em breve os meios digitais serão rentáveis. O problema é que as nossas editoras são como avestruzes, estão todas com a cabeças embaixo da terra", alfineta. Projetos semelhantes ao da organização gaúcha podem ser vistos, em um estágio mais avançado, no exterior. Um exemplo é o Books In My Phone (www.booksinmyphone.com), que reúne tanto obras inéditas de autores estreantes quanto clássicos da literatura como Balzac e Tolstoi. Mesmo que não pareça lá muito confortável ler um calhamaço como Guerra e Paz no telefone, esse é um mercado em crescimento. Tanto é que até a Amazon, fabricante do Kindle, estuda vender ao menos uma parte de seus cerca de 350 mil e-books também para telefones celulares. Os dispositivos para leitura eletrônica como o Sony Reader e o próprio Kindle sem dúvida são mais apropriados para baixar livros do que celulares, já que usam a tecnologia da tinta eletrônica e têm controle de luz para não irritar os olhos. O problema ainda é o preço. Uma pesquisa da consultoria Forrester Research afirma que os e-readers não serão populares até que seus preços caiam para cerca de US$ 50, ou R$ 92. O Kindle DX hoje custa US$ 489, enquanto o Daily Edition, lançado pela Sony na semana passada, fica em US$ 399. A estratégia da Sony para bater a Amazon é converter sua livraria digital de mais de 1 milhão de títulos, para o formato EPUB, padrão para publicação que permite a leitura de livros em diversos aparelhos. Inclusive nos acessíveis celulares.
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