Em um galpão enevoado e na calada da noite, um robô, o androide verde que simboliza o sistema operacional de celulares e tablets do Google, recebe dois polegares em uma cirurgia improvisada, à la Frankenstein, que adapta as mãos do protótipo aos controles de videogame. “Android está pronto para jogar”, finaliza a propaganda da Sony exibida no intervalo do Super Bowl, a maior audiência da TV americana.
O anúncio mostra que os rumores (mal escondidos) de um PSP Phone eram mesmo reais, e que a marca trabalhava em adaptar o sistema aberto do Google para rodar jogos mais pesados, com os do próprio PlayStation portátil. O equipamento se chamará Xperia Play e será lançado na semana que vem na Mobile World Congress, em Barcelona, que acontece entre os dias 14 e 17 de janeiro.
A feira contará com anúncios de produtos, discussões sobre web, hardware e software, mas focando nos aparelhos e nas possibilidades das plataformas móveis. Entre os conferencistas, estão o ex-CEO e atual “conselheiro” do Google Eric Schmidt, Steve Ballmer (Microsoft) e Jack Dorsey (criador do Twitter e da Square, startup de pagamento móvel).
Além das palestras, o evento trará anúncios que mostram a complexa engrenagem que rege o mercado que gira em torno de celulares, sites, aplicativos e interfaces móveis. A batalha entre Apple, Google e Microsoft se dá através dos sistemas operacionais, mas a dona do maior buscador do mundo é sem dúvida o destaque maior do evento de 2011, e não só por causa do lançamento do que parece ser o primeiro celular com capacidade de dispositivo portátil para games e com a facilidade de download de um app.
Android x iOS O mais bem sucedido dos equipamentos Android e o concorrente mais direto do iPhone, o Samsung Galaxy S, virá em nova versão, servindo provavelmente de instrumento para popularizar o sistema aberto do Google – empresa que agora será comandada por Larry Page e que começou o ano apostando forte na estratégia mobile.
Na batalha do Google contra a Apple pelo domínio do enorme mercado real e potencial dos sistemas de celulares, a disseminação dos nomes Android e iOS pelo maior número de equipamentos é crucial para delimitar que tipo de ambiente digital – aberto ou fechado? Pago ou gratuito? Funciona ou não? – os consumidores e usuários dos serviços móveis desfrutarão.
Mais do que nos telefones, o Android e o Google estarão presentes também em tablets, como o G-Slate da LG, que virá equipado com display de imagens tridimensionais e rodando a adaptação Honeycomb, interface de uso e visualização que a companhia desenvolveu e lançou recentemente para tentar dominar o mercado dos tablets.
Por enquanto, o iOS é arrastado como o líder absoluto pelo pioneiro iPad. Além disso, a Apple vem inovando ao tentar criar uma economia que adicione um conteúdo peculiar e “exclusivo” a seu tablet. Recentemente, uma parceria com Rupert Murdoch fez nascer o The Daily, primeiro jornal pago produzido especialmente para o iPad – através de um sistema de assinaturas adicionado pelo sistema, especialmente para a estreia do projeto (ainda não há versão para Android). Tudo isso em meio a rumores de que em breve será lançado um iPad 2.
Os equipamentos programados para vir a público na próxima semana podem alterar o domínio do mercado de aplicativos, hoje concentrado nas mãos da empresa fundada por Steve Jobs e comandada, provisoriamente, por Tim Cook.
E até o Facebook, que disputa a audiência web com o Google, entra na história. A HTC, que no ano passado criou o naufrágio que foi o Nexus One, do Google, agora virá com dois modelos voltados à rede social (mas sem a participação dela no negócio). Haverá um botão dedicado ao Facebook na carcaça minimalista.
As intenções se confundem nessa esfera em que convivem iniciativas tão díspares quanto a Nokia e o Foursquare. Com a internet móvel crescendo na América Latina e na África e espalhando a web pelo que resta do mundo, não poderia ser diferente.
—- Leia mais: • Link no papel – 14/02/2011 • Mobile World Congress 2011
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