LOGIN | Gilliard Lopes, produtor da EA Sports, responsável por Copa do Mundo FIFA Brasil 2014
A cada quatro anos, duzentos milhões de técnicos ocupam a beira do gramado e se vestem de verde e amarelo para palpitar sobre o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo. Mas, para uma parcela razoável desses duzentos milhões, também é a hora de pegar nos controles e se preparar para viver, ou pelo menos simular com muita empolgação, a emoção de jogar uma Copa do Mundo e levantar a Taça FIFA com os games oficiais do maior campeonato de futebol do mundo.
Em 2014 não é diferente: FIFA World Cup 2014 chega às lojas de todo o Brasil nessa quinta-feira, com mais de 200 seleções, doze modos de jogo diferentes e narração da dupla Tiago Leifert e Caio Ribeiro. O produtor brasileiro Gilliard Lopes, parte da equipeque produz o game na EA Canadá, conversou com o Link sobre as novidades desse jogo, música em games de futebol e o realismo dentro e fora do campo.”O momento do videogame é um momento de relaxar, e tentar ser capaz fazer do que o Neymar faz sem precisar ser o Neymar”, avisa ele, antes do apito do juiz soar. Vamos lá?
FIFA World Cup 2014 tem sido anunciado como um jogo para agradar tanto o fã de games de futebol como aquele cara que nunca jogou um game de futebol. O que esse iniciante vai encontrar no jogo da Copa?
É um jogo com muita cor, muita música, com a temática e a ambientação da Copa. O jogo ficou mais acessível, com um nível para iniciantes, ainda mais simples, e tentamos deixá-lo mais realista. Simplificamos as batidas de pênalti e tentamos deixá-lo especialmente divertido. É, isso: a diversão vem em primeiro lugar.
O jogo traz, mais uma vez, Tiago Leifert e Caio Ribeiro como narrador e comentarista, respectivamente. Essa é uma parceria que deu certo?
O Tiago e o Caio são a cara do FIFA! Eles entendem não só de futebol, mas também sabem falar com quem gosta de videogame: na verdade, a narração em português brasileiro é a única em que os narradores falam curiosidades sobre games, além de falar de futebol. É algo que, pelo menos para mim, quebra a parede entre narrador e jogador.
A música é sempre um ponto importante dos jogos FIFA, e dessa vez parece não ser diferente. Por quê?
Os games, hoje, são uma das formas mais populares de entretenimento no mundo, e a música, assim como o futebol, é uma linguagem universal. Para nós, faz sentido trazer música de artistas novos, de várias partes do mundo. Não acho um exagero dizer que algumas bandas são reveladas pelo FIFA, acho que esse é um objetivo velado do nosso time quando escolhemos as músicas para um novo jogo. É o que acontece agora, mais uma vez, quando trazemos nomes como o Emicida, para participar da trilha sonora.
Por que os jogos anuais do FIFA não trazem a Copa do Mundo?
É um problema de licenças com a própria FIFA. Se você jogar o modo Carreira do FIFA 14, é possível jogar um campeonato de seleções idêntico à Copa do Mundo. Ele só não vai ser chamado de Copa do Mundo, porque tem toda a questão do nome. Além disso, quando acontece o evento, sempre há um jogo específico para aquele torneio, com uma apresentação própria, uma energia de jogo diferente.
Foi mencionado largamente que o jogo sairá só para Xbox 360 e PlayStation 3, não ficando disponível para a nova geração de consoles, nem para PC — um mercado importante aqui no Brasil. Por quê?
Nós tivemos que nos focar no melhor que podíamos fazer em um tempo muito específico. Para atingir a maior quantidade de jogadores, resolvemos ficar apenas com PS3 e Xbox 360. O mercado de PCs é importante no Brasil, mas no âmbito mundial o de consoles é muito mais. Não valia a pena para a gente fazer um game de PC meia boca, que não tirasse daquela plataforma todo o seu potencial. Não gostamos de entregar um produto pela metade para os nossos jogadores, que fique aquém das expectativas.
A crítica futebolística hoje se acostumou a elogiar grandes jogadores dizendo que eles parecem jogar como se estivessem dentro do videogame. O que você pensa disso?
Foi algo que ficou famoso quando o Arsene Wenger, técnico do Arsenal, chamou o Messi de “jogador de PlayStation”. Para mim, é um orgulho, sabendo que a franquia FIFA faz parte da cultura do futebol mundial, é algo vivo na cultura das pessoas que apreciam futebol no mundo.
Nos últimos anos, vimos os jogos de futebol evoluírem em gráficos e em modos de jogo �— um caso bacana é o Be a Pro, implementado em 2007, que faz o gamer controlar apenas um jogador, no lugar de todo o time. O que os jogos de futebol ainda podem ser? Dá para imaginar um game usando o Kinect, por exemplo?
Discutimos por muito tempo se usaríamos as tecnologias de detecção de movimento, como o Kinect, mas descobrimos que a imensa maioria dos fãs de FIFA não estão interessados em ter que reproduzir os movimentos de um jogador profissional. O que nós fazemos é trazer a dinâmica de jogo profissional para dentro da sala de qualquer fã de futebol. A grande beleza do futebol no videogame é poder combinar os jogadores em um modo Carreira, montar um time dos sonhos, uma magia que só é possível no videogame. O realismo é importante, mas antes dele vem a diversão. Não conseguimos até agora pensar em uma jogabilidade em Kinect que seja divertida – até porque, se é para jogar no Kinect, melhor o cara ir logo jogar uma partida numa quadra com os amigos. O momento do videogame é um momento de relaxar, e tentar ser capaz fazer do que o Neymar faz sem precisar ser o Neymar. Um game é antes um produto de entretenimento, e depois um simulador.
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