Nerd de 16 anos cria site para falar sobre o que gosta - cinema, quadrinhos, games, música. É verdade que hoje, depois da consolidação da web 2.0, essa frase não resume uma história curiosa. Mas isso aconteceu em 2000, quando Thiago Borbolla e um amigo que também sentia falta de uma revista que falasse desses assuntos resolveram esse problema. Lá atrás, era muito mais complicado publicar conteúdo na web. Hoje, Borbs - como Thiago Borbolla é conhecido - tem 25 anos e é editor-geral do Judão, um dos maiores portais de cultura pop no País. O Judão abriga críticas, opiniões e notícias sobre cinema, seriados, games e literatura. E tem até uma seção chamada Tchananã, que publica fotos sensuais de musas do mundo nerd. A média mensal de acessos únicos do site, que já chegou a 1 milhão e hoje está em 700 mil, foi o que levou grandes portais a convidar Borbs a mudar de domínio. Depois de passar pelo Vírgula, o Judão é a mais nova atração do site da MTV. O Judão estreou o novo endereço no dia 15 de julho, no aniversário de nove anos da criação do site. A MTV não exigiu mudanças editoriais e até concordou em adaptar seu sistema para o Wordpress, publicador usado no Judão. O acordo envolve a hospedagem e a divulgação do site - e de seu dono - para o público na emissora. Nas últimas semanas, Borbs tem participado de programas no canal. Com a promoção do site, vêm mais anunciantes, algo fundamental para Borbs, que vive da renda gerada pelo Judão.com.br. O dinheiro vem de publicidade: o Submarino, por exemplo, paga comissão sobre vendas. "Mas como trabalho em casa, boa parte do dinheiro vira investimento - água, luz, equipamento", explica. Mas o crescimento não aconteceu da noite para o dia. O CuDoJudas.com, como se chamava no começo, era um site paradão, com dias fixos para a atualização e feito 100% em HTML. "A gente atualizava o texto de capa duas vezes por semana, na mão. O fórum era só um guestbook... os dias de publicar textos eram terça e quinta", relembra Borbs. As coisas mudaram um pouco em 2001, com o surgimento do Blogspot.com, que passou a ser usado para atualizar o site. "Mas ainda era amador, nesse ritmo de dois textos por semana, e publicávamos por FTP", explica. A estrutura atual do Judão não seria possível sem a popularização de ferramentas gratuitas de publicação. Outro elemento foi indispensável na história do Judão: o improviso. "Quase tudo o que conseguimos foi no boca-a-boca. Estávamos sempre ali conversando com os leitores, organizando encontros com eles...". Parcerias também sempre foram fundamentais. Quando o Judão ainda pagava para ser hospedado e não tinha suporte de um grande portal, o site se manteve graças a acordos com empresas de hospedagem, já que os rapazes eram novos e não tinham dinheiro para pagar um servidor. "Em casos extremos fizemos vaquinha, arrecadamos doações...", conta Borbs, lembrando a importância do papel dos leitores. Os frequentadores do site se identificam com o estilo dos textos dele - a linha editorial do site tem como característica o bom humor e a informalidade - e repetem bordões criados por Borbs rede afora. "Assaz", um dos termos popularizados por Borbs, já virou palavra certa em textos de humor pela web. Na unha Ele não terminou as faculdades que começou a fazer - "Aos 15 anos, eu queria fazer Ciência da Computação, mas aí descobri que era 99% matemática e passei a querer ser publicitário. Desisti depois de um semestre" - , mas produz como qualquer jornalista de um grande site. É ele o responsável pela maior parte do conteúdo do portal, é ele quem vai a coletivas de imprensa e a cabines de filmes, é ele que encabeça as coberturas jornalísticas. E, com o crescimento do Judão, Borbs ainda ganhou tarimba em outras áreas: "programação PHP, banco de dados, FTP, coisas sobre servidores, linguagem técnica de publicidade, coisas sobre nota fiscal...". O Judão passou pela transição entre a web 1.0 e a 2.0 e pode-se dizer que se deu bem. Afinal, poucos sites pré-2002 ainda estão na ativa. Borbs atribui o sucesso a uma série de coisas. "Está aí até hoje porque todos os envolvidos gostam do site. Mas principalmente porque eu não sei fazer outra coisa tão bem na minha vida". A saída do portal anterior, o Vírgula, e a ida para MTV renovaram o fôlego. Os próximos passos do Judão: "se tudo der certo, a partir deste ano queremos começar a remunerar os colaboradores. Com relação ao site, a ideia é investir mais no JudãoTV e na interatividade com o usuário". Borbs não consegue, contudo, se alongar muito nos planos para o futuro. "Não consigo me ver num futuro muito longo, seja com o Judão, seja onde for. Mas eu tenho certeza de que se chegar a algum lugar, será por conta do site, por algo que fiz com ele" - é assim que Borbs define seu plano B, ou o que pretende fazer se eventualmente o site parar de dar dinheiro. Outra alternativa: ele diz gostar de Rádio e TV."De todas as faculdades que comecei, é a única que gostei". E destaca que seus hobbies e vícios são todos ligados ao trabalho. "No fim, isso é minha vida. Começou como brincadeira, virou um sonho e agora está sendo realizado..."
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