O fim das filas para transplantes?

Primeira bioimpressora 3D usa técnica de máquinas de produção rápida para criar tecido celular e promete, um dia, criar órgãos inteiros

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A primeira bioimpressora 3D comercial chega ao mercado já com a capacidade de replicar tecido celular e com a promessa de, um dia, gerar órgãos inteiros do zero. Se hoje pacientes esperam meses e até anos por um transplante, a tecnologia seria capaz de sanar esse problema, produzindo pedaços do corpo sob demanda. Soa futurista o bastante para você?

O equipamento em ação ( Foto: Divulgação)

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O dispositivo, que custa em volta de US$ 200 mil, foi desenvolvido em parceria por duas empresas: a norte-americana Organovo (que tem a patente do método) e a australiana Invetech (que construiu a máquina). Ambas atuam com uma tecnologia de ponta que pode ajudar no desenvolvimento da medicina regenerativa, uma área que avança cada vez mais.

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A mente por trás de tudo é a de Gabor Forgacs, pesquisador da Universidade de Missouri, que desenvolveu o conceito e o primeiro protótipo do ambicioso produto. Logo depois, fundou a Organovo para explorá-lo comercialmente e, no ano passado, conseguiu imprimir tecido vascular e implantar um enxerto de nervo em um animal. No vídeo abaixo, ele explica o processo:

Ainda neste ano, as primeiras máquinas devem ir para os principais institutos de pesquisa. “Criar órgãos célula por célula era considerado ficção científica há pouco tempo atrás. Usando o método de Forgacs, uma combinação inteligente de tecnologia e ciência, desenvolvemos um instrumento que pode realmente ajudar a melhorar a vida de muitas pessoas”, acredita Fred Davis, CEO da Invetech e um dos criadores da biompressora 3D, em entrevista ao Link.

Para começar, o objetivo é criar tecido, pele, músculo e veias. Com mais pesquisa, talvez seja possível construir partes mais complexas do corpo – corações, rins, pulmões. A previsão ainda soa irrealista, mas algo parecido já foi feito no laboratório do médico Anthony Atala, de quem já falamos por aqui. Em 2006, a equipe do especialista em regeneração da Universidade de Wake Forest conseguiu recriar bexigas e implantá-las com sucesso em sete pacientes necessitados. O pesquisador agora testa o mesmo processo com o auxílio de uma impressora 3D.

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O problema é que esses implantes, gerados na máquina, ainda precisam passar por muitos testes antes de acabarem em corpos humanos. Ainda não se sabe se eles atuam exatamente como se tivessem crescido naturalmente, e nem quanto tempo aguentam saudáveis – os do Dr. Atala, por enquanto, resistem. A modelação 3D é complexa, especialmente porque necessita de diferentes tipos de células e tecidos. Por isso, ainda deve levar um bom tempo para vermos o dispositivo em hospitais.

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Mesmo assim, muita gente acha viável que essa tecnologia, daqui alguns anos, imprima órgãos novinhos em folha diretamente no corpo. Em cada frase da entrevista, Davis mostra uma certeza inabalável quanto a esse futuro. “Não é uma questão de tempo, mas de dinheiro. A plataforma que desenvolvemos pode acelerar muito o progresso das pesquisas no campo. Para conseguir gerar órgãos, no entanto, necessitamos de forte investimento federal para a medicina regenerativa”, diz o especialista da Invetech.

Para apoiar seu argumento, ele compara o projeto com a corrida espacial. “O governo norte-americano decretou um prazo de uma década para que o primeiro astronauta pisasse na lua, e não poupou esforços e fundos para que isso acontecesse. É possível, sim, que possamos criar órgãos complexos e transplantáveis, mas isso só vai acontecer em um período curto de tempo se o investimento do governo e dos institutos aumentar tremendamente”, finaliza.

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