O grande delírio 3D de 2010

Modismo ou revolução? A mania que toma conta do cinema pode ter chegado para ficar

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Por Agências
Atualização:

Por A.O. Scott, do New York Times

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Hoje, entre o lançamento de Como Treinar Seu Dragão e a chegada do próximo e último Shrek, em duas semanas, vivemos num período que futuros historiadores do cinema poderão chamar de o grande delírio 3D de 2010. Quando nos encontramos dentro de um momento histórico de grande importância, é difícil discernir sua verdadeira natureza. Será uma revolução ou apenas uma mania passageira?

É difícil contestar o atual poder comercial do 3D. Os cinemas aumentaram a diferença de preço entre os ingressos normais e aqueles acompanhados por pares de óculos 3D e isso não afastou o público das telas – parece que a despesa adicional teve um efeito contrário.

Seis meses depois que as especulações que antecederam o lançamento de Avatar chegaram ao ápice, o filme calou os céticos ao arrecadar US$ 750 milhões só nos EUA. O subsequente sucesso de todos os demais filmes lançados em 3D neste ano – Alice no País das Maravilhas, Fúria de Titãs e Como Treinar seu Dragão – estabeleceram o paradigma de uma nova sabedoria convencional que deve se sustentar no mínimo até o primeiro grande fracasso de bilheteria em 3D.

É claro que isso acontecerá em algum momento, mas, quando esse dia chegar, o investimento em novos equipamentos será tão substancial e haverá tamanha gama de filmes em produção neste formato, que dificilmente esse colosso será freado. Um importante dogma dessa sabedoria convencional determina que o 3D atrai aos cinemas multidões que, na ausência desse recurso, teriam preferido ficar em casa.

O recém lançado Toy Story 3 em 3D (Fotos: divulgação) 

Pânico Desde a ascensão da TV, Hollywood tem vivido num estado de pânico diante da possibilidade do surgimento de uma nova invenção que afaste definitivamente as pessoas dos cinemas. Essa ansiedade persistiu mesmo depois que os estúdios aprenderam a transformar essa suposta concorrência num novo fluxo de renda complementar. E mesmo hoje, conforme a tecnologia traz ao lar uma experiência muito semelhante (e, se o cinema de seu bairro for tão ruim quanto o do meu, a experiência em casa é até superior) àquela que o público encontra nos cinemas, o hábito de assistir a filmes na telona se mostra de uma permanência impressionante.

Assim, não resta dúvida de que está a caminho uma generosa rodada de oportunismo econômico, enquanto estúdios se apressam para adaptar filmes 2D – caso de Fúria de Titãs e Alice – ou reformar séries já existentes. 2010 é o ano não apenas do quarto Shrek e de Toy Story 3, mas também de Piranha 3D e novíssimos títulos da série de dança Step Up e dos documentários de gosto duvidoso da série Jackass.

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“Por que odeio o 3D” Por mais que possamos aguardar o extremo realismo de versões 3D destas séries – no caso de Jackass, prefiro nem imaginar –, parece razoável perguntar o que é acrescentado quando uma terceira dimensão ilusória é introduzida posteriormente. E também se o recurso pode beneficiar todos os tipos de filmes. Num ensaio dissidente publicado na Newsweek – intitulado Por que eu odeio o formato 3D (e você deveria odiá-lo também) – o crítico de cinema Roger Ebert se diz incapaz de “imaginar dramas, como Amor Sem Escalas ou Guerra ao Terror, no formato 3D”.

Ele acredita que a maioria dos cineastas pensa o mesmo, e, sinceramente, concordo com ele. Mas, nos velhos tempos, houve críticos que demonstraram o mesmo ceticismo diante do som e, posteriormente, da cor, elementos que eram tidos na época como distrações que prejudicavam as qualidades artísticas do cinema. E suspeito que, em pouco tempo, Ebert e eu conheceremos um filme dramático que desafiará nossos pressupostos.

Entretanto, até que chegue este dia, o público – quero dizer, todos aqueles que frequentam os cinemas – terá que se contentar com uma mistura eclética de inovação, ambição e mão de obra desleixada. Neste aspecto, o 3D não é muito diferente de outros formatos de produção, com a diferença de que, até o momento, suas conquistas genuínas são relativamente limitadas.

Por enquanto, o 3D tem funcionado melhor em filmes de animação do que nos filmes com atores de verdade. Com seus personagens criados a partir da captura de movimentos e paisagens geradas por computador misturados naturalmente a atores reais e cenários concretos, Avatar é a exceção que comprova a regra. Os verdadeiros momentos de tirar o fôlego são aqueles em que as criaturas aladas alçam voo.

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O mesmo vale para Como Treinar seu Dragão, animação infantil sobre temas como ser fiel a si mesmo, seguir os próprios sonhos e tolerar os outros, que ganha transcendência com o vertiginoso e emocionante espetáculo dos dragões voadores. Acredito que o incrível sucesso deste filme, que dominou as bilheterias por semanas diante da concorrência de longas de ação e comédias românticas, deve mais ao seu imenso apelo visual do que a qualquer outra característica. Ele proporciona um deleite quase primal, semelhante àquele descoberto pelas gerações anteriores nos épicos em Cinema-scope ou nos efeitos especiais pré-digitais dos primeiros filmes da série Guerra nas Estrelas. Quando assistimos ao filme, quase podemos acreditar que estamos voando.

Voar Há muito tempo, desde que Asas, de William Wellman, foi premiado na cerimônia do primeiro Oscar, reproduzir a sensação de voar tem sido um sonho do cinema. Os melhores filmes no formato 3D – Up – Altas Aventuras, e também Avatar e Como Treinar seu Dragão – revivem esse sonho e proporcionam a ele uma nova dimensão.

Um dos motivos pelos quais ansiamos por novas formas de voar é o fato de a emoção encontrar uma forma de se desgastar. Os filmes que impressionaram nossos pais, ou até a nós mesmos quando éramos mais jovens, parecem hoje ser desconjuntados ou antiquados, charmosos em vez de arrebatadores. Isso vai acontecer com o 3D, quem sabe mais rápido do que pensamos. Talvez o formato tenha vindo para ficar, e talvez o recurso não seja grande coisa.

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(Tradução de Augusto Calil)

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