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O século McLuhan

O maior pensador da era digital faria 100 anos em 2011

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Por Alexandre Matias
Atualização:

Woody Allen e Diane Keaton estão na fila do cinema, em crise (como sempre), enquanto alguém logo atrás deles exibe seu intelectualismo de araque (como sempre acontece em filas de cinema). O papo do coadjuvante começa a irritar Woody Allen, que inclui sua inquietação na briga com sua mulher.

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Até que, em dado momento, o sujeito fala em Marshall McLuhan, sobre a influência da TV na cultura atual – é a gota-d’água para nosso herói, que vira-se para a câmera e lamenta a situação. O falastrão, então, interfere o lamento de Woody e começa a se gabar como acadêmico, que teria autoridade para falar sobre McLuhan. É quando Woody recorre a um absurdo genial – e puxa ninguém menos que o pensador canadense para a cena em que, sem pestanejar, crava: “Você não conhece nada sobre o meu trabalho!”.

E quem conhece? Teórico pop e acadêmico transgressor, Marshall McLuhan é o grande pensador da era digital. Um gênio que anteviu a vida eletrônica pautada pela comunicação total dos tempos da internet quando ela nem existia. A partir dos efeitos do rádio na cultura mundial, passou a analisar o impacto da publicidade e da mídia na vida das pessoas, pregando, nos anos 1960, uma transformação que ainda segue em curso. E em 21 de junho de 2011, ele completaria um século de vida, o que faz que este seja o ano de seu centenário.

Entre as comemorações, surge uma biografia que tem como título justamente a frase que McLuhan em pessoa profere no filme Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de 1977, citado no início. You Don’t Know Nothing of My Work! assinado por Douglas Coupland, outro pensador pop que, em 1991, definiu seus contemporâneos como Geração X, e é uma tentativa de apresentar o trabalho de McLuhan à geração digital.

“Achei o livro divertido”, diz Eric McLuhan, o filho do pensador canadense que se propõe a ser seu sucessor intelectual. Michael McLuhan, irmão de Eric que toma conta do espólio do pai, não é tão otimista: “Achei um lixo. Seus insights sobre Marshall são poluídos com devaneios rasos como o que cogita que ele poderia ser autista – uma fantasia completa – e as páginas de blablabla e jogos de palavras que só distraem o leitor.”

O fato é que o autor de termos e expressões como “aldeia global” e “o meio é a mensagem”, por mais que seja popular, ainda está longe de ser compreendido. Como um Marx ou um Freud da era digital, ele antecipou problemas e discussões que só começamos a entender décadas depois de serem cogitados. Morreu em 1980, deixando sua obra em aberto para considerações alheias. O ideal seria, como no filme, puxar McLuhan do nada para o meio da discussão. É como diz Allen no fim da cena: “Quem dera pudesse ser assim na vida real.”

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Mídia impressaTHE MECHANICAL BRIDE: THE FOLKLORE OF THE INDUSTRIAL MAN (1951) - Em seu primeiro livro, McLuhan começa a falar de mídia a partir da publicidade.

THE GUTENBERG GALAXY: THE MAKING OF THE TYPOGRAPHY MAN (1962) – Depois da publicidade, McLuhan volta-se para a mídia impressa e no impacto que ela tem na cultura.

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO COMO EXTENSÕES DO HOMEM (1964) – Ele começa a analisar todos os tipos de mídia no livro que consagrou a frase “o meio é a mensagem”. Foi traduzido por Décio Pignatari.

OS MEIOS SÃO AS MASSAGENS (1967) – Um livro-jogo, feito com o designer italiano Quentin Fiore, teve o título trocado num engano e “message” virou “massage”. McLuhan pediu para deixar.

WAR AND PEACE IN THE GLOBAL VILLAGE (1968) – Outro livro-jogo composto com Fiore (que permite uma leitura não-linear), este volume é dedicado a estudar o impacto da guerra no futuro do humanidade.

FROM CLICHÉ TO ARCHETYPE (1970) - Escrito com o poeta canadense Wilfred Watson, é um livro que estuda o impacto da linguagem no passado e no presente da cultura.

—- Leia mais:Se funciona, está obsoletoA aldeia global encolheu‘Link’ no papel – 31/01/2011

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