O verdadeiro legado de Tron vem do passado, mais precisamente de 1982, quando o filme original estreou nos cinemas. Era uma época em que computadores pessoais estavam começando a surgir e a roda dos videogames ainda não tinha sido inventada – ela era um quadrado!
Passados 28 anos de sua estreia, o filme entrou e saiu de cartaz sem achar o seu público. “Um fracasso”, disseram muitos. “Um filme além do seu tempo”, corrigiriam os fãs, que mantiveram Tron vivo com suas versões de fliperamas, games, exibições nas TVs, fitas de VHS e DVDs.
Sem Tron não existiria a Pixar – John Lasseter, um dos chefões do estúdio de animações da Disney, vislumbrou o uso dos computadores na criação de longas quando viu uma versão inacabada do filme, em um corredor do estúdio, antes da sua estreia. Sem Tron, não existiriam Matrix e Avatar e seus mundos virtuais.
Felizmente, muita coisa mudou. Imaginar avatares vivendo dentro de computadores é algo que qualquer pessoa minimamente conectada entende. E isso transformou o jeito como uma história deve ser contada.
O diretor e roteirista do primeiro filme, Steve Lisberger, produtor e roteirista da nova versão, batizada de Tron – O Legado, explicou, na coletiva de imprensa durante a Comic Con 2010, o novo desafio: “Quando criamos o primeiro filme, tudo o que tínhamos de fazer era sonhar e tentar fazer as pessoas acreditarem naquela realidade. A tecnologia foi feita para unir as pessoas, mas hoje há um consenso de que ela pode ter um lado negro, que nos afasta uns dos outros. E esse filme vai tentar explorar esse problema”.
Para unir os fãs, foi criada uma campanha viral que acontece principalmente online e que tem como meta explicar o que se passou no universo de Tron nestas quase três décadas e o que aconteceu com Kevin Flynn, personagem de Jeff Bridges, que também está de volta no novo filme.
Outro elemento importantíssimo na divulgação de Tron – O Legado é a própria Comic-Con, principal evento de cultura pop do mundo, que aconteceu na semana passada, em San Diego, nos EUA. Os produtores e a própria Disney, o estúdio dono do título, sabiam que Tron tinha um potencial cult e há muito tempo procuravam uma forma de trazê-lo de volta aos cinemas.
Até que em 2008 o diretor Joseph Kosinski mostrou à Disney que uma nova tecnologia poderia reviver o filme. Era apenas uma corrida entre as emblemáticas lightcycles, que terminava com Jeff Bridges falando ao público. Pegas de surpresa, as quase 7 mil pessoas presentes no maior salão do evento aplaudiram de pé. Foi ali que os executivos do estúdio viram o potencial real de fazer um novo filme. Foi naquele momento que Tron – O Legado recebeu seu sinal verde.
No ano seguinte, as lightcycles voltaram a San Diego, desta vez finalizadas, e ouviram mais aplausos e euforia. As filmagens ainda nem haviam começado e a expectativa crescia.
Neste ano, os produtores conseguiram mostrar ao público presente o que as novíssimas câmeras conseguem capturar em 3D. E ainda exibiram como a tecnologia utilizada por David Fincher em O Curioso Caso de Benjamim Button evoluiu, transformando o já bastante enrugado Jeff Bridges em um personagem de 35 anos, o vilão Clu 2.0.
“Quando me mostraram o que estavam fazendo, eu disse ‘Isso me parece algo que eu gostaria de fazer’. Assim como o primeiro filme, isso despertou a minha vontade de ser sugado mais uma vez para dentro do computador e brincar com todos esses brinquedos novos que nós temos hoje em dia”, disse Bridges. É a primeira vez que um filme volta por três anos seguidos à Comic Con e isso não é um problema. Seus produtores entenderam a importância dos fãs e a dívida começa a ser paga em 17 de dezembro, quando o filme entra em cartaz, com cópias normais e 3D.
/MARCELO FORLANI é editor do Omelete
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