Uma das primeiras reações ao lançamento do ChatGPT, que foi aberto ao uso público no início deste mês, foi de professores universitários americanos. O sistema atua como uma janela de chat. Pergunte sobre o conceito de liberdade para o filósofo fulano ou peça um resumo de Hamlet e o sistema não dá apenas uma resposta coerente. A resposta é incrivelmente profunda, às vezes até sensível. O que os professores começam a temer é que não serão mais capazes de distinguir os trabalhos que alunos de graduação escreveram daqueles produzidos por inteligências artificiais. Mas o cenário está posto. Este ano que entra, 2023, será o ano da inteligência artificial generativa — Gen-AI, na sigla habitualmente usada em inglês.
Gen-AI não é novidade. Já estamos faz dois anos brincando com a possibilidade de produzir ilustrações, algumas muito bonitas, a partir de descrições em texto. ChatGPT é a primeira demonstração pública de que texto com bastante sofisticação, que parece ter sido redigido por alguém que pensa, pode nascer de uma inteligência artificial.
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As consequências vão muito além dos cursos de graduação. Uma versão especializada em Direito poderá produzir sumários da jurisprudência de um caso para um escritório de advogados. A ata de uma reunião, de qualquer reunião, poderá ser redigida a partir da gravação em áudio da conversa. Chats de atendimento ao consumidor se tornarão indistinguíveis de pessoas que tudo sabem e tudo podem resolver. Produzir uma pequena matéria jornalística a partir de um boletim de ocorrência vai virar coisa para as máquinas fazerem.
O surgimento de Gen-AI, portanto, vai começar nesta década a acelerar duas tendências fortes. A primeira é que vamos precisar de menos ilustradores, menos advogados, menos jornalistas, menos analistas de RH, menos assistentes de todo tipo, o trabalho mais braçal da criação não dura até 2030. Empresas, cada vez mais, poderão produzir mais com menos gente. E isto tudo será graças aos algoritmos de inteligência artificial construídos por algo como dez empresas que dominarão por completo este ambiente, venderão os serviços de seus programas, e farão dinheiro como nunca antes.
Tecnologia não deixará de ser criada, o mundo não vai voltar para trás, mas não dá para ignorar que esta é uma máquina aceleradora da concentração de riqueza. As nações precisarão se unir para entender como regular este espaço e, muito provavelmente, sobretaxar a indústria digital para garantir melhor distribuição do bem-estar que a tecnologia constrói. Se o trabalho será menos necessário, que não seja à custa da miséria.
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