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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Antitruste contra o Vale

Candidata à presidência dos EUA, a senadora Elizabeth Warren quer dividir gigantes de tecnologia como Google, Facebook e Amazon

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Na última sexta, faz exato uma semana, a senadora democrata Elizabeth Warren publicou online um longo artigo no qual estabelece sua proposta central conforme se lança pré-candidata à presidência americana. Warren quer processar Facebook, Google e Amazon com base na Lei Antitruste para dividir as companhias. No início da semana, entrevistada no palco da conferência SXSW, de cultura digital, ela incluiu ainda a Apple na lista.

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Presidentes têm este poder. É o Departamento de Justiça, equivalente no Brasil ao ministério, que inicia o processo. E, dada a maneira como funcionam as eleições americanas, o fato de ela encampar o tema faz com que a ideia seja possivelmente catapultada para o centro do debate nacional.

Após uma extenuante sequência de eleições primárias, Hillary Clinton, uma liberal com inclinação à esquerda, se sagrou candidata democrata à presidência em 2016. Seu principal adversário, o também senador Bernie Sanders, estava bastante à sua esquerda. O resultado do embate foi que, do centro, Hillary precisou se reposicionar e adotar algumas das plataformas propostas por Bernie. Afinal, um grande número de eleitores do partido havia as endossado.

Serão muitos os pré-candidatos democratas desta vez, mas Warren sai com a vantagem de ser uma das mais conhecidas. O eleitorado do partido deixou a última eleição mordido, com a sensação de que a vitória de Trump foi definida por trapaças via Facebook. Jogo sujo ocorreu de fato na rede social. Garantir que foi determinante para a eleição é mais difícil. De qualquer forma, a impressão existe e a proposta vai conquistar ouvidos. E, assim como ocorreu com Hillary, caso decole deve ser encampada na plataforma eleitoral do candidato. Mesmo que Warren não seja a escolhida.

Segundo Tim Wu, professor de Direito da Universidade de Columbia, a senadora está certa. Em 1969, segue seu argumento, a IBM foi processada por monopolizar o mercado de computadores. 70% das máquinas vendidas nos EUA eram da companhia. 

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Este é um tipo de processo extenuante. A empresa que perde termina fatiada em empresas distintas. Executivos e advogados voltam sua total atenção para evitar este destino. Ocupada que estava na batalha judicial, a IBM se distraiu e, nos anos seguintes, surgiu no Vale do Silício uma diversificada indústria de computadores pessoais — Apple e Microsoft, seus destaques.

Em 1974, foi a vez de a AT&T encarar os tribunais. Ela dominava praticamente todo o negócio de telefonia e telecomunicações nos EUA. Se o processo contra a IBM se encerrou após o governo chegar à conclusão de que ela havia perdido o monopólio, com a gigante da telecom foi diferente. Em 1982, a Justiça ordenou sua divisão em sete companhias regionais. Foi no período posterior à divisão que explodiu nos EUA o negócio da TV a cabo e a infraestrutura para distribuição de internet que dominaria o mundo a partir da década de 1990.

Foi justamente nos anos 90 que a Microsoft teve de encarar o litígio antitruste. Ela foi acusada de usar seu domínio no Windows, o sistema que quase todo computador usava, para sabotar navegadores de outras companhias. Em máquinas com Windows, só o browser da empresa de Bill Gates funcionava bem e rápido.

Ocupada em sobreviver, a Microsoft deixou passar aqueles anos iniciais da internet. É justamente o período em que afloram Amazon e Google. O Facebook veio depois.

Na visão de Wu, o negócio da tecnologia sempre tendeu ao monopólio. Alguma empresa cresce demais e sai comprando ou esmagando todas as concorrentes. E, na história americana, o governo sempre interveio para reinstaurar a concorrência no mercado. Sempre que o fez, provocou uma nova onda de inovação.

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