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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião | Na briga de EUA e China pela inteligência artificial não é difícil saber por quem torcer

Nas contas que importam, os americanos estão na frente com folga

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Foto do author Pedro Doria

Não dá para acessar o ChatGPT de dentro da China. Quer dizer, até dá, mas não é trivial e, como tudo que se faz ilegalmente por lá, traz seu risco em caso de o usuário ser descoberto. A Baidu, que bem poderia ser descrita como o Google chinês, anunciou a sua versão local do software de inteligência artificial em março. Os executivos estavam tão tensos com a demonstração que acharam mais prudente mostrar uma gravação em vez de testá-lo ao vivo. A outra gigante de tecnologia do país, Alibaba, também tem o seu. Com acesso igualmente limitado aos usuários. Nenhum dos dois estão sequer perto dos rivais americanos.

A questão de quem está na frente em inteligência artificial (IA) é chave para o mundo. Por enquanto, nas contas que importam, os americanos estão na frente e com folga.

Baidu anunciou sua própria inteligência artificial Foto: Jason Lee/REUTERS

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Empresas americanas têm uma vantagem em desenvolvimento dos modelos de algo entre dois e três anos, pelas contas da revista britânica The Economist. Não é pouco. O Midjourney 1.0 foi lançado em fevereiro de 2022. A versão operacional desde maio é a 5.1. Os saltos de qualidade das imagens que cria, entre uma versão e outra, são claramente perceptíveis. O ChatGPT lançado em dezembro era o 3.5. Desde março estamos na versão 4. Dois anos ou três é vantagem grande.

E a China tem desafios. As empresas ocidentais precisam impor limites a seus modelos. O ChatGPT tem sistemas internos de moderação para não cruzar os limites evidentes da lei — não ensinar a fabricar bombas, não ser preconceituoso, não auxiliar pedófilos ou vigaristas. Não é trivial impor essas barreiras e, vez por outra, alguém mais esperto consegue driblá-las e extrair do sistema informação que pode colocar outros em risco. Na China, as exigências da censura oficial impõem limites muito mais rígidos. É por isso que os equivalentes locais, embora mais primitivos do que os americanos, ainda não estejam no ar para que qualquer um use.

Existem duas maneiras de ver geopolítica, a relação entre as nações. A doutrina seguida pelo governo Lula é uma na qual o “Sul global” deve se unir contra as nações desenvolvidas. O “Sul” vai entre aspas porque nem China, nem Rússia, ficam evidentemente no Sul. Mas o raciocínio seguido é de que o comércio entre nações é um de soma zero e nele, se uns ganham, os outros perdem. É por este raciocínio que o Planalto vê um modelo com os BRICS como estratégico. Por isso uma tolerância exacerbada com a Rússia e rigidez talvez excessiva com europeus e americanos.

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Mas há um outro jeito de ver o mundo, um no qual dois modelos de governança estão em disputa. Em um se sacrifica liberdade em troca de crescimento econômico. É o chinês. No outro, democracias se ajudam umas às outras e mostram que todas podem crescer juntas se houver mútua cooperação.

Entre o modelo democrático de crescimento e o ditatorial, não é difícil saber por quem torcer.

Opinião por Pedro Doria
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