Na semana passada, o Twitter anunciou que começaria a retirar o selo de verificação das contas que optaram por não pagar a assinatura do Twitter Blue, que sai por R$ 42 ao mês. A retirada aconteceu apenas parcialmente.
O jornal americano The New York Times, que publicamente anunciou que optaria por não pagar por uma assinatura por não enxergar valor nela, teve o selo retirado. Na própria segunda, já havia contas falsas do diário com o logo do Times e o selo azul.
Não há critério. A rede social do bilionário Elon Musk parece ter escolhido retirar a verificação do maior jornal americano, que lhe é crítico, por ter publicamente dito que não via motivos para pagar pelo serviço. A maioria dos verificados das antigas não viu qualquer diferença em suas contas. O selo ali continuou.
Mais do que qualquer outra rede, o Twitter vive do debate sobre notícias, da discussão sobre os temas que interessam à sociedade. Isso não é suficiente para extirpar mentiras do ambiente virtual. Mas o selo azul tinha utilidade: a identidade do dono de uma conta azul havia sido confirmada.
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Políticos, jornalistas, cientistas, professores, aquilo que diziam no Twitter todos compreendiam como sendo original. Mesmo que dissesse mentira, era uma mentira dita pelo presidente da República, e isso é relevante. Quando o Twitter lançou o selo azul, a ideia foi logo adotada por outras redes sociais. Num ambiente de caos, a certeza de que a palavra vinha realmente da pessoa ou instituição dava credibilidade às redes sociais.
Isso criou também um poderoso símbolo de status virtual. Ter o selo de verificação, em qualquer rede, queria dizer de alguma forma que sua voz era relevante em alguma área.
Ao decidir explorar um serviço de assinatura para o Twitter, fazia sentido que Elon Musk apostasse no selo azul. Era algo cobiçado. Mas cobiçado por quê? Pela credibilidade ancorada na certificação de identidade. O primeiro erro do Twitter Blue foi vender o selo sem exigir um documento capaz de manter esse significado íntegro. Hoje, o selo azul não quer dizer mais nada.
Em um momento no qual a Europa já tem uma regulamentação para exigir mais credibilidade e responsabilidade das plataformas, e Brasil e até mesmo EUA seguem o mesmo curso, o Twitter escolheu regredir: implementar um sistema que torna a rede um caos no qual ninguém saberá ao certo se a palavra ali foi realmente dita e por quem.
Nada justifica. Por que Musk decidiu destruir aquilo de maior valor na plataforma? É difícil imaginar.
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