SÃO PAULO – O ativista Alexandre Oliva, um dos fundadores da Fundação do Software Livre América Livre, nunca se arriscou a entrar no Facebook. Há tempos rompeu com o Google. Ainda assim, aparece em uma página da rede social de Zuckerberg como “pessoa pública”, a partir de um perfil na Wikipédia. “No momento em que um site reúne muita gente, se torna um problema. Quando comecei a perceber o mundo da vigilância, não quis alimentar essas redes”, diz.
Oliva é representante de um grupo que há anos aposta em redes sociais “alternativas” e com foco em privacidade, como a Identi.ca e, mais recentemente, o Twister, para se comunicar com amigos. Com as revelações da espionagem norte-americana, a procura por esses serviços mais privados cresceu. Ainda assim, estão longe de ameaçar as grandes redes e, muitas vezes, dependem delas para crescer.
É o caso da rede social federada Diaspora, que na semana passada, ao anunciar o lançamento de um conector para publicar conteúdo no Facebook, teve um aumento de 50% no número de novos usuários no Brasil.
Criada por quatro estudantes da Universidade de Nova York como uma rede anti-Facebook, a Diaspora teve o seu primeiro servidor brasileiro inaugurado no fim do ano passado pelo ativista Anahuac de Paula Gil. Hoje a rede tem 5.577 usuários no País – são 1,5 milhão em todo o mundo. “Acho que vamos crescer muito, mas não creio que a Diaspora vá chegar um dia perto do Facebook”, diz Gil, que prevê chegar a 50 mil usuários em seu servidor até o fim do ano. “Agora que o governo (americano) deixou claro que não vai mudar suas técnicas, as pessoas começam a procurar novas ferramentas para substituir as antigas.”
O engenheiro brasileiro Miguel Freitas desenvolveu no fim do ano passado o projeto de uma rede social descentralizada peer-to-peer, que segue o mesmo modelo de transmissão de dados de arquivos do tipo Torrent. Assim nasceu o Twister, que já tem 50 mil usuários.
“Os ajustes de privacidade do Facebook são terríveis e o processo de bloqueio de contas é opaco e arbitrário. Sem falar que hoje sabemos que os posts do Facebook são filtrados”, diz ele, que criou seus sistema a partir desses problemas.
Freitas é otimista quanto ao futuro da sua rede, embora considere imprevisível o comportamento de quem usa. “O usuário típico não está preocupado com a sua segurança e privacidade até que alguma coisa aconteça”, diz. Para ele, a grande dúvida é se experiências negativas como a espionagem terão impacto real na forma das pessoas usarem as redes sociais ou produzirão apenas ondas temporárias de indignação. “É como quando acontece um crime brutal: as pessoas se revoltam, pedem a redução da maioridade penal… depois esquecem.”
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