A maior foto do mundo tem a altura de um prédio. A largura de dois quarteirões. Tem 152 gigapixels, ou simplesmente 0,15 terapixels. É tão pesada que demorou uma semana para ser enviada para a web. E foi feita no Brasil, por um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro.
O grupo liderado pelo fotógrafo e matemático Luiz Velho quebrou duas vezes a barreira da maior foto do mundo. A primeira foi uma foto do Corcovado com 67 gigapixels. E a segunda, a imagem do Pão de Açúcar acima, tem mais do que o dobro disso. “Nós pensamos ‘vamos ver onde podemos chegar, qual é o limite da resolução na fotografia, o quanto de detalhes é possível capturar com um equipamento digital’”, explica Velho, que já foi fotógrafo profissional e câmera de cinema antes de se dedicar à matemática.
Para gerar a maior foto do mundo, foram necessárias seis mil imagens de 18 megapixels cada, em um processo de captura que levou mais de quatro horas. A equipe usou uma Canon T2i, um robô Epic Pro que facilita a captura das imagens e um software de sincronização para juntar as milhares de imagens em um mesmo panorama. Todos os envolvidos no instituto são pesquisadores renomados em matemática e computação, e se reuniram em 20 de julho sob “condições perfeitas” para aquela foto.
Amadores. As condições e o currículo dos participantes colaboraram, mas eles também estão ajudando a popularizar o mundo dos gigapixels. O grupo ajudou a testar o Gigapan, projeto que já reúne 42 mil fotos gigantes de todo o mundo.
O Gigapan foi criado em 2006 pela Carnegie Mellon University em parceria com a Nasa. A tecnologia de fazer fotos gigantes e ultradetalhadas foi empregada no projeto Mars Rover, o robô que explorava o território marciano. “As imagens vindas de Marte foram processadas para criar só uma”, explica Clara Phillips, brasileira que vive nos EUA trabalhando no projeto. Os pesquisadores Illah Nourbakhsh, do Carnegie, e Randy Sargent, da Nasa, estudaram uma maneira de adaptar a tecnologia a nós, terrestres. E chegaram a três pilares: um robô (o Epic) que ajuda a efetuar os disparos, um software para sincronizar e um portal com servidores potentes para os usuários subirem as imagens.
“É possível usar quase qualquer câmera”, diz o mexicano Thomaz Mendoza-Harrell, que faz parte do projeto há seis anos e registrou dezenas de panoramas, uma delas na capa da edição desta semana. Ele é profissional, mas, segundo Clara, a maioria dos usuários do site hoje são amadores. O Gigapan é uma espécie de Flickr das fotos gigantes, em que os usuários sobem suas imagens e comentam nas alheias. Luiz Velho explica que a multirresolução é o que viabiliza os milhares de gigapixels: ao visualizar a foto, você só baixa do site o que cabe na tela.
O panorama do Pão de Açúcar demorou uma semana para ser colocado no ar. Como a resolução é altíssima, o zoom é assustador – no panorama é possível aproximar a ponto de encontrar pessoas na piscina. A comunidade ajuda a marcar os snapshots, pontos de interesse nas fotos.
O Gigapan ficou famoso com a foto da posse de Barack Obama, no início de 2009. Nela é possível ver a multidão e aproximar para ver cada rosto. Comparada a outras, parece pequena: foi feita com 220 fotos e tem só 1 gigapixel. Foi essa foto que motivou Emmerson Maurílio, gerente de multimídia do Clube Atlético Mineiro, a importar o robô Epic 100, desenvolvido pela Gigapan. Ele fez uma panorâmica de 8 gigapixels do Mineirão na final do Campeonato Mineiro deste ano. Hoje Maurílio já fez 60 fotos. “Sempre tento aumentar o tamanho das imagens”, diz.
O tamanho, porém, não é tudo. Luis Velho quer ir além das fotos. “As pessoas pensam que um gigapixel é apenas uma imagem maior. Essa é uma visão curta”, diz. Para ele, não faz sentido pensar no panorama do Rio apenas como um outdoor gigantesco de um prédio de altura por dois quarteirões de largura. “Uma imagem dessas tem tantos detalhes, tantas possiblidades de navegação, que não é apenas uma imagem. É uma mídia.”
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