Três pioneiros da inteligência artificial ganham principal prêmio da computação

Pesquisadores desbravaram o uso de redes neurais

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Por Cade Metz
Atualização:
Da esquerda para direita: Yann LeCun, Geoffrey Hinton e Yoshua Bengio, pesquisadores que trabalharam em desenvolvimentos importantes para redes neurais Foto: NYT

Em 2004, Geoffrey redobrou os esforços na busca a uma ideia tecnológica chamada rede neural. Tratava-se de um meio de as máquinas verem o mundo em torno delas, reconhecerem sons e mesmo entenderem a linguagem natural. Mas os cientistas já haviam gasto mais de 50 anos trabalhando no conceito de redes neurais, e as máquinas na verdade não conseguiram fazer nada disso.

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Financiado pelo governo canadense, Hinton, professor de ciência da computação da Universidade de Toronto, organizou uma nova comunidade de pesquisas com vários acadêmicos que também estudavam o conceito. O grupo incluía Yann LeCun, professor da Universidade de Nova York, e Joshua Bengio, da Universidade de Montreal. 

Na quarta-feira, 27, a Associação de Máquinas de Computação (ACM, na sigla em inglês), maior sociedade do mundo que reúne profissionais da computação, anunciou que Hinton, LeCun e Bengio haviam  ganho o Prêmio Turing deste ano por seu trabalho em redes neurais. A premiação, criada em 1966, é considerada umPrêmio Nobel da computação e, além das honrarias, compreende US$ 1 milhão em dinheiro, que os três cientistas vão dividir. 

Durante a última década, a grande ideia alimentada pelos pesquisadores reinventou o modo como a tecnologia é construída, acelerando o desenvolvimento de serviços de reconhecimento facial, assessores de voz, robôs de uso doméstico e carros sem motorista. Hinton, de 71 anos, trabalha hoje no Google, LeCun, de 58, trabalha para o Facebook e Bengio, de 55, assinou contratos com a IBM e a Microsoft. 

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“O que estamos vendo é nada menos que uma mudança de paradigma na ciência”, disse Oren Etzioni, presidente executivo do Instituto Allen de Inteligência Artificial de Seattle e voz de destaque na comunidade de inteligência artificial. “Eles mudaram o rumo da história e merecem toda nossa admiração.”

Vagamente modelada na rede de neurônios do cérebro humano, uma rede neural é um complexo sistema matemático que pode aprender tarefas distintas analisando enormes quantidades de dados. Ao analisar por exemplo milhares de antigas conversas telefônicas , ela pode aprender a reconhecer palavras faladas. 

Isso permite a muitas tecnologias de inteligência artificial avançar num ritmo que seria impossível no passado. Em lugar de codificar comportamentos um a um, cientistas da computação podem hoje criar tecnologias que aprendemem grande parte por si mesmas.

O londrino Hinton abraçou a ideia das redes neurais ainda como universitário, no início dos anos 1970, época em que a maioria dos pesquisadores de IA era contra ela. Mesmo seu orientador de Ph.D. questionou a escolha. “Nós nos reuníamos uma vez por semana”, disse Hinton numa entrevista, “e às vezes a reunião terminava em berros.” 

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As redes neurais tiveram um breve renascimento no fim dos anos 1980 e início dos 90. Após um ano de pesquisas com Hinton no Canadá, o parisiense LeCun foi para o Bell Labs, da AT&T, em New Jersey, onde projetou uma rede neural que conseguia ler letras escritas à mão e números. Uma subsdiária da AT&T vendeu o sistema para bancos e, num determinado momento, o sistema lia 10% dos cheques preenchidos à mão nos Estados Unidos. 

Embora uma rede neutral possa ler escrita manual e ajudar em algumas outras tarefas, ela não avançou muito em funções mais complexas de IA, como reconhecer rostos e objetos em fotos, identificar palavras faladas e entender o modo natural como as pessoas falam. “Ela funciona bem quando se tem muitos dados iniciais, e existem poucas áreas em que temos muitos  dados iniciais”, disse LeCun. 

Mas alguns pesquisadores insistiram, entre eles o também parisiense Bengio, que trabalhou com LeCun no Bell Labs antes de se tornar professor na Universidade de Montreal. Em 2004, com menos de US$ 400 mil de fundos do Instituto Canadense de Pesquisa Avançada, Hiton criou um programa de busca voltado para o que chamou de “computação neural e percepção adaptativa”. Ele convidou Bengio e LeCun para se juntarem a ele.

No fim da década, a ideia havia alcançado seu potencial. Em 2010, Hinton e seus estudantes ajudaram a Microsoft, a IBM e o Google a ampliarem os limites do reconhecimento de voz. Depois fizeram algo parecido com reconhecimento de imagem. “Ele é um gênio e sabe como produzir um impacto após outro”, disse Li Deng, ex-pequisador de voz da Microsoft que levou as ideias de Hinton para a empresa. 

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O avanço de Hinton no campo do reconhecimento de imagem baseou-se num algoritmo desenvolvido por LeCun. No final de 2013, o Facebook contratou o professor da Universidade de Nova York para montar um labortório de pesquisa em torno da ideia. Bengio resistiu a ofertas para juntar-se a um dos gigantes da alta tecnologia, mas as pesquisas que ele supervisionou em Montreal ajudaram no avanço de sistemas destinados a compreender a linguagem natural e a tecnologia que pode gerar fotos falsas indistinguíveis das reais.

Embora esses sistemas tenham ajudado indiscutivelmente s acelerar o avanço da inteligência artificial, eles ainda estão muito distantes da verdadeira inteligência. Mas Hinton, LeCun e Bengio acreditam que novas ideias surgirão. “Precisamos de acréscimos fundamentais às ferramentas que criamos para chegar a máquinas que operem no nível real da compreensão humana”, disse Bengio. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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