Guy Kawasaki está usando um método pouco usual para escolher a capa de seu próximo livro, Enchantment. Ele convocou designers inscritos na plataforma CrowdSpring para desenhar a capa e recebeu mais de 4 mil contribuições até a última sexta-feira, a data limite. O prêmio para o layout vencedor é de US$ 1 mil.
O ex-funcionário da Apple e atual investidor em negócios do Vale do Silício é um entusiasta do crowdsourcing, modelo de produção que usa inteligência e conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela rede. “Pelo método tradicional, a minha editora contrataria uma empresa, que me apresentaria seis ou sete opções de capa, e eu escolheria uma. No CrowdSpring, tenho 4 mil opções”, disse Kawasaki ao Link.
“Mesmo que alguns designers critiquem essa prática, alegando os outros 3.999 designers que perderem a competição terão desperdiçado sua força de trabalho, eu por acaso discordo dessa visão. Eu adoraria, por exemplo, que um jovem, recém-formado designer brasileiro, ganhasse o prêmio. Daria a ele a visibilidade necessária para lançar sua carreira.”
Anote aí, jovem empreendedor: crowdsourcing é um dos temas pelo qual Guy Kawasaki mais preza. Sua vida se resume a receber jovens empreendedores e esperar que eles o convençam de que seu negócio é o próximo Google ou o próximo Facebook. A experiência como funcionário de Steve Jobs, na Apple, em duas épocas o qualifica para isso. Ele trabalhou na Apple nos anos 80 e, depois, nos anos 90.
Formado em Psicologia em Stanford, ele fez um MBA em Los Angeles e, pouco depois de aprender a vender trabalhando em joalheria, acabou na equipe de marketing do Macintosh.
Nos últimos anos, Guy Kawasaki deve seu prestígio a seus blogs e ao Twitter, que ele mesmo reconhece que não teria chamado sua atenção. “Todo mundo dizia que não funcionaria. Se eles viessem me pedir para investir neles no começo, e me explicassem que era um serviço em que as pessoas dizem o que estão fazendo, eu perguntaria ‘e quem se importa’? E realmente, se você entra no Twitter e de cara acha que faz sentido, está errado. Você demora umas três semanas para entender o espírito”, diz. Sobre o Facebook, acredita que o empreendimento de Mark Zuckerberg cresce no mundo inteiro porque, em vez de se diferenciar para o público de cada país, se aproveita daquilo que qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo, tem em comum. “As pessoas são mais parecidas do que diferentes”, disse ele, citando Mark Zuckerberg.
Sua outra fonte de renda e prestígio são seus livros. Ele tem nove títulos lançados e um no forno. Todos, sem exceção, são guias para tornar-se um empreendedor bem sucedido e ter uma ideia que vai mudar o mundo, apesar de ele mesmo confessar ter perdido sua grande oportunidade: Guy recusou uma entrevista para CEO de um recém-nascido Yahoo. “Eu teria de dirigir por duas horas até o local. E eu não via como aquilo podia dar certo: era só uma lista de sites preferidos de dois caras”, diz. O episódio provou, na prática, que até mesmo os maiores e mais experientes investidores do Vale do Silício podem ser cegos para um grande negócio. Durante a palestra que deu em São Paulo, na quarta-feira da semana passada, Guy parece querer dizer que seus livros e todos os conselhos servem para impedir que as pessoas cometam o mesmo tipo de erro.
Guy esteve no Brasil para a estreia de uma plataforma de interação entre usuários da LG. Desenvolvida dentro do Facebook, a LG Life’s Good Lab pede ideias, em vídeo, de como os produtos LG podem melhorar a vida. Os melhores vídeos ganham prêmios, produção profissional e serão veiculados no mundo inteiro. Crowdsourcing, bem ao estilo de Guy. Talvez seja essa a próxima área de investimento dele. Seu último negócio, o Alltop, um site-diretório de links sobre qualquer coisa, não está bem das pernas. Guy vem tentando emplacar o Alltop como uma referência para quem quer saber mais sobre determinado assunto há 3 anos, sem sucesso.
A palestra de Guy Kawasaki, fechada para convidados, funciona bem. Ele é divertido, direto e tem histórias interessantes para contar. Seu principal trunfo são os “dez passos para a inovação” – medidas que ele relata, durante o discurso, serem fundamentais para criar um produto bem sucedido. Entre elas, estão a necessidade de criar um produto que tenha um significado maior do que só ganhar dinheiro, insistir mesmo quando todos disserem que sua ideia não é boa e deixar que o público lhe diga qual seu rumo. Segundo ele, é por ter seguido essa última que a Apple se tornou o que é hoje. “A Apple não poderia ter dado certo se o mercado editorial não tivesse, por sorte, começado a usar o Macintosh para diagramar páginas. Viveríamos em um mundo muito diferente, em que a antena dos celulares não falharia pelo modo em que nós seguramos o aparelho, ainda estaríamos ouvindo música em fitas cassete e baterias de telefones móveis durariam mais de um dia.”
Cronologia 1954: Nasce Guy Kawasaki, em Honolulu, no Havaí 1976: Guy se forma em Psicologia na Universidade de Stanford 1984: Entra na Apple, para trabalhar na equipe de marketing do Macintosh. Fica lá até 1987 1987: Completa o MBA na Universidade de Las Vegas 1990 : Guy lança seu primeiro livro, The Macintosh Way 1995: O investidor retorna à Apple como Apple Fellow, uma espécie de título que a empresa dá a quem ela considera que contribuiu muito para a computação pessoal – Steve Wozniak é um Apple Fellow, também 1997: Guy sai da Apple para fundar a Garage Technology Ventures, ao lado de Craig Johnson (da Venture Law Group) e Rich Karlgaard, da Forbes 2004: É lançado um de seus best-sellers, A Arte do Começo 2009: Seu blog, o How To Change The World, é ranqueado como o 2.000º maior no mundo
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