Para quem tem na cabeça que distribuição de cinema se resume às premiéres repletas de astros de Hollywood, uma visita a uma seção do festival Ventana Sur, realizado no início deste mês, em Buenos Aires, pode ser uma forma de abrir os olhos para a realidade dos filmes independentes: a oferta das películas era feita em um saguão cheio de mesinhas, com produtoras e agentes de vendas do mundo todo tentando chamar a atenção para seus produtos.
Em um desses espaços estava uma figura já conhecida do cinema nacional: Alfredo Calvino, fundador da Habanero Film Sales. O cubano, entre idas e vindas, está radicado no Brasil desde os anos 1990, e tenta levar o cinema latino-americano para diferentes partes do mundo. E se trata de um trabalho a conta-gotas: ao contrário do que ocorre com os estúdios, que distribuem suas películas no mundo todo, a venda de produções menores é feita território a território.
Calvino veio ao Brasil inicialmente para montar a filial da famosa escola de cinema de Cuba em Campos dos Goytacazes (RJ). “Era uma coisa linda, instalada em um antigo convento do século 17″, lembra ele. Mas aí veio a eleição, o governo trocou de mãos e o projeto foi abandonado. Então ele se dedicou ao ramo da distribuição, primeiro no México e agora no Brasil.
Quais clientes a Habanero busca em festivais? O leque é grande: redes de cinema, distribuidoras locais, streamings, redes de TV e companhias aéreas – ou seja, qualquer oportunidade para exibir um filme.
Nichos de negócios
Dono de uma pequeno negócio, Calvino trabalha com nichos. E dois que ele têm explorado são os filmes LGBT+ e as histórias de passagem para a vida adulta. El Apego, filme argentino que se encaixa na primeira dessas categorias, tem estreia marcada para os EUA em 2023, segundo o empresário.
Enquanto a Habanero busca nichos específicos, o “mercadão” da Ventana Sur – uma parceria com o Marché du Film, do Festival de Cannes – também abriga empresas maiores, como a americana CMG (Cinema Management Group). Conhecida por filmes de gênero estrelados por atores longe da melhor fase – como Mickey Rourke –, a companhia tem buscado também filmes estrangeiros e animações com potencial comercial, diz Florencia Gasparini Rey, agente de vendas da CMG.
Seguindo essa lógica, escolheu duas produções brasileiras para representar. Uma é O Rio do Desejo, adaptado do livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum, e dirigido por Sérgio Machado, e (Cidade Baixa) –, que a executiva classifica como uma história de locações exóticas e ritmo de thriller. A outra aposta é a animação A Arca de Noé, também dirigida por Machado e com as vozes de Rodrigo Santoro e Alice Braga.
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