O álbum “Tábua de Esmeralda”, que Jorge Ben Jor lançou em 1974, é um marco da MPB. Foi ali que seu característico violão sincopado se misturou com filosofia medieval e alquimia para se tornar uma referência de musicalidade moderna intrinsicamente brasileira e ao mesmo tempo internacional. A partir de hoje os fãs podem voltar a escutar “Os Alquimistas Estão Chegando” — uma das principais faixas daquele disco — regravada em estúdio, pela primeira vez, com os acordes eletrificados da guitarra de Ben Jor. O músico foi convidado pelo Itaú Unibanco como parte do projeto que se conecta à campanha de 100 anos do banco, iniciada em 2023.
A nova versão já está disponível no Spotify, parceiro do banco na iniciativa. O Itaú também divulga nesta quarta-feira, 26, um teaser de 30 segundos de um making off, gravado em Paris e com cenas de Ben Jor no estúdio. Amanhã, o vídeo completo de três minutos estará nos canais da marca. Será também o primeiro lançamento de um clipe na plataforma de streaming.
Com concepção da Africa Creative, a ideia foi levá-lo de volta à casa de Flamel, que o Ben Jor visitou em Paris, em 1973, junto de Gilberto Gil. A jornalista Kamille Viola conta no livro “África Brasil: Um Dia Jorge Ben Voou para Toda a Gente Ver” (Edições Sesc) que os músicos andaram pelos corredores de um restaurante próximo à catedral de Notre Dame onde o alquimista Nicolas Flamel havia morado no século 15. Esse passeio teve revelações sobrenaturais e inspirou faixas como “Os Alquimistas Estão Chegando” e “O Namorado da Viúva”, que seriam gravadas poucos meses depois em “Tábua de Esmeralda”.
“Jorge é um artista que tem o reconhecimento do mercado, é requisitado, é muito querido e admirado pelo meio musical, sendo referência em tantos gêneros e gerações, aqui e lá fora”, diz Kamille Viola. “Mas ele ainda não está no cânone da música brasileira e ele merece ocupar esse lugar. Sua contribuição não para aí, ele é muito grande para a cultura em geral. Então essa homenagem é muito pertinente.”
Thaiza Akemi, superintendente de comunicação e conteúdo do Itaú Unibanco, exalta a importância de Ben Jor como um patrimônio cultural brasileiro. “Um artista capaz de transformar o cotidiano em poesia, que faz tudo com alma, dedicação e criatividade. É exatamente isso que queremos transmitir: proximidade, leveza, arte…“, diz a executiva ao Estadão. “É natural que o Itaú esteja perto e faça esses acenos culturais. Este, assim como o que fizemos com Madonna, Fernanda Montenegro e tudo o que faremos com Fernanda Torres, são movimentos complementares de uma marca que sabe a hora de falar com o mundo e a hora de se conectar verdadeiramente com sua própria casa.”
Angerson Vieira, co-CCO da Africa Creative, afirma que foi especial retornar ao lugar que inspirou a gravação original. “Estivemos lá, junto com ele, e revisitamos um marco icônico da música brasileira. É algo significativo para todos os envolvidos e para a celebração do legado de Jorge. E este é o primeiro clipe lançado no Spotify, o que pode representar uma mudança no hábito de consumo de entretenimento.” A produção de áudio foi assinada pela S de Samba.
Por meio de comunicado, Ben Jor convidou as novas gerações a “mergulharem na sonoridade brasileira” por meio da regravação: “A música tem um poder de transformação que atravessa o tempo e nos conecta de maneira especial”. A versão conserva a atmosfera lúdica, as flautas fraseadas, o coro e os melismas vocais de Ben Jor. Além da guitarra, o compositor acrescenta a “calcinação” entre “a trituração, a fixação, a destilação e a coagulação” da primeira gravação, provando que, afinal, as regras não são assim tão herméticas.
