Discussão não se ganha. No melhor cenário, todos ganham. Alternativamente, todos perdem. Esta poderia ser uma peça para que a engrenagem das reformas das grandes questões que travam a nossa economia, a nossa sociedade, pudesse voltar a funcionar. Hoje assistimos a diversos encontros qualificados como debates. Curiosamente, não poderiam estar mais longe do substantivo que tomam emprestado, por não oferecerem nada de muito substantivo em troca. Não é preciso muito tempo para concluir que há diversos problemas no Brasil. Questões que nós caprichosamente temos evitado ao longo de várias décadas. Quando há bonança, fica fácil empurrar com a barriga. O problema é quando ela se esvazia. Há, sem dúvida, diversas questões de cunho social, econômico e político a serem deliberadas. A conversa poderia ser de trás para frente: o que queremos? O que teremos que deixar em troca? Não dá para ter tudo. É a vida. E ela é feita de escolhas. Todavia, para poder escolher, é preciso conhecer as opções e, principalmente, as opiniões. E é aí que a coisa fica feia. Desqualifica-se o adversário, não os seus argumentos. A pessoa é atacada, as propostas, postas de lado. Discípulos da 'arte de ter razão' de Schopenhauer buscam ser percebidos como certos, utilizando qualquer método. Entre um axioma e outro, vale tudo. Tirar o adversário 'do eixo', principalmente. Aliás, faz sentido utilizar essa expressão, adversário, em um debate? Precisamos de mais vontade e menos representação. Como poder criar propostas se elas mal podem ser enunciadas? Patrulha-se ideologicamente. E aqueles que outrora poderiam catalisar a insatisfação e materializá-la em mudança, calam-se, cansados não dos debates (estes, no seu sentido verdadeiro, sempre motivo de estímulo e não desestímulo), mas do peso atrelado à exposição. Há quem diga que perguntar não ofende. Será? O momento é delicado. O advento das mídias sociais que inflamam e propagam a intolerância dá o tom dessa dinâmica. É claro que o espaço para os debates transcende comentários em posts e curtidas às vezes desinteressadas. Mas é justamente nos locais onde o pensamento deveria fluir livre, onde as ideias - o que realmente importa no final das contas - poderiam circular sem restrições, para ganharem corpo e a rua, ou para adormecerem até que estivessem prontas (ou que nós estivéssemos prontos), que elas já nascem mortas. Marco Aurélio Nogueira me disse uma vez, respondendo a um comentário que fiz em um de seus textos, que não há reformas sem reformadores. Será que essa escassez não é fruto da forma como conduzimos o embate, digo, o debate? Por que será que o 'outro' incomoda tanto? Por um mundo com mais debates e menos embates.* João Ricardo Costa Filho é professor da Faculdade de Economia da FAAP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.