Fotos, publicidade de época, camisetas e autógrafos de jogadores da seleção brasileira de futebol ficaram quase uma década trancados num galpão de 2 mil m² no Belém, zona leste de São Paulo. No prédio funcionou a Athleta, fabricante das camisas oficiais da seleção de 1954 a 1974. O endereço não corresponde mais à sede da empresa, mas tudo ali está intacto - um pouco empoeirado, é verdade. Entre máquinas antigas de confecção, painéis e mesas de corte, há um acervo fotográfico histórico inédito, aberto especialmente para o Estado na semana passada. Parte da história da fábrica, que se confunde com a da seleção brasileira, começa a vir à tona agora, quando a Athleta ressurge no mercado pelas mãos do Grupo TBC. A volta foi marcada pelo lançamento da série limitada de camisas dos campeões, no mês passado. São 31 modelos, réplicas das originais usadas pelos jogadores das seleções de 1958, 62 e 70. Cada uma é acompanhada de uma etiqueta com a história do jogador que a defendia (R$ 1.050). Outros artigos chegam ao mercado no próximo ano. E há planos para que o antigo endereço da fábrica vire um memorial do futebol. As grandes estrelas estão lá retratadas. Rivelino, Garrincha, Jairzinho, Gerson e Tostão são personagens frequentes, mas Pelé foi o mais fotografado. "As camisetas da seleção, assim como toda a roupa para os treinos, eram doadas pela fábrica", diz Antonio Bulgarelli, neto de Antonio de Oliveira, que fundou a empresa, em 1935. "Ainda não existia o marketing esportivo. O nome da nossa empresa nunca aparecia, mas os jogadores acabavam posando para fotos de nossas embalagens." Pelé era um deles. E fazia isso sem cobrar. A fábrica do Belém virou, entre os anos 50 e 70, ponto de encontro dos jogadores. O fundador, Oliveira, foi diretor da Portuguesa e seu filho, Giuseppe, conselheiro do Corinthians - clubes localizados nas redondezas do antigo endereço da Athleta. "Tudo começou com o Corinthians", conta Bulgarelli. "Durante um treino, nos anos 60, meu pai pensou que se os jogadores vestissem uniforme o time ficaria mais organizado. Então, ofereceu as camisetas de treino, as primeiras da história do clube." Depois vieram outros times. Na década de 70, 25 clubes recebiam gratuitamente os uniformes. "Quando os jogadores de outros Estados vinham a São Paulo, passavam na fábrica para almoçar e encontrar amigos. Era o caso do Gérson, jogador do Botafogo e depois da seleção brasileira de 70, ao lado de Pelé e de Carlos Alberto Torres." Nas paredes da fábrica ainda há alguns autógrafos. Bulgarelli pretende se juntar a outras marcas, como a Adidas, para contar a história da seleção até os dias de hoje. "Todas as marcas nacionais passaram a doar material para os clubes." Muito diferente dos atuais produtos esportivos, as camisetas dos jogadores eram de puro algodão, depois passaram a ter composição mista com poliéster até que, na década de 80, ganharam estrutura 100% sintética. "Os jogadores usavam uma regata por baixo para absorver o suor. Não havia o dry fit", diz Bulgarelli. Outra diferença está nos números estampados nas costas. No início, eram bordados artesanalmente - com ponto cheio. No térreo do prédio do Belém ainda há um máquina listadora circular, em que eram feitas as camisetas do Flamengo e do São Paulo. "A ideia é ter um museu com cinema. No primeiro andar, pretendo criar uma ala para crianças, que poderão confeccionar uma camiseta e depois levá-la para casa", conta Bulgarelli.
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