Guia: Quais as reais chances de guerra após o ataque dos EUA contra o general iraniano?

Ainda é incerto a que ponto esse ataque, que se deu após semanas de escaladas bruscas entre os dois países, levará

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Por Max Fisher
Atualização:

Nas horas seguintes ao ataque do drone americano que matou o mais importante líder militar do Irã, o general Qassim Suleimani, uma pergunta tem dominado as discussões no Oriente Médio, no Congresso americano e nas redes sociais. O ato pode levar a uma guerra entre Estados Unidos e Irã?

General da Guarda Revolucionária do Irã Qasem Soleimani emmarcha decelebração ao aniversário da Revolução Islâmica. Foto: Ebrahim Noroozi/ AP

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Em certo sentido, já há. O assassinato de Suleimani, comandante da Força Revolucionária do Irã, uma unidade de segurança e inteligência de elite, bate com qualquer definição de ato de guerra, uma diferença categórica dos conflitos que EUA e Irã têm travado ao longo dos anos. Aos olhos iranianos, é algo semelhante a Teerã ordenar a morte do comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA.

No entanto, ainda é incerto a que ponto esse ataque, que se deu após semanas de escaladas bruscas entre os dois países, levará.

A seguir, um guia para entender os riscos de um conflito maior entre os Estados Unidos e Irã, como o assassinato de Suleimani afeta esses riscos e o que pode vir a seguir.

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O ataque aumenta os riscos de conflito?

A morte de Suleimani praticamente obriga o Irã a retaliar, segundo o que diz a maioria dos analistas. Isso se deve não ao orgulho nacional ou à preservação da imagem, mas ao impulso fundamental de qualquer estado: a autopreservação, o que inclui a preservação de suas liderançaa.

Matar um líder desses é mais do que um tapa na cara ou um golpe nas capacidades militares, é uma ameaça ao funcionamento do próprio estado. O Irã se sentirá compelido a retaliar apenas para demonstrar que matar seus líderes desencadeará contra-ataques terríveis o suficiente para impedir que os Estados Unidos o façam novamente. Mas é difícil prever a gravidade dessa retaliação, o que lança uma nuvem de incerteza sobre a região.

O Irã tem um dilema à frente. Provavelmente, o objetivo será dar respostas duras o suficiente para convencer os Estados Unidos de que matar Suleimani não valeu a pena - um desafio grande, dada a força militar muito superior dos EUA - mas não tão prejudiciais a ponto de desencadear um conflito total. Se o Irã for bem-sucedido, os resultados poderão ser caros para os Estados Unidos e seus aliados, mas deixarão de gerar uma guerra direta. Mas não há como saber com certeza quais ações atingiriam os dois objetivos. E o erro de cálculo pode levar as coisas a sair do controle.

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O mês passado sugere que os Estados Unidos e o Irã já estão falhando em calibrar adequadamente seus contra-ataques. Cada ciclo de escalada, em vez de forçar o outro lado a recuar, levou o outro a acelerar, desencadeando outra rodada mais cara que a anterior. De certo modo, os dois lados já perderam o controle: não é como se os Estados Unidos quisessem que sua embaixada em Bagdá fosse invadida ou o Irã quisesse que seu comandante da Força Revolucionária fosse morto.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: Drew Angerer/Getty Images/AFP

 A escalada de violência é inevitável?

Outra dinâmica torna esse ciclo ainda mais difícil de controlar: às vezes as intenções americanas não são claras. Declarações oficiais descreveram objetivos limitados, como dissuadir ataques iranianos. Mas as autoridades também descreveram objetivos mais amplos, como expulsar o Irã da região ou até derrubar seu governo. A incerteza, juntamente com o simples fato do poderio militar dos EUA ser esmagador, pressiona os líderes iranianos a planejar o pior. E isso dificulta que eles saibam quando podem recuar com segurança.

Diante de uma ameaça existente, qualquer estado tem duas opções: desistir e negociar ou atingir a fonte dessa ameaça com força suficiente para fazê-la recuar. O Irã decidiu fechar um acordo mais recentemente em 2015, quando, para aliviar as sanções econômicas lideradas pelos EUA, entregou a maior parte de seu programa nuclear e permitiu inspeções invasivas. Mas os EUA, à época, tornaram isso mais fácil, procurando demonstrar que o Irã não se exporia a ameaças, restringindo seu programa nuclear. As negociações que duraram meses permitiram que os líderes iranianos se sentissem confiantes de que os termos eram do seu interesse e tinham amplo apoio internacional. Mas a propensão do presidente Donald Trump a fazer mudanças políticas repentinas, desprezando o apoio internacional e retirando-se de acordos, incluindo esse acordo nuclear, pode mudar o cálculo do Irã. Pode fazê-lo a enxergar jogos de retaliação como a opção mais segura.

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Como se daria a ofensiva?

O Irã é uma potência regional com capacidades militares muito mais sofisticadas do que qualquer país com o qual os Estados Unidos entraram em conflito desde a Segunda Guerra Mundial. É muito diferente do Iraque em ruínas de Saddam Hussein ou dos exércitos de irregularidades do norte do Vietnã. É sabido também que o Irã investiu se preparou por anos para enfrentar uma possível guerra

As ofensivas do Irã devem ser assimétricas, o que significa usar pequenos grupos de ataque contra forças, aliados ou interesses econômicos americanos. O Irã também pode atacar civis. Os adversários dos EUA tiveram pouco sucesso no uso de ataques desta natureza, assim como os Estados Unidos nunca encontraram uma estratégia confiável para impedir ataques assimétricos

O maior risco pode ser que a guerra iraniana assimétrica chegue a um ponto em que os Estados Unidos se sintam compelidos a atacar o Irã diretamente. Os analistas temem que isso possa levar a uma guerra direta, mas ninguém sabe dizer com certeza com que facilidade isso pode acontecer. O Irã dificilmente poderia vencer uma guerra com os Estados Unidos, mas suas forças convencionais tornariam qualquer embate terrestre algo caro e prolongado, projetam analistas. O Irã também possui extensos mísseis de médio alcance, que podem atingir bases ou aliados dos EUA em todo o Oriente Médio

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Um conflito poderia se expandir pela região?

O Irã poderia convocar milícias no Líbano, Iêmen, Iraque e Síria. Entretanto, nenhum desses países está interessado a se juntar ao vizinho em uma guerra direta. É certo também que aliados dos EUA na região - Israel e Arábia Saudita, por exemplo - dificilmente se uniriamem uma ofensiva, a menos que sejam provocados por ataques iranianos

O Iraque está sob crescente pressão para escolher entre os Estados Unidos e o Irã. Caso as forças americanas fossem expulsas, Washington perderia um ponto de influência significativa no país, provavelmente concedendo ao Irã maior ascesdência sobre o país

Embora seja impossível descartar a possibilidade de um conflito mundial, qualquer das hipóteses que têm tomado as redes sociais são exageradas. Rússia e China podem se opor vigorosamente aos ataques dos EUA, mas a possiblidade de entrar em um conflito do lado contrário é a mesma de quando os Estados Unidos invadiram o Iraque ou ajudaram a derrubar o governo da Líbia.

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Os dois lados estão prontos para o que vem a seguir?

A súbita ofensiva traz uma dificuldade a mais para analisar o quanto o governo Trump pensou e planejou as possíveis consequências. Os primeiros sinais sugerem que a impulsividade,marca registrada do republicano, pode ter se sobressaído. Não está claro se os aliados europeus foram previamente notificados. Até os líderes israelenses pareciam não saber de nada.

A disposição do Irã de promover ações arriscadas - talvez motivadas pela percepção de que as ameaças dos EUA não a deixam o país com outra opção - aumenta o perigo para todos os lados.As maiores apostas não são puramente políticas. Pode ser fácil para os americanos esquecerem que o Irã não é apenas um adversário, mas também é o lar de mais de 80 milhões de civis, muitos dos quais já sofrem sanções. Outros milhões em todo o Oriente Médio, onde provavelmente haverá conflitos paralelos, também estariam em risco. Os encargos de qualquer conflito provavelmente cairão esmagadoramente sobre essas famílias comuns, como sempre acontece.

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