Telemedicina aumenta acesso a serviço de saúde

Atendimento por vídeo evita que paciente se exponha saindo de casa na pandemia

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Na pandemia, o acesso à saúde ganhou novas definições graças à conexão digital entre médicos e pacientes. Para responder à necessidade de isolamento, as teleconsultas foram autorizadas em caráter extraordinário. Apesar de ter limites, a modalidade se mostrou eficiente e garantiu que milhares de pessoas fossem atendidas em segurança. Mas modalidades dentro do guarda-chuva da telemedicina já vinham sendo praticadas.

Vínculo entre paciente e médico é fundamental mesmo no atendimento remoto Foto: Arte de Alessandro Gil sobre foto de Werther Santana/Estadão

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Desde 2018, a SulAmérica tinha um sistema de teleorientação a pacientes. Também aproveitavam as tecnologias para ter uma segunda opinião em casos complicados, com especialistas em lugares diferentes. “O que surgiu agora é a teleconsulta, em que o médico pode pedir exames, prescrever. Mas é parte de um cuidado integrado. Em casos que não podem ser resolvidos, o paciente é encaminhado a uma unidade física por um sistema de fast track e entra direto, sem ficar em esperas”, diz Tereza Veloso, diretora técnica médica e de Relacionamento com Prestadores da SulAmérica.

Com o isolamento, o atendimento a distância foi uma forma de evitar que pacientes fossem a um pronto-socorro para tratar situações que poderiam ser resolvidas de outra forma. “A segurança que as pessoas tinham em ir ao PS em qualquer situação acabou. A telemedicina trouxe a oportunidade de dar um direcionamento assertivo”, afirma Carolina Pampolha, chefe de operações da Docway, startup de telemedicina que já trabalhava com orientação ao telefone.

As tecnologias para atendimento a distância já são conhecidas, mas nunca se havia experimentado condições tão propícias para a telemedicina, diz Jose Solis-Padilla, administrador de Desenvolvimento de Negócios da Mayo Clinic, nos Estados Unidos. “Os planos de saúde agora estão dispostos a pagar por consultas remotas.”

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Adaptações na pediatria do Sabará

Desde 2018, o Hospital Infantil Sabará praticava uma modalidade de telemedicina em que o setor de cardiologia recebia orientações de um hospital parceiro nos Estados Unidos. Com a pandemia, os serviços foram ampliados. “De repente, todos fomos orientados a ficar em casa. Mas as dúvidas permaneciam e as crianças continuaram ficando doentes”, diz Rogério Carballo, gerente de Novos Serviços do Sabará.

A urgência foi o primeiro setor a atender a distância. A iniciativa se expandiu para as consultas com especialistas. Os médicos foram treinados, e as salas, transformadas para incluir a possibilidade de teleconsulta. “No mesmo ambiente, o médico faz tanto o presencial quanto a telemedicina. Dessa forma, muitas crianças portadoras de doenças crônicas puderam manter o acompanhamento.”

Se o modelo se consolidar, as consequências podem ir além de diminuir a espera na emergência, levando atendimento de especialistas a regiões onde não há um disponível. Carballo defende ainda que a telemedicina seja levada para as escolas, como prevenção e promoção de saúde.

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Pronto-Socorro no Sabará por telemedicina durante a pandemia Foto: Hospital Infantil Sabará

Fundamental vínculo com médico

Embora dependendo de regulamentação definitiva – o Conselho Federal de Medicina (CFM) prepara uma ainda para este ano –, ninguém questiona as vantagens da telemedicina. Mas, para que seja realmente um avanço na promoção da saúde da população, o tema exige cuidados. Um deles é manter o vínculo de confiança, defende Donizetti Dimer Giamberardino Filho, vice-presidente do CFM.  “O principal valor da medicina é a relação entre médico e pacientes”, diz.

Segundo ele, o texto do CFM deve recomendar sempre uma primeira consulta presencial, ou modelo híbrido com uma teleconsulta seguida de uma consulta presencial poucos dias depois. Dessa forma, a continuidade do tratamento de pacientes que já tenham diagnóstico ou o monitoramento de doentes crônicos pode ser feito à distância com mais eficiência.

As novas regras devem ainda valorizar a autonomia do paciente, para que ele possa decidir se quer teleconsulta ou presencial. O médico também deve ter autonomia para dizer em que situações um exame físico presencial é imprescindível. “O médico continua responsável pelos seus atos, da mesma forma que no presencial”, ressalta o representante do CFM.

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Para os provedores da saúde, precisa ser cobrada atenção com a segurança dos dados, para garantir o sigilo. Outra discussão é o preço pago por teleconsulta. Atualmente, a maioria dos planos de saúde paga menos nessa modalidade. “O ato médico é igual, mas há outros pontos que compõem o cálculo”, explica Tereza Veloso, diretora da SulAmérica, citando custos com locação do espaço e secretária. Mas ela reconhece que a diferença de remuneração pode ser revista nos próximos meses.

Tipos de telemedicina disponveís

Existem diversos tipos de serviços e procedimentos de telemedicina. Conheça abaixo:

Teleconsulta: É uma consulta feita a distância, que pode ter pedido de exames e prescrições de medicamentos.

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Teleorientação: Médico faz recomendações, tira dúvidas, mas não pede exames, nem prescreve remédios.

Telemonitoramento: Quem tem doenças crônicas pode ser acompanhado a distância, caso de diabéticos.

Interconsulta: Há médicos nas duas pontas: um com o paciente; outro distante. Serve para uma segunda opinião ou acesso a um especialista

Cirurgia robótica: O médico opera um braço robótico que realiza a cirurgia e pode estar longe

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Telediagnósticos: Análise e laudos de exames de imagem ou eletrocardiogramas, por exemplo, são feitos por especialistas em outros lugares

Teletriagem: Um serviço central colhe informações disponíveis para encaminhar o paciente para o local certo, como o que faz atualmente o Samu

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