O ano de 2024 será o mais quente já registrado na história da humanidade e o primeiro a ultrapassar o limite de aquecimento de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris, em 2015, segundo o Observatório Copernicus. Esse número não é aleatório. É o quanto o mundo pode aquecer até o fim deste século em relação ao período pré-industrial de modo a evitar os efeitos mais catastróficos das mudanças do clima.
Depois de 2023 alcançar o recorde de temperatura média de 14,98°C, e 1,48°C acima do limite do Acordo de Paris, não há mais dúvida entre os cientistas do observatório da União Europeia de que a marca será superada. Ao contrário: após o mês passado ser o segundo novembro com as temperaturas mais altas da série, “há certeza de que 2024 será o ano mais quente”, disse o relatório do Copernicus.
A superação de recordes em série já ameaça o presente. Os números revelam um cenário alarmante, em que pesem os reiterados avisos de estudiosos sobre a necessidade de medidas concretas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Hoje o mundo assiste a uma sucessão de tufões na Ásia e de secas severas na África Austral e na Amazônia.
Eis um problema que atinge o Brasil diretamente e o chama a assumir suas responsabilidades, além da retórica, na colaboração efetiva para a redução da temperatura do planeta. Foi a seca que gerou as condições para a recente disseminação de incêndios pelo País, associada à inépcia do governo Lula da Silva ao enfrentá-los.
Mas nem tudo está perdido. De acordo com especialistas, o recorde de calor em 2024 não representa a irreversibilidade da meta do Acordo de Paris. Segundo um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), ainda é possível atingir essa marca, embora a tarefa venha se tornando cada vez mais difícil.
O documento destacou a importância do engajamento do G-20, o clube dos países com as maiores economias do mundo, para que as emissões sejam reduzidas. Na Conferência do Clima (COP-29), em Baku, no Azerbaijão, ficou decidido que as nações mais ricas destinarão US$ 300 bilhões por ano até 2035 para que os mais pobres enfrentem as mudanças do clima. Um passo importante foi dado, apesar das lamúrias de ambientalistas.
No encontro dos líderes do G-20 realizado no Rio de Janeiro, o presidente Lula da Silva disse que a COP-30, em Belém, em 2025, é a “última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático”. Os desafios são imensos, de fato. A começar por colocar a casa em ordem, promover uma política ambiental além do discurso e cumprir com rigor as metas de redução de gases de efeito estufa com as quais o Brasil se comprometeu.
Do ambiente externo, a crise do multilateralismo, a volta do negacionista Donald Trump à Casa Branca e uma Europa sob constante ameaça de uma extrema direita avessa à pauta ambiental representam mais dificuldades para a Cúpula do Clima de Belém. Lula da Silva e seu governo terão muito trabalho diplomático se estiverem de fato interessados em posicionar o Brasil na vanguarda do clima.